Sinceramente eu nunca dei para empregada domestica
acho que eu tinha vergonha pelo fato
de eu ter trabalhado tanto nas areas que eu ja citei e
de repente eu ter que me sujeitar a isso ( ) eu dizia
eu não vou lavar o seu quintal porque eu não quero que
meus amigos me vejam
Eles me viram trabalhando nas lojas ( )
Isabel
Por: MARIA APARECIDA SILVA BENTO
Ha decadas a mulher negra vem sendo apontada como aquela que experimenta a maior precanedade no mercado de trabalho brasileiro Entretanto os estudos que aprofundaram a perspectiva de gênero raramente levam em consideração a variavel cor. Frequentemente tais estudos homogeinizam a força de trabalho tratando-a como se o fator racial inexistisse enquanto diferencial de direitos ou como se as especificidades que afetam a mulher negra pudessem ser esgotadas no quadro dos problemas gerais concernentes as mulheres. Não raro os estudos tangenciam a tematica da mulher negra com breves enunciados formais ou referências hlstoricas que apenas confirmam a desimportáncla dada ao tema aqui e acola encontramos um ou outro paragrafo sobre o penado do escravismo ou quando mais generosos ao finalizarem descnções sobre determinados problemas registram a velha maxima ” e nocaso das Mulheres negras essa situação e mais dramatica” Estudos clássicos das relações raciais tais como os de Gilberto Freyre’ e Roger Bastide2 destacaram o papel da mulher negra ora na manutenção ou preservação dos nichos culturais de origem africana ora como sujeito essencial no processo de miscigenação que resultaria segundo estes autores em uma especie de arrefecimento dos conflitos raciais.
Outros autores mais preocupados com a emergência e a expansão do capitalismo industrial e a instauração de uma nova ordem econômico-social como Fernandes3 e lannr, privilegiaram nos estudos sobre relações raciais as articulações entre raça e classe Neste enfoque a mulher negra e vista como sustentaculo da raça uma vez que os homens negros excluidos da nova ordem social por estarem despreparados para assumirem o papel de trabalhadores livres estavam sem condições de manter suas famílias de modo que a mulher negra restou a responsabilidade pela manutenção material da família Ao explorarem a intersecção entre raça e classe estes estudiosos reconheciam as desigualdades raciais no penodo pos abolição no entanto postulavam que o desenvolvimento do capitalismo eliminaria naturalmente a raça como categoria classificatona uma vez que ao se tornarem trabalhadores os negros passariam a ser considerados pela sua posição no processo produtivo e não mais pela sua condição racial
Nas ultimas duas decadas trabalhos de diversos pesquisadores têm evidenciado novas articulações entre raça e classe gestadas na consolidação do capitalismo industrial no Brasil demonstrando que as desigualdades raciais não apenas se mantiveram como tambem recrudesceram em alguns casos a exemplo da Região Sudeste – que registra as mais altas taxas de desenvolvimento econômico
Esse grupo de estudiosos realiza nos anos 80 uma serie de explorações analiticas das relações raciais desagregando as especificidades da trabalhadora negra Com este recorte destacam-se pnncipalmente os trabalhos de Chaia5 Porcaro e Araujo 6 Carneiro e Santos’ Rosemberg 8 e Bairros9
Um marco desta produção encontra se na publicação O Lugardo Negro na Força de Trabalho Oliveira e outras i ° apontam como principais caractensticas da situação da trabalhadora negra 1 remuneração extremamente baixa quando comparada a outros grupos e 2 concentração em determinados setores do mercado e em certas atividades cujos salanos e condições de trabalho são inferiores Nos anos 90 novos estudos são realizados e novos ângulos da situação da trabalhadora negra são explorados atestando que este e o segmento que mais precocemente ingressa no mercado de trabalho e o que mais tempo nele permanece e tambem o segmento que mais investe na escolarização e o que menos retorno tem do aumento de sua qualificação e o que sofre as mais altas taxas de desemprego
Cida Bento – A mulher negra no mercado de trabalho
Fonte: Journal ufsc