PALCOS DO FAN-BH TRAZEM ANTONIO PITANGA E FILHOS, LIRA RIBAS COM HOMENAGEM A MARKU, RELEITURAS NEGRAS DE MEDEIA, GOTA D’AGUA E NAVALHA NA CARNE
Valorizando a arte negra em todas suas linguagens, festival também terá performance internacional de Va-Bene Fiatsi (Gana), stand-up com Tia Má (BA), dança com Orun Santana (PE) e atrações para crianças
enviado por Zu Moreira para o Portal Geledés
A Prefeitura de Belo Horizonte realiza de 18 a 24 de novembro o Festival de Arte Negra de Belo Horizonte – FAN-BH. Com sete dias de programação gratuita, em mais de 20 espaços da cidade, o festival chega à sua 10ª edição em 2019, com mais de 100 atrações do Brasil e do exterior, representando diversas linguagens artísticas e promovendo a produção de arte e cultura de matrizes africanas. O FAN-BH 2019 fortalece as ações do mês da Consciência Negra em Belo Horizonte, buscando a democratização do acesso à cultura no espaço público e a promoção da igualdade racial, compondo um olhar expandido e diverso para focalizar as subjetividades negras e suas singularidades artísticas.
Com o tema Território Memória, o FAN-BH 2019 traz 22 espetáculos na área das artes cênicas, entre peças e cenas curtas de teatro, dança, performance e stand-up, com artistas do Brasil e do exterior. A programação traz opções para todas as idades, com atrações de grande reconhecimento nacional e também novos talentos de Minas Gerais em destaque na cena teatral.
Entre os temas dos espetáculos do FAN-BH 2019 estão os encontros entre gerações e a ancestralidade, as lendas e tradições da África, a provocação das identidades e lugares sociais, a violência e o preconceito, o humor, a diáspora e religiosidade, a realidade de cotidiano da juventude negra e periférica nas grandes cidades do país.
ABERTURA INFANTIL COM COLETIVO O BONDE (SP)
O coletivo O Bonde (SP) apresenta, no primeiro dia do FAN-BH, um espetáculo voltado às crianças e também ao público de todas as idades. O espetáculo “Quando eu morrer vou contar tudo a Deus”, baseado em uma história real, conta as aventuras de Abou, um menino africano que foi encontrado dentro de uma mala tentando entrar no continente europeu. Ao som de tambores e violão, quatro atores contam a história deste menino refugiado que, junto com sua mala Ilê – companheira, abrigo e animal de estimação –enfrenta as dificuldades com criatividade e coragem. A apresentação acontece às 14h e às 19h, no Teatro Marília.
EMBARQUE IMEDIATO CELEBRA 80 ANOS DE ANTONIO PITANGA
A décima edição do FAN-BH terá, como uma das suas principais atrações, o encontro de Antonio Pitanga, que completa 80 anos em 2019, com os filhos Rocco e Camila no espetáculo “Embarque Imediato”. Ator com grande trajetória no teatro, cinema e televisão do Brasil, Antônio Pitanga sobe ao palco contracenando com Rocco e com a participação de Camila em gravações de áudio e vídeo. As apresentações acontecem dias 19 e 20. Dirigido por Márcio Meirelles, “Embarque Imediato” narra o encontro entre um jovem negro doutorando brasileiro e um senhor africano, em uma sala de aeroporto internacional. O acaso fará com que as duas personagens tenham acesso a informações que vão mudar para sempre suas vidas. Além do espetáculo, o FAN-BH apresenta o filme de Camila Pitanga e Beto Brant “Pitanga”, documentário que narra a trajetória de Antônio na dramaturgia.
ORANGE LADY: ESPETÁCULO INÉDITO DE HOMENAGEM A MARKU RIBAS
A atriz mineira Lira Ribas concebeu, especialmente para a décima edição do FAN-BH, um espetáculo de múltiplas linguagens em homenagem a seu pai, Marku Ribas, cantor, compositor e ator brasileiro com carreira celebrada nas últimas décadas. “Orange Lady” é uma imersão ao universo de Marku, reunindo vários artistas para interpretarem de diversas formas a sua obra. No palco, o público conhece mais da sua trajetória a partir de performances de dança, música, poesia, cinema, discotecagem e teatro. O nome “Orange Lady” é inspirado em uma das músicas de Marku Ribas, em uma leitura de artes compartilhadas, empoderamento e liberdade.
RELEITURAS NEGRAS E CONTEMPORÂNEAS DE TRÊS CLÁSSICOS DO TEATRO
Medeia, Navalha na Carne, Gota D’Agua. São três montagens clássicas do universo das artes cênicas, escritas por Eurípedes, Chico Buarque e Plínio Marcos, respectivamente, e que na 10ª edição do FAN-BH ganham releituras negras, transportadas para a realidade de vivências da população periférica do Brasil.”Medeia Negra”, que tem concepção e atuação de Márcia Limma (BA), será apresentada nos dias 23 e 24, às 18h, no Galpão 4 da Funarte. O espetáculo solo aborda a invisibilização da voz feminina e as imposições do patriarcado, desconstruindo o mito original para convocar as mulheres à retomada do poder.
