Dilma, Santa Maria e nós, quilombolas! Por Cidinha da Silva

Foi digna de uma estadista a
atitude da Presidenta Dilma ao interromper a reunião internacional da qual era
protagonista, aliás, depois de Lula, tem sido assim para o Brasil, e voltar direto
para Santa Maria, no Rio Grande do Sul, terra que a acolheu durante a ditadura
militar mais recente, para prestar solidariedade e apoio institucional às
famílias das dezenas de vítimas do incêndio na boate Kiss.

Aquelas pessoas jovens, cujas
vidas tiveram interrupção trágica, foram vítimas de fatalidade, descaso,
irresponsabilidade, descuido, ainda não se sabe, mas as investigações demonstrarão
as razões do desastre e os culpados serão responsabilizados, não tenho dúvidas.
Foi muita gente que conta a morrer de uma só vez.

Deveria ser punido também esse pessoal
que inventa um deus sórdido e vingativo que submete centenas de jovens ao
desespero e à morte dolorosa, simplesmente porque se divertiam em uma boate,
dançando, paquerando, conversando, bebendo. Esse tipo de gente influencia
negativamente a humanidade, a vida diária e o plano astral. Deveriam viver
isolados do mundo, em algum lugar impossível para sua radioatividade contaminar
nossos lençóis freáticos.

Há uma diferença nítida entre um
grupo que é vítima e outro que é alvo de violência. Todas as autoridades
constituídas conhecem essa nuance. Esses jovens de Santa Maria, homens e
mulheres foram vítimas, sucumbiram ao fogo e à fumaça química, sem
possibilidade de defesa. Foram acuados pelo pânico de se proteger em banheiros,
onde havia água e portas confundidas com saídas de emergência. Foram impedidos
de se salvar pelo despreparo de seguranças, