A campanha mais triste do mês!

Sabe aquelas campanhas que sempre rolam nas redes sociais em que alguma pessoa posta uma foto de um certo jeito, coloca uma hashtag e depois desafia os amigos para fazer a mesma coisa?
Pois é, a desse mês  não é nada mais nada menos que uma campanha “pró-vida”#SouContraOAborto/#DigaNãoAoAborto/#AbortoNão. Que é basicamente assim:
Uma mulher que estava/está grávida posta uma foto da barriga, escreve alguma frase linda, [em sua maioria relacionadas a Deus] colocam essas hashtags e desafiam as amigas que também são mães a fazê-lo.
Como se não bastasse esse “desafio”; o pior é ver os discursos de ódio que o segue.
Vão desde “Ninguém mandou ter filho, agora aguenta” ao “Se morreu porque foi fazer aborto, bem feito!”
Faz-se saber que a mulher tem direito ao aborto legal em três casos:

Por  no Discutindo Feminismo

  1. Quando a gravidez é decorrente de estupro (relação sexual não consentida).
  2. Quando a risco de morte para a mãe.
  3. Quando o feto é anencéfalo (não possui cérebro).

E quando a mulher decide fazê-lo, pode realizá-los pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Como se não bastasse essa campanha tosca, no dia 05/02, o presidente da Câmara Eduardo Cunha em entrevista ao jornal Estadão deu a seguinte declaração:”Aborto só vai a votação se passar pelo meu cadáver!”
Quando eu li essa declaração defecada por esse asno, pensei:
“-Claro, porque os cadáveres das mais de 200.000 mulheres [em sua maioria pobres] que morrem todos os anos por abortos clandestinos não são nada!”
Isso mesmo, por ano , 1 milhão de abortos são realizados no Brasil, 220 mil deles levam a infecções graves e perfurações no útero, entre outras complicações e consequentemente, a morte dessas mulheres. O que nos leva a conclusão que todas nós conhecemos/convivemos com alguém que já fez um aborto.

  A lei para o aborto já existe! Só queremos a descriminalização para todos os outros casos.
Porque  as mulheres que precisam abortar, vão abortar!
Digo “precisam”, pois precisam mesmo! Afinal, elas sofrem bastante antes, durante e depois desses processos.  Eu, pessoalmente nunca conheci uma mulher que engravidou para praticar um aborto. Abortam porque elas só vêem essa saída.
E os motivos são inúmeros! Citarei alguns:
  • Homem que “abortou” o feto e a mulher primeiro.
  • Falta de estrutura familiar/financeira/emocional
  • Falha de métodos contraceptivos
  • Falta de informação sobre métodos contraceptivos
  •  Gravidez indesejada
  • Entre outros

Mas independente do motivo, não cabe a nós decidir sobre o corpo, a vida e o futuro dessas mulheres!

Eu não sou favorável ao aborto. Eu sou a favor da descriminalização dele! Isso são coisas completamente diferentes e precisamos saber a diferença entre os dois!
Vamos ao dicionário:
Favorável: adj.m. e adj.f. Que está a favor de; que auxilia ou providencia apoio a; propício ou conveniente.

