Conheça dez escritores de MG que colaboram com a luta antirracista

Livraria em Belo Horizonte vende obras feitas por negros que não estão em lojas convencionais

Por Gabi Coelho, Do G1

Escritora premiada e professora aposentada, Conceição Evaristo ministra oficina em Porto Alegre nesta terça-feira (8) — Foto: Livia Wu/Itaú Social

“Não basta não ser racista, tem que ser antirracista”, essa é a frase usada pela filósofa Angela Davis para reforçar a importância da sociedade em se envolver nas pautas sobre a desigualdade social e o quanto ela afeta a vida dos negros. Segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), somente em Minas Gerais, de janeiro a setembro de 2019, cerca de 73 ocorrências de racismo e 221 de injúria racial foram registradas.

É com base em dados como esses que escritores, professores e pesquisadores têm feito um trabalho para valorizar os estudos sobre a história dos negros. Iniciativas como a da jornalista Etiene Martins, que ao perceber a ausência de livros feitos por negros nas livraria convencionais, criou seu próprio empreendimento, a Livraria Bantu.

Localizada na Avenida dos Andradas, no Centro de Belo Horizonte, a Bantu foi inaugurada em 2017 com objetivo de promover obras que vão além do que é ensinado nas escolas.

Etiene Martins abriu uma livraria dedicada a autores negros. — Foto: Maxwell Vilela/Divulgação

Segundo ela, os livros podem fazer com que as pessoas lutem por uma sociedade mais justa e igualitária.

“A literatura não dá conta de acabar com o racismo, mas ela pode fazer com que os leitores negros se empoderem e os leitores brancos conheçam mais a nossa história. Não se trata apenas de literatura negra, é literatura brasileira”, diz Etiene.

Minas Gerais tem escritores negros que, por meio de uma causa social e de estudos realizados ao longo da vida, utilizam suas obras como ferramenta para combater o racismo no Brasil e no mundo. Nomes como Carolina Maria de Jesus, Adão Ventura, Nilma Lino Gomes, Ricardo Aleixo e tantos outros, mostram em cada parágrafo os motivos pelos quais são antirracistas.

O que é antirracismo

Em 2019, a abolição da escravidão no Brasil completou 131 anos. Em 13 de maio de 1888, era assinada a Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no Brasil. Porém, os vestígios da desigualdade social e o racismo enfrentados por pessoas que foram escravizadas durante anos ainda estão presentes na sociedade atual.

Em uma população em que 12,5 milhões de pessoas se autodeclararam pretas ou pardas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o termo antirracismo é considerado um compromisso entre pessoas negras e não negras pelo direito à vida daqueles que são discriminados pela cor da pele.

Um escritor antirracista e um livro

Conceição Evaristo

Autora do livro ‘Ponciá Vicêncio’, Conceição Evaristo nasceu e cresceu em Belo Horizonte, mas para alcançar novos voos ela se mudou para o Rio de Janeiro em 1970 e, desde então, se tornou uma das maiores referências na literatura brasileira.

Graduada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro e doutora em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Carolina Maria de Jesus

Filha de negros que migraram para Sacramento, no interior de Minas Gerais em 1914, quando iniciou as atividades pecuárias na região, Carolina Maria de Jesus passou boa parte da vida na cidade. Em 1947 se mudou para São Paulo e viu de perto o surgimento das primeiras favelas na maior metrópole do país.

Seu primeiro livro, ‘Quarto de despejo’, foi escrito entre sua rotina cantando papéis, ferros e outros materiais recicláveis nas ruas da capital paulista. Carolina faleceu em 1977, mas o seu desejo de melhorar a realidade em que moradores de favela vivem, ainda é referência para outras gerações.

Adão Ventura

Neto de pessoas que foram escravizadas, Adão Ventura começou sua paixão pela literatura brasileira em Santo Antônio do Itambé, antigo distrito do Serro, no Vale do Jequitinhonha, onde nasceu e foi criado.

Adão morreu em 2004, aos 64 anos, deixando estudos sobre questões raciais e preconceito para outras gerações. No livro ‘A cor da pele’, o escritor faz reflexões sobre a vida dos negros em uma sociedade mestiça, acostumada à ideologia colonialista europeia.

Ana Maria Gonçalves

Nascida e criada em Ibiá, no Triângulo Mineiro, Ana Maria Gonçalves ficou conhecida em todo o país quando lançou o livro ‘Defeito de Cor’. Vencedor do Prêmio Casa de Las Américas, em 2006, como o melhor romance do ano, o livro remete às biografias da ex-escrava Luiza Mahin e do poeta Luiz Gama.

Ana Maria também utiliza as redes sociais como ferramenta para provocar reflexões sobre os impactos da desigualdade e do racismo, não só no Brasil, mas no mundo todo.

Ricardo Aleixo

Músico, produtor cultural, editor, artista plástico, poeta e escritor. Esse é Ricardo Aleixo, autor do livro ‘Pesado demais para ventania’ e belo-horizontino.

Entre as produções culturais, por ser curador do Festival de Arte Negra (FAN), e a poesia social, Ricardo utiliza a sua visão crítica para colaborar com a transformação social.

Nilma Lino Gomes

Nilma Lino Gomes consegue mesclar entre livros infanto-juvenis e artigos com base em pesquisas de campo feitas por ela para serem estudadas nas universidades. Em 2009, ela lançou a ficção ‘Betina’, para crianças e jovens, com o intuito de resgatar a identidade dos cabelos afros.

Nilma é graduada em Pedagogia, mestra em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP) e integrante da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros.

Cidinha da Silva

Engajada nas pautas raciais e de gênero, Cidinha da Silva é uma escritora de Belo Horizonte que fundou o Instituto Kuanza para desenvolver projetos nas áreas da educação, pesquisa, comunicação, juventude e articulação comunitária.

Autora do livro ‘Um Exu em Nova York’, que apresenta um olhar contemporâneo sobre temas como racismo religioso, política e direitos humanos, principalmente nas questões que envolvem as mulheres e grupos LGBTQI+.

Edimilson de Almeida Pereira

O escritor Edimilson de Almeida Pereira também trilha caminhos dentro da poesia, da educação e da pesquisa sobre cultura e religiosidade afrobrasileira.

Nascido em Juiz de Fora, na Zona da Mata de Minas Gerais, ele é autor do livro ‘Poemas para ler com palmas’, que reúne cinco poesias de matrizes afrodescendentes sobre a capoeira, o jongo, o cangado, os orixás e os vissungos.

Madu Costa

A educadora e escritora Maria do Carmo Ferreira Costa, mais conhecida como Madu Costa, é reconhecida pelo seu trabalho sobre afrobrasilidade, principalmente para o público infantojuvenil.

‘Embolando Palavras’ é uma de suas obras. O livro resgata a experiência entre uma avó e sua neta curiosa e cheia de perguntas. A história mostra que um simples momento entre as duas de fazer bolo pode representar ancestralidade, memória e cultura.

Patrícia Santana

A belo-horizontina Patrícia Maria de Souza Santana é escritora e professora. Ela aborda as vivências dos negros com a discriminação racial.

Autora do livro ‘Cheirinho de Neném’, Patrícia trabalha com questões étnicas e raciais em uma linguagem voltada para o público infantojuvenil.

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