As estatísticas estão aí, esfregando dados catastróficos em nossas caras sobre violência contra mulher. O Mapa da Violência 2012 – Atualização: Homicídio de Mulheres no Brasil, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), apresenta o dado que entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país mais de 92 mil mulheres. Sabemos que isso se deve a uma cultura machista, a postura patriarcal arraigada nas famílias brasileiras, a um processo histórico social onde o homem impera e se considera um ser superior ao sexo feminino. A jornada não é fácil, a violência contra a mulher vem crescendo, enquanto parcela da sociedade vem lutando com unhas e dentes para mudar esta realidade, um verdadeiro cabo de guerra. A banalização da violência já tomou conta da maioria da sociedade, a culpabilização da vítima, nem se fala.
Enviado por Bruna M. Borges via Guest Post para o Portal Geledés
São mulheres, mães, estudantes, profissionais, chefes de família, donas de casa, e quantos outros adjetivos/qualidades/definições você puder imaginar, que saem nas ruas diariamente com suas armaduras para enfrentar o mundo cão que não foi feito para nós. Mundo que não foi feito para mulheres que trabalham e tem filhos, pois terão que levar ao médico, ir a escolas ou ter horário para voltar para casa. Oras, essa mulher não tem como ser uma profissional! Mundo esse onde a mulher que sai todos os dias cedinho para labuta, não pode se sentar em uma mesa de bar sozinha ou com outra amiga. Ah, essa é “quenga” ou “sapatão”. O mundo onde a roupa nos define. Essa com essa saia, tá querendo ser estrupada. Mundinho onde a mulher que cria um filho para ser um Homem está fazendo errado. Este vai crescer para ser “viado”. Vivemos numa era considerada tecnológica, avançada, no entanto as pessoas ainda se preocupam com quem as outras pessoas se deitam, com quantos e o quem fazem.
Pois bem, essa pessoa que vos fala, tem horas que esmorece, que desacredita, mas o meu desejo de um mundo melhor, igualitário, não me deixa permitir a peteca cair. Tento ensinar ao meu filho como tratar o próximo, e sobre direitos e deveres. Mostro como deve ser uma sociedade mais justa, mais humana. Sou daquelas que acredita que um diálogo é capaz de transformar e o “ouvir” é uma das armas mais poderosas para nos aproximar das crianças. Estes dias estava assistindo um filme com meu filho chamado CJ7 – O Brinquedo Mágico, é um filme de 2008, de Hong Kong, considerado de ficção científica. A história começa com um menino muito pobre que mora com o pai, trabalhador da construção civil, que faz além do possível para pagar uma escola particular para o filho.
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A criança sofre discriminação por parte dos colegas e de professores, apenas uma menina o trata bem. Assim como ele outra criança, que está acima do peso, também sofre agressões. Claro que entre os agressores tem um que se destaca, é o mais rico, inteligente e articulado. O desdobrar do filme tem altos e baixos, em determinados momentos pensei em não assistir mais. Mas pensei que a moral da história poderia fazer sentido. Em meio a viagens no mundo da imaginação, com robô milagrosos e exemplos de superação. Eis que o longa chega ao fim, num belo momento de piquenique no parque, todos felizes e aí surge a frase do personagem principal (normalmente sãos os heróis, mocinhos): “ Fulana (a criança com sobre peso) gosta de mim, mas eu fujo dela. Sei que Sicrana ( a bonitinha que é amiga dele) gosta de mim, mas Beltrano (o riquinho agressor) sempre rouba o que é meu”. E a imagem do menino agressor e a menina bonitinha saindo abraçados. (não lembro o nome dos personagens, por isso coloquei estes :p )
Gentem, parem! Em um a única cena, uma série de erros. Estereótipos e estímulo a objetificação da mulher. Uma criança dizendo que a menina abraçada é DELE. Em primeiro lugar, ela abraça e faz o que ela quiser com quem quiser. Em segundo lugar pessoas não são coisas e não pertencem a ninguém. Isso me assusta por se tratar de um filme infantil, muitas crianças assistem e não têm uma visão crítica sobre o que é colocado, a tendência é reproduzir o que é apresentado.
Não, não é besteira. Não é só um filme. Não é frescura. É uma realidade que permeia nossa sociedade desde os primórdios e filmes/desenhos têm um grande papel na formação intelectual das crianças, principalmente com a rotina conturbada dos responsáveis, a quantidade de horas que as crianças ficam em frente as TVs são superiores a quantidade de horas que os pais conseguem se dedicar exclusivamente a educação dos filhos. Precisamos refletir mais e não colocar apenas como: é uma forma de dizer. Pois destas formas de dizer nasceram muitos agressores e não podemos esquecer que boa parte das mulheres agredidas sofreram violência DOMÉSTICA. Não podemos contribuir para que mais Marias da Penha sejam vítimas.
Lei Maria da Penha
Em 07 de agosto de 2006 , foi criada a Lei Federal 11340 – Lei Maria da Penha. Fruto da luta por justiça da cearense Maria da Penha que ficou paraplégica após levar um tiro nas costas enquanto dormia, disparado pelo marido. Entre as conquistas, está a mudança da legislação brasileira, bfazendo com que a violência contra a mulher deixe de ser tratada com um crime de menos potencial ofensivo. A lei também acaba com as penas pagas em cestas básicas ou multas, além de englobar, além da violência física e sexual, também a violência psicológica, a violência patrimonial e o assédio moral.
Só para não deixar dúvidas, em caso de equívocos de significados:
– machismo é opinião ou atitudes que discriminam ou recusam a ideia de igualdade dos direitos entre homens e mulheres. Opressão de um gênero sobre o outro.
-feminismo e a doutrina cujos preceitos indicam e defendem a igualdade de direitos entre mulheres e homens. Ideologia que defende a igualdade, em todos os aspectos (social, político, econômico), entre homens e mulheres.