Combate ao feminicídio une mulheres nas eleições, mas aborto divide candidatas

Elas que concorrem a presidente e a vice pregam envolvimento social no enfrentamento à violência de gênero

por Cleide Carvalho / Tiago Aguiar no O Globo

Editoria de Arte / OGlobo

Seis mulheres estão na disputa pelos dois principais cargos do Executivo nestas eleições. São duas candidatas à Presidência e outras quatro a vice — número que pode subir para cinco, caso a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) venha a substituir Fernando Haddad na chapa do PT.

Protagonistas na disputa pelos cargos mais altos da República, nenhuma delas fez sua trajetória política baseada em plataformas feministas. Também acreditam que soluções para os problemas que mais afligem as mulheres, como desigualdades entre os gêneros, dependem do empenho da sociedade, além de medidas governamentais.

O GLOBO apresentou a elas 8 perguntas abordando temas como feminicídio, aborto e discussões sobre gênero nas escolas. As candidatas foram unânimes em afirmar que a violência contra as mulheres só será superada com o envolvimento de toda a sociedade, amparada em programas que incluam não só medidas protetivas, mas debates que propiciem uma mudança de cultura.

— Superar essa situação de barbárie não será por governos ou leis. Precisa ter uma mudança de comportamento da sociedade — afirma a senadora Ana Amélia (PP), vice na chapa com o tucano Geraldo Alckmin.

A presidenciável Marina Silva (Rede) promete intensificar o combate ao feminicídio, em articulação com estados e municípios, com a implantação de medidas do Sistema Único de Segurança Pública e do Plano Nacional de Segurança Pública.

— Mas precisamos tratar de algo mais difícil de transformar, que são conflitos na cultura, nas relações das pessoas. As leis podem permitir ou proibir, mas precisamos ter dentro de nós interditos sociais, culturais, afetivos, que dificultem a sensação de superioridade, dissolvam os preconceitos, desfaçam a intolerância — diz Marina Silva.

LEGALIZAÇÃO POLÊMICA

Sônia Guajajara, vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL), tratou o tema no programa de governo, que inclui um Pacto Nacional contra a Violência e Pela vida das Mulheres, com compromisso de aplicar 1% do PIB para o combate à violência contra a mulher. Ela defende a inclusão no programa e na Lei do Feminicídio de travestis e transexuais.

— Não existe uma bala de prata. A solução depende de um conjunto de ações de políticas públicas. Temos a lei do feminicídio, mas é preciso aprimorar. Em primeiro lugar, acudir quem sofre violência doméstica — defende também Kátia Abreu (PDT), vice de Ciro Gomes.

As divisões entre as candidatas apareceram na questão do aborto. Ligadas a partidos de esquerda — Sônia Guajajara, a presidenciável Vera Lúcia (PSTU) e Manuela D’Ávila — se disseram a favor da legalização do aborto, enquanto candidatas mais vinculadas à direita — as senadoras Ana Amélia (PP) e Kátia Abreu (PDT) — afirmaram que a lei atual, que prevê aborto em caso de estupro e risco de vida para a gestante, é suficiente.

Mesmo depois da entrada de Manuela D’Ávila na aliança do PT, a defesa da legalização do aborto não foi incluída no programa de governo. Manuela é defensora da causa e foi ativa nas redes sociais durante a votação da legalização do aborto no Senado da Argentina.

Fernando Haddad, candidato a vice e coordenador do programa do PT, tem afirmado que o assunto não foi incluído no documento porque o Supremo Tribunal Federal (STF) vai se pronunciar sobre a legalização até o fim do ano. Manuela afirmou que a legalização do aborto ainda está em discussão na chapa e pode vir a ser incluída no programa de governo.

Marina Silva e Suelene Balduíno, vice na chapa do Cabo Daciolo (Patriota), alegaram razões religiosas para se posicionarem contra.

— Sou contra o aborto por convicção moral e por fé. Defendo que, se for para ampliá-lo para além das formas já previstas pela lei, haja um amplo debate na sociedade e que a decisão se dê por meio de um plebiscito — afirmou Marina.

A professora Suelene, vice do Cabo Daciolo (Patriota), que leciona numa pequena escola de Brasília, afirmou ser contra o aborto, “pela vida”.

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