Descriminalização: s.f. Ação de revogar a criminalidade de um fato; ação de fazer com que alguma coisa deixe de ser um crime.
E por que ser a favor dela?
Simples! Por uma questão de humanidade!
Ser a favor da descriminalização do aborto é ser a favor da vida!
Eu vejo e ouço muitas pessoas usarem Deus e /ou religião como “argumento”.
Para essas pessoas, eis aqui uns dados.
O mapa 1(abaixo) mostra as religiões do mundo e em que países se encontram:
mundo_religi_o
Com esse mapa podemos perceber que quase todo mundo tem alguma religião.
Porém, eis aqui mais alguns mapas (2 e 3) no qual mostram onde são praticados os abortos.
aborto mundo 1
Legenda: VERMELHO – Aborto proibido totalmente ou permitido em caso de estupro ou para salvar a vida da mulher (69 países, 25,9% da população mundial)
MARROM – Aborto permitido nos casos anteriores e para preservar a saúde física da mulher (34 países, 9,4% da população)
AMARELO – Aborto permitido também nos casos em que a gravidez provoca abalo emocional para a mulher (23 países, 4,1% da população)
AZUL – Aborto permitido também por razões socioeconômicas, quando a mulher alega falta de recursos financeiros (14 países, 21,3% da população)
VERDE – Aborto permitido sem nenhuma restrição (56 países, 39,3% da população)
aborto mundo 2
Eis aqui todos esses países:
Países onde o aborto é totalmente proibido:
Andorra, Angola, Chile, Congo, Egito, Haiti, Somália, Honduras, Micronésia, Nicarágua, Omã, Palau, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, El Salvador, República Dominicana, Filipinas, San Marino, Gabão, São Tomé e Príncipe, Senegal, Guiné-Bissau, Iraque, Suriname, Síria, Laos, Lesoto, Tonga, Madagascar, Malta, Ilhas Marshall, Mauritânia e Maurício.
Países onde é permitido apenas nos casos em que a vida da mulher está em risco:
Brasil, México, Panamá, Guatemala, Afeganistão, Antigua e Barbuda, Butão, Nigéria, Mianmar (Birmânia), Papua-Nova Guiné, Paraguai, Sudão, Ilhas Salomão, Costa do Marfim, Dominica, Irã, Quênia, Quiribati, Tanzânia, Timor-Leste, Líbia, Faixa de Gaza e Cisjordânia, Venezuela, Malauí, Mali, Líbano, Emirados Árabes Unidos, Tuvalu, Uganda, Iêmen, Irlanda, Bangladesh, Brunei, Indonésia e Sri Lanka.
Países que permitem para preservar a saúde física:
Argentina, Bahamas, Benim, Bolívia, Burquina Fasso, Burundi, Camarões, Chade, Comores, Costa Rica, Equador, Guiné Equatorial, Djibouti, Eritreia, Etiópia, Grenada, Guiné, Jordânia, Kuwait, Liechtenstein, República das Maldivas, Marrocos, Mônaco, Moçambique, Nigéria, Paquistão, Peru, Polônia, Catar, Arábia Saudita, Coreia do Sul, Ruanda, Uruguai, Togo, Vanuatu e Zimbábue.
Países que permitem para preservar a saúde mental ou nos casos em que a saúde da gestante está prejudicada:
Colômbia, China, Espanha, Serra Leoa, Suíça, Tailândia, Trinidad e Tobago, Argélia, Botsuana, Gâmbia, Gana, Hong Kong, Israel, Jamaica, Libéria, Malásia, Namíbia, Nauru, Nova Zelândia, Irlanda do Norte, Samoa, São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia e Seicheles.
Países onde é permitido nos casos em que a saúde física ou mental estão comprometidas e por critérios econômicos:
Austrália, Barbados, Belize, Chipre, Fiji, Finlândia, Índia, Japão, Luxemburgo, Taiwan, Grã-Bretanha e São Vicente e Granadinas.
Países em que é permitido sem restrição:
Albânia, Armênia, Estados Unidos, Áustria, Azerbaijão, Bielorrússia, Bósnia, Canadá, Cuba, Cabo Verde, Bahrain, China, Croácia, Bélgica, Bulgária, Camboja, Coreia do Norte, França, Estônia, Macedônia, Dinamarca, Alemanha, Hungria, Itália, Grécia, Geórgia, Guiana, Vietnã, Ex-República Iugoslava, Quirguistão, Lituânia, Mongólia, Latvia, Montenegro, Nepal, Países Baixos, Portugal, Porto Rico, Noruega, Rússia, Sérvia, Romênia, República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Cingapura, África do Sul, Suíça, Tunísia, Turquia, Turcomenistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Ucrânia, Suécia.
(fonte- em inglês)
Então, partindo do princípio de que Deus ou religiões são contra o aborto, pergunto:
Por que em todos esses países o aborto é legal, uma vez que 90% do mundo possui alguma religião?
Vamos focalizar as perspectivas religiosas e abortos realizados em nosso país.
“-Mas Jéssica, o que acontece se o aborto for legal no nosso país?”
Já já vocês descobri a resposta!
Primeiro peço para observarem essas quatro imagens:
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tabela 1
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Como podemos ver,a maioria das mulheres que praticaram algum aborto são mães, casadas,cristãs e maiores de 24 anos.
  São nossas amigas, nossas mães, irmãs, primas, tias, avós…

Então eu respondo:Se o aborto for descriminalizado em nosso país apenas os fetos morrerão!

