Primeira ação acontece no Quilombo da Caçandoca, em Ubatuba, nos dias 6 e 7 de dezembro
“Para nós, o recorte racial é fundamental, exatamente para retratarmos a luta de mulheres submetidas a uma tripla exclusão: gênero, raça e classe”,
disse Nina Vieira, designer, fotógrafa e uma das idealizadoras do projeto.”
O Manifesto Crespo, coletivo independente formado em 2011 por jovens mulheres negras e com atuação na área cultural e educacional, atingiu mais de 700 pessoas com o projeto Tecendo e Trançando Arte, em São Paulo. Por meio de oficinas direcionadas para mulheres, incluindo crianças, as educadoras provocam reflexões sobre o cabelo crespo, a história e cultura africana. A partir deste sábado, levarão a iniciativa para comunidades do estado que tenham lideranças femininas, começando pelo Quilombo da Caçandoca, em Ubatuba. A visita acontece nos dias 6 e 7 de dezembro.
enviado por Semayat Oliveira via Guest Post para o Portal Geledés
Definidas em parceria com a União Popular de Mulheres do Campo Limpo, organização localizada em bairro do extremo sul da capital paulista e militante pela emancipação da mulher, relacionando as questões sociais e econômicas, a escolha considerou o perfil de resistência racial, cultural e de gênero, elegendo corpos sociais que tenham mulheres na linha de frente das tomadas de decisões (assista ao vídeo).
“Desde o nascimento do coletivo, atuamos bastante na capital e algumas cidades do interior. Agora, o Tecendo e Trançando Arte recebeu um direcionamento mais específico: fortalecer e nos aproximar de líderes femininas negras e indígenas muito importantes para o nosso trabalho e para a preservação da memória cultural. Para nós, o recorte racial é fundamental, exatamente para retratarmos a luta de mulheres submetidas a uma tripla exclusão: gênero, raça e classe”, disse Nina Vieira, designer, fotógrafa e uma das idealizadoras do projeto.
Além de desenvolver atividades com os moradores, o Manifesto Crespo levará 30 pessoas da capital paulista, a baixo custo, para participarem desta experiência político-cultural. Sem data definida, a aldeia Indígena Tenondé Porã, no bairro de Parelheiros (SP\capital), a Festa de São Benedito, na cidade de Tietê, a Casa de Cultura Afro Fazenda da Roseira, em Campinas, e o Teatro Popular Solano Trindade, em Embu das Artes, serão os alvos durante o primeiro semestre de 2015.
A possibilidade de levar o trabalho para outras regiões surgiu após o coletivo ser contemplado, em 2014, pelo prêmio Lélia Gonzalez – Protagonismo de Organizações de Mulheres Negras, lançado pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM).
Sobre o Manifesto Crespo
O Coletivo Manifesto Crespo é composto pelas educadoras Denna Hill, 31, cantora e psicóloga, Lúcia Udemezue, 29, produtora e socióloga, Nina Vieira, 25, designer e fotógrafa e Thays Quadros, 29, produtora. Com mais de um projeto em andamento, a proposta é focada na discussão sobre como o cabelo crespo pode e deve ser encarado de uma forma criativa, fazendo com que se desmistifique a ideia de que existe cabelo ruim. A partir dessa abordagem, busca reconhecer seu valor e fortalecer a memória e a autoestima de homens e mulheres negros, numa luta pelo resgate de origens – uma vez que o Brasil tem a maior população originária da diáspora africana.
Conheças todos os projetos em http://manifestocrespo.org.
Sobre a União Popular de Mulheres do Campo Limpo
Fundada em 08 de março de 1987, é uma organização social sem fins lucrativos, que tem como objetivo principal a luta pela completa emancipação da mulher, igualdade nas relações de gênero e, ainda, mobilizar, unir e organizar seus associados e associadas para a luta e conseqüente a plenitude de seus direitos sociais, econômicos, políticos, ambientais e culturais.
Sobre o Quilombo da Caçandoca
A comunidade remanescente de quilombo da Caçandoca está localizada no município de Ubatuba, litoral norte do estado de São Paulo. Os remanescentes vivem da pesca, coleta de mariscos, além da produção de bananas – suas principais atividades produtivas. Algumas mulheres quilombolas trabalham em serviços domésticos nas casas de veraneio e em condomínios de luxo dos arredores. Em época de alta temporada, o artesanato contribui para a renda familiar. A presença da mulher negra como pilar para a manutenção da resistência local e na preservação da memória é muito importante: são elas que mantiveram a tradição das roupas, culinária da comunidade e a história oral.