Dança ancestral: O balé Fareta Sidibé (dança da criação, no dialeto susu)

O balé Fareta Sidibé (dança da criação, no dialeto susu) mostra, com ritmo e energia, a cultura da República da Guiné. O grupo, formado por dançarinos e percussionistas, a maioria guineanos, existe há três anos e transforma em dança a vida nas aldeias, celebrando momentos importantes, como nascimentos, casamentos, plantio e colheita. “Na Guiné, e outros países africanos, se reproduz muita coisa do cotidiano através da música e da dança”, conta a dançarina brasileira Namibia Cruz Neves, de 26 anos.

por Carol Ito no Revista Trip

Aboubacar Sidibé, conhecido como Abou, de 35 anos, mora no Brasil há 6 e é o fundador do balé. Em seu país, ele era um dançarino habilitado a ensinar 20 ritmos guineanos diferentes.Veio ao Brasil a convite de uma amiga, foi registrado como como bailarino profissional junto ao Ministério do Trabalho e vem desenvolvendo o resgate e a disseminação da cultura da Guiné no Brasil, onde mais da metade da população se considera negra.

Abou e Namibia durante apresentação do Fareta Sidibé Crédito: Daniela Menezes

Depois de conhecer outros imigrantes, em São Paulo, decidiu formar o Fareta Sidibé e o Centro de Estudos da Cultura da Guiné, na região da Liberdade, que serve como moradia e local de ensaio para os dançarinos e músicos, além de oferecer cursos de dança. O grupo se apresenta em eventos culturais e escolas em diversas cidades do estado de São Paulo.

Quando a Guiné se tornou independente da França, em 1958, o presidente Sekou Touré criou projetos para evitar que as tradições populares se perdessem. “Muitas famílias não tinham condições de mandar os filhos à escola, mas tinham acesso a centros culturais para aprenderem dança a percussão. A cultura lá é muito forte”, relata Abou.

Grupo Fareta Sidibé reproduz as danças da Guiné e de outros países do Oeste africano, como Senegal, Costa do Marfim, Mali e Burkina Faso. Crédito: Daniela Menezes

“O Fareta reproduz as danças com toda energia, alegria e espiritualidade, como é feito até os dias de hoje no oeste africano”, explica Namibia. Ela pontua que, apesar das semelhanças, as performances do Fareta Sidibé não têm relação com as danças afro-brasileiras: “Não tem nada a ver com o maracatu, por exemplo, porque é uma reprodução autêntica. As danças afro-brasileiras foram misturadas”, conclui.

Antes das apresentações, Abou  faz questão de explicar que as performances representam a cultura nacional da Guiné e não a religião, como muitas pessoas pensam – isso até já foi motivo de preconceito contra o grupo. “Os brasileiros precisam conhecer outras culturas africanas que, infelizmente, ainda não foram muito divulgadas”, enfatiza Abou.

Os dançarinos se movimentam ao som do “djembe”, que é como o tambor tradicional da Guiné é chamado Crédito: Daniela Menezes

Mesmo sem conhecer a cultura da Guiné, é difícil não se emocionar com os movimentos e com o som dos tambores do Fareta Sidibé. Namibia chama isso de memória ancestral: “Lá no fundo, instintivamente, a gente se reconhece”.

+ sobre o tema

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o...

para lembrar

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o...
spot_imgspot_img

Feira do Livro Periférico 2025 acontece no Sesc Consolação com programação gratuita e diversa

A literatura das bordas e favelas toma o centro da cidade. De 03 a 07 de setembro de 2025, o Sesc Consolação recebe a Feira do Livro Periférico,...

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros ou que tenham protagonistas negros é a proposta da OJU-Roda Sesc de Cinemas Negros, que chega...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o Brasil teria abolido a escravidão oito anos antes da Lei Áurea, de 13 de maio de...