Clara Averbuck: ‘Não ter mais medo de ser mulher foi uma grande mudança para mim’

Clara Averbuck, aos 36 anos, é jornalista, blogueira, militante feminista, escritora e ainda é mãe. Ufa.

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Em meio a tantas atribuições, ela ganhou prestígio nas redes sociais por sua antiga coluna na Carta Capital e também por ser uma das fundadoras do site feminista Lugar de Mulher que é um dos espaços mais atuais que fala abertamente sobre feminismo.

Em fevereiro deste ano, a gaúcha lançou seu sétimo livro, Toureando o Diabo, em coautoria com a ilustradora Eva Uviedo.

o-TOUREANDO-O-DIABO-570

O livro conta a história de Camila, alter-ego da autora e foi produzido e lançado de maneira independente, a partir de um processo de financiamento coletivo no Catarse em 2014, que conseguiu ultrapassar a meta estipulada em poucos meses.

O feminismo influenciou a escrita da blogueira, na medida que influenciou todo seu modo de ser, fazendo com que ela entendesse a importância de se posicionar.

Em entrevista ao HuffPost Brasil, Clara afirma que antes de ser feminista é escritora, e antes de ser escritora é mulher. Afirma que o livro é literatura e que ela não se preocupou em fazer “panfletagem” nele.

“A gente não acorda um dia e virou feminista. Foi todo um processo de reconhecimento e desconstrução”, disse.

Com uma proposta diferente, o livro mistura textos e ilustrações, de modo que um não existe sem o outro.

“Foram noites e noites no estúdio dela cortando texto, pensando em desenhos, procurando em bilhetes e cadernos coisas que se encaixassem na narrativa que estávamos criando”, disse.

o-CLARA-E-EVO-570Clara Averbuck e Eva Uviedo

Curiosamente, a protagonista já foi personagem de seu outro livro de Clara, Vida de Gato, de 2004 — no qual ela sofria intensamente por causa de uma desilusão amorosa. Em 2016, contudo, Camila vem mais Madura – e até ajudou a autora a falar sobre abuso no livro.

“Sentimos vergonha por isso, tentamos até ignorar pra não ser tachadas de fracas, de “cheia de mimimi”. Saber que muitas mulheres passam por isso é ao mesmo tempo horrível e um alívio, pois sentimos que não estamos sozinhas, e essa foi uma das minhas intenções com o amadurecimento da Camila.”

o-ESCREVENDO-570Ilustração do Livro Toureando o Diabo

Influências do Feminismo

Clara disse ter começado a se interessar por feminismo por causa de sua autora favorita, Carmen da Silva, que tinha uma coluna na revista Claudia, chamada A arte de ser mulher.

Na coluna, Carmen pautava o feminismo pelas beiradas, de acordo com a blogueira, “já que estava falando com donas de casa dos anos 60 sobre protagonizarem suas próprias vidas em vez de serem coadjuvantes da dos maridos, sobre orgasmo, enfim, sobre questões das mulheres que ninguém nunca tinha tocado”.

O feminismo influenciou a escrita da blogueira, na medida que influenciou todo seu modo de ser, fazendo com que ela entendesse a importância de se posicionar. “A gente não acorda um dia e virou feminista. Foi todo um processo de reconhecimento e desconstrução”, afirma.

A importância da representatividade feminina na literatura é algo que a escritora ressaltou como muitíssimo importante. Antes do feminismo ela contou que tinha uma ânsia por escrever como homem e fugir do papel de “mulherzinha”, já que todas as suas referências literárias eram homens e isso soava natural pra ela — e não naturalizado.

“Agora não tenho mais essa negação pelo feminino que eu tinha no começo. Eu considerava o feminino inferior, mais fraco, ruim; queria escrever como um cara. Não ter mais medo de ser mulher foi uma grande mudança não só na minha literatura, mas em como eu me posiciono na vida. E é por isso que a gente vive falando que representatividade importa.”

Hoje existem mais mulheres escritoras no Brasil do que no início da década mas, infelizmente, elas ainda não são a maioria. O problema que persiste, segundo Clara, é que “você pode ser uma das melhores escritoras, muito melhor que vários caras, mas continua sendo mulher. E uma mulher causa certa ruptura dentro de um círculo de homens, ainda mais se ela não estiver disposta a ser ‘um dos caras'”.

E “ser um dos caras”, de acordo com Clara, é reproduzir comportamentos machistas e competitivos com outras mulheres, de modo a inferiorizá-las. Lutar contra essa tendência é necessário.

Outros projetos

Clara ministra oficinas oficinas de criação literária para mulheres e acabou de lançar o documentário Essa É Minha Vez, da ONG Plan, cujo roteiro é de sua autoria e a direção de Davi Boarato.

Ela também começou uma série em vídeo sobre mulheres MCs na Carta Capital e pretende transformá-la em documentário. “As artistas são incríveis e acabam não tendo muito espaço nem na mídia especializada em Rap”, diz.

Por fim, Clara ainda quer escrever uma continuação do Eu Quero Ser Eu, seu livro de infanto-juvenil, e talvez torná-lo um filme — mas essas ideias ainda não saíram do papel.

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