Já a peça “Navalha na Carne Negra” reúne as companhias Os Crespos (SP), Coletivo Negro (SP), Cia. dos Comuns (RJ) e Sociedade Abolicionista de Teatro (SP). Com direção de José Fernando Peixoto de Azevedo, a história foca uma prostituta, um cafetão e um camareiro gay que vivem em um hotel. A peça reflete sobre a mercadoria-corpo na violência, o corpo-objeto e a sexualização do corpo negro. A apresentação será nos dias 21 e 22, às 19h30, no Teatro Marília.
Com direção de Jé Oliveira (SP), Gota D’Água (Preta) conta a história de Joana, mulher madura, sofrida, moradora de um conjunto habitacional. Jasão, seu ex-marido, é um jovem sambista que desponta para o sucesso com a composição da canção que dá nome à peça. O espetáculo amplia questões raciais, sociais e de classe. A montagem ocupa o Grande Teatro do Cine Theatro Brasil Vallourec no dia 20, às 19h.
VA-BENE FIATSI, DE GANA, TRAZ PERFORMANCES INTERNACIONAIS
Provocando os lugares e as identidades pré-estabelecidas entre o corpo, a sociedade e as individualidades, Va-Bene Fiatsi, de Gana, é atração internacional do FAN-BH na área da performance. Adotando a intitulação de “crazinisT artisT”, Va-Bene traz para o festival duas apresentações na Funarte. Em “Strikethrough”, no dia 19, o foco são as fronteiras psicológicas e coloniais, a luta por aceitação e alteridade. Já “dZikudZikui-aBiku-aBiikus” (nascido depois do nascido morto), dia 2, retrata as crenças Ewe e Yoruba, trazendo referência aos indivíduos vulneráveis que parecem pertencer à morte.
Também na área da performance, o FAN-BH traz como destaque a artista mineira Priscila Rezende, dia 22, que traz ao Museu de Artes e Ofícios uma intervenção que faz refletir sobre os 131 anos da abolição da escravatura. Já Castiel Vitorino Brasileiro, do Espírito Santo, apresenta-se no dia 24, no Teatro Espanca, com “Macete para crescer peito”, mergulhando na diáspora Bantu, buscando um jeito de corpo necessário para que a fuga aconteça.
STAND-UP COM TIA MÁ (BA)
A jornalista, humorista e influenciadora baiana Tia Má, Maíra Azevedo, é uma das atrações da 10ª edição do FAN-BH 2019. Ela traz para o festival o primeiro stand-up brasileiro apresentado por uma mulher negra. “Tia Má com a Língua Solta” será apresentado no dia 23, no Teatro Marília, abordando dramas, aceitação, empoderamento, situações reais vivenciadas diariamente por muitas brasileiras. No dia 22, no Teatro Espanca, Tia Má também participa de um debate sobre a presença negra na mídia e nas redes sociais.
ORUN SANTANA E CIA FUSION EM DESTAQUE NA DANÇA
Do teatro e da performance para a dança, Orun Santana (PE) apresenta, nos dias 19 e 20, às 19h, no Teatro Marília, a coreografia “Meia Noite”. O solo explora a capoeira como elemento criador e motivador do movimento, construindo um procedimento de uso de imagens/memória do corpo do dançarino, dialogando dramaturgicamente sobre as relações de pai e filho, de mestre e discípulo.
A programação do FAN-BH também traz, como destaque, os mineiros da Fusion Cia de Danças Urbanas. No dia 24, no Teatro Marília, a companhia apresenta “Recados do Morro”, espetáculo que celebra os 17 anos do grupo, desafiando as ideias a respeito do cotidiano da juventude negra e periférica, tendo como ponto de partida o conto “O recado do morro”, de João Guimarães Rosa.
MAIS SOBRE O FAN-BH
O Festival de Arte Negra de Belo Horizonte – FAN-BH é um festival dedicado à valorização e à difusão da arte negra. Suas referências articulam as raízes ancestrais da cultura negra às expressões de sua contemporaneidade e dedica-se a fortalecer as matrizes tradicionais africanas ainda preservadas e aquelas resultantes do contato com outras culturas. Com periodicidade bienal, o festival compreende uma ampla programação cultural, marcada pela diversidade de linguagens artísticas e pela participação de artistas, grupos e pesquisadores da arte e da cultura negra. Desde 1995, atua como um importante instrumento para valorização de manifestações populares, impulsionando a formação de um mercado local e fomentando a inserção de artistas da cidade nos circuitos culturais. Suas atividades também provocam diversificadas reflexões e promovem a democratização do acesso ao bem cultural pelos diversos setores da cidade.