Criolo lança o disco nacional mais potente de 2011

O Google Street View não encarou a dona Belmira Marin, a principal via do Grajaú. Aliás, quase nenhuma rua do enorme bairro da Zona Sul foi registrada pelas câmeras de rua do Google.

Não tem problema. De lá veio algo bem mais vivo e nítido: a visão de rua do Criolo.

Seu segundo álbum, Nó Na Orelha, é o disco nacional mais potente de 2011. É daqueles trabalhos que faz as pessoas olharem para fora de seus cercados.

É eclético nos estilos: tem brega romântico, soul verde-amarelo, samba, rap. É muito bem produzido, graças às mãos boas de Daniel Ganjaman, do Instituto, e Marcelo Cabral. E fala de experiências que todos conhecem.

Na alma, claro, é um disco de hip hop. Chuck D, do Public Enemy, chamava o gênero de “CNN negra”. E Nó Na Orelha traz boletins urgentes da vida do gueto SP, “onde o filho chora e a mãe não vê”.

Mas as letras de Criolo também falam de coisas que qualquer habitante da metrópole pode entender: “Os bares estão tão cheios de almas tão vazias” (“Não Existe Amor em SP”) ou “A lei do cão, quem sorri pra ti, quer te ver cair”. (“Subirusdoistiozin”). Ele usa o seu mundo para falar do mundo de todos.

Criolo – Não Existe Amor em SP

Como intérprete, Criolo traz verdade a vários personagens: em “Freguês da Meia-Noite” é um romântico na fossa; em “Grajauex” é MC com sanguenozoio; e na genial “Subirusdoiztiozin”, toda em paulistanês incorreto, ele incorpora um Adoniran Barbosa das lajes com vista para a represa Billings.

Criolo – Subirusdoistiozin

Ganjaman e Cabral, cientistas no estúdio, completam a mágica: cenários de metais brilhosos, órgãos Hammond atmosféricos, pulsos jazzísticos da madrugada, ritmos funkeados sólidos e referências da idade dourada do soul brasileiro.

Com Nó Na Orelha muitos vão rever seus conceitos sobre a música que a periferia de SP produz. A cena hip hop , “fechada nos últimos 15 anos” (como lembrou o próprio Ganjaman), não poderia ter melhor representante para sua nova (e mais acessível) fase.

 

Depois de gerar enorme interesse nas redes, com gente afoita atrás de links que levavam aos primeiros vazamentos, Nó Na Orelha foi oficialmente liberado nesta terça (26). Pode ser baixado aqui.

Fonte: Bate Estaca

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