Digo apenas, pois junto com eles não irão essas 220 mil mulheres que morrem todos os anos!
“-Mas Jéssica, já é uma vida, tem um coração batendo! Eles sentem dor igual a nós!”
Lamento informar, mas essa afirmação é FALSA!
E coração bater não é argumento válido. Se fosse, não seria possível o desligamento dos aparelhos de pessoas diagnosticadas com morte cerebral.
 Como vocês sabem, sou mãe de dois meninos[pelo menos pelo gênero de nascimento] e sofri bastante nas minhas 2 gravidez. Do mais velho, fui mãe solteira. Primeiro fui diagnosticada com 16 cistos nos ovários, tendo que parar de tomar o meu anticoncepcional. O médico disse que eu nunca engravidaria. A camisinha rompeu e eu engravidei. O doador de esperma [como o chamo] não quis nem saber de mim ou da minha gravidez. Durante os 2 meses que eu tive de gravidez[só soube aos 4 meses que eu estava grávida] tive mais outros diagnósticos. Um deles [e o mais doloroso] foi que eu tinha tido um aborto [o que não foi verdade].  Meu filho nasceu de 26 semanas e ficou meses na UTI. Passei por isso tudo com a ajuda da minha avó e minha mãe.
Do meu filho mais novo, tive o apoio do meu companheiro, e só o apoio dele. Minha família não quis participar de nada [diziam que agora eu estava por minha conta e risco]. Dele eu pensei em fazer um aborto.!
 19 anos, gravidez inesperada [engravidei de primeira], nem tinha terminado o ensino médio, tinha acabado de entrar naquele relacionamento, ele na faculdade, eu já tinha um filho…
Mas sabe o porque não o fiz? Primeiro por coragem. Não teria coragem de fazê-lo! Segundo, por questão financeira. Não teria de onde tirar R$3.000,00 para fazer um aborto mais seguro e terceiro, medo de morrer, deixar meu filho órfão e ser apenas mais uma nas estatísticas.
Nunca escondi isso de ninguém! Enfim, decidi continuar com a gravidez! Descobri que tinha um mioma no útero e que a placenta estava “colada” nele. Senti dores horríveis a gestação inteira. Fiquei internada várias vezes e em TODAS elas sofri violência obstétrica.
Fui violada de diversas formas, tive escolhas, vontades e sonhos tirados de mim.
Mereço um biscoito por ter decidido passar por isso tudo?
 Nós[mulheres] não devemos levar nossa vivência para um julgamento coletivo!

Quando digo que sou mãe e sou a favor da descriminalização do aborto as pessoas logo me perguntam:
“-Mas você teria coragem de abortar um dos seus filhos?” Como disse acima, por falta de coragem, acho que não faria! Mas eu não estou livre disso, não. Muito pelo contrário! Se eu engravidasse hoje, na situação em que me encontro, com toda certeza pensaria a respeito!
Mas o fato de eu ter tido meus filhos, com todos os perrengues que passei [e ainda passo] não me dá o direito de querer impor a uma mulher que não deseja ter um filho, que ela passe pelas mesmas coisas que eu passei ou [possivelmente] coisas piores.
Agora eu pergunto:

 Você,  que se denomina “pró-vida”, defensor da família e dos bons costumes concorda com a morte dessas mães, esposas e mulheres tementes a Deus?
 Você acha realmente que seus princípios fundamentalistas e retrógrados valem a vida dessas 220 mil mulheres todos os anos?
Você acha que a “vida” de um feto de 10 semanas vale a vida de uma mulher e mãe?
Então eu peço. Como mulher, mãe, cristã e como uma pessoa que se importa com o próximo.
Vamos repensar essas coisas! Vamos parar com esses discursos de ódio contra nossas mulheres!
 “Toda mulher deve ter direito à educação sexual, aos métodos contraceptivos e à interrupção segura da gravidez. Gravidez não é destino, é escolha”
#AbortoSeguroSim #DescriminalizaçãoDoAbortoJá #Descriminalização #Aborto #Clandestinas #SomosTodas

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