Como a presidência me tornou um pai melhor

Quando você é presidente dos Estados Unidos, vive cercado o tempo todo – por assessores, pela imprensa, pelo Serviço Secreto, por multidões. É uma bolha da qual é difícil escapar.

Do Brasil Post 

Isso torna ainda mais importantes as pessoas de quem você se cerca nos raros momentos de privacidade.

Tenho a sorte, por acaso, de ser cercado por mulheres. Elas são as pessoas mais importantes em minha vida. São as pessoas que mais me moldaram. E, neste cargo, elas são meu refúgio.

Me perguntam com frequência se é mais difícil para mim passar tempo com Michelle e nossas filhas pelo fato de eu ser presidente. Mas a verdade surpreendente é que estarmos na Casa Branca tornou nossa vida familiar mais “normal” do que ela foi em qualquer outra fase de nossas vidas.

Quando Malia nasceu, Michelle e eu tivemos a sorte de passar três meses de alegria em casa com nossa filhinha. Mas então Michelle voltou ao trabalho em regime de tempo parcial e eu retornei à minha vida normal, lecionando na escola de direito da Universidade de Chicago e servindo no Legislativo estadual. Com isso, eu frequentemente ficava em Springfield, longe de casa, por três dias a fio. Mesmo quando estava em casa, em Chicago, tinha trabalhos de alunos a corrigir, causas a redigir e reuniões à noite das quais não podia fugir.

Como profissionais liberais, podíamos contar com coisas como pessoas confiáveis para cuidar de nossas filhas e comida entregue em casa quando estávamos exaustos demais para cozinhar.

Nossos empregos nos proporcionavam uma flexibilidade que não está ao alcance de muitas famílias trabalhadoras. Mesmo assim, tínhamos um caminhão de dívida estudantil cada um a ser saldada, de modo que, quando nos casamos, empobrecemos juntos. Não demoramos a estar contando cada vintém para conseguir pagar as contas da casa, pagar os empréstimos contraídos para pagar a faculdade e manter uma babá em tempo integral. Essas pressões somadas às vezes criavam tensões no nosso casamento, como acontece com muitos pais que trabalham e têm filhos pequenos. Depois de Sasha nascer, Michelle trabalhava e também cuidava da casa. Eu ajudava nos serviços de casa e me considerava um sujeito bastante moderno nesse sentido. Mas a verdade é que eu ajudava do meu jeito e conforme meus horários permitiam, de modo que as expectativas e o peso maior recaíam de modo desproporcional e injusto sobre Michelle, como acontece com muitas mulheres.

Por sorte, contávamos com a ajuda de minha maravilhosa sogra, Marian, que morava a minutos de distância. Mesmo assim, Michelle estava compreensivelmente estressada e frustrada, e desconfio que às vezes se sentisse como se fosse mãe solteira. As coisas não melhoraram quando fui eleito para o Senado e passei a ter que ir e voltar de Washington toda semana. Então nossas vidas descreveram uma reviravolta completa durante uma campanha presidencial que me mantinha quase constantemente na estrada, obrigando Michelle a carregar um peso ainda maior por períodos mais longos.

É por isso que eu digo que Michelle é a pedra fundamental de nossa família, porque ela é. Ela sempre foi.

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Mesmo assim, não sabíamos o que esperar quando me tornei presidente. Sabíamos que eu talvez tivesse ainda menos tempo para dedicar à família. Sabíamos que arrancar Malia e Sasha de seus amigos, sua escola e a comunidade em Chicago não seria fácil. Por isso trouxemos Marian conosco, para facilitar a transição e ficar com as meninas quando Michelle e eu não pudéssemos estar com elas.

Mas, para nosso espanto, a mudança para a Casa Branca nos proporcionou realmente a primeira vez desde que as meninas nasceram em que podemos estar juntos como família quase todas as noites. Michelle e eu podemos ir a reuniões de pais e professores juntos.

Consigo assistir às partidas de tênis de Malia e aos recitais de dança de Sasha. Sasha me deixou ajudar a treinar o time de basquete dela, o Vipers. O time ganhou o título. Cheguei a ter a emoção que mete medo em todos os pais: ver minha filha ir à sua primeira festa de formatura. De salto alto.

Ser pai de filhas adolescentes nem sempre é fácil. Mas morar no andar de cima da “lojinha” é muito bom.

Mesmo com nossos dias lotados de compromissos, Michelle e eu nos esforçamos muito para reservar certos blocos de tempo familiar que são sacrossantos. Por exemplo, às 18h30, por mais que eu esteja ocupado, paro de trabalhar, subo para o primeiro andar e janto com minha família. Isso é sagrado. Meu staff sabe que seria preciso uma emergência nacional para me afastar daquela mesa de jantar. Como sou notívago, prefiro de qualquer maneira ficar acordado até tarde lendo briefings e trabalhando meus discursos depois de todo o mundo ter ido dormir.

Assim, durante mais ou menos uma hora no jantar, volto minha atenção não ao meu dia, mas ao dia delas. Faço a Sasha e Malia as perguntas irritantes que os pais sempre fazem: como foi a escola? O que seus amigos andam fazendo? Fez sua lição de casa? No que você está pensando? Já elas adoram me chamar de orelhudo ou rir dos meus ternos sérios, e Michelle está sempre disposta a entrar na brincadeira.

Minhas filhas já estão numa idade em que são bem informadas, então frequentemente me perguntam sobre questões diversas. Como muitos jovens, por exemplo, elas se interessam profundamente pelo meio ambiente. Como a maioria das pessoas de sua geração, acham natural que as pessoas não sejam tratadas diferentemente por causa de seu gênero, raça, orientação sexual ou qualquer deficiência. Elas têm todas as expectativas de que elas e as jovens como elas possam crescer e tornar-se quem e o que bem entenderem. Para mim, o melhor momento do meu dia é quando as ouço falar do que pensam do mundo e vejo que elas viraram jovens inteligentes, divertidas e gentis. Essa hora diária recarrega minhas baterias e me proporciona perspectiva. E aquelas horas em que posso ser apenas Papai e nada mais, mesmo que seja “Paiêêêê” – não existe nada melhor.

Michelle faz tudo que pode para preservar essa nossa hora familiar, e isso tem feito uma diferença tremenda para nós. Como eu disse, ela é nossa pedra fundamental. Aconteça o que acontecer, sei que elas sempre estarão do meu lado. E eu sempre estarei do lado delas. Hoje em dia as meninas às vezes faltam ao jantar porque estão ocupadas com a escola e outras atividades. E, como muitos pais cujos filhos estão concluindo o ensino médio e estão visitando faculdades para decidir onde estudar, já estou com medo de encarar a cadeira vazia na mesa de jantar quando Malia for para a faculdade, no próximo outono. Posso me sentir demorando um pouco mais para me afastar da mesa, tentando evitar o passar do tempo. Mas, enquanto for possível, vou curtir cada minuto que temos para finalmente ficarmos todos juntos sob o mesmo teto.

A primeira-dama Nancy Reagan escreveu certa vez: “Nada pode preparar você para viver na Casa Branca”. Ela tinha razão, é claro. Nada pode prepará-lo. Mas sua família pode ser seu esteio.

Este post foi publicado originalmente no More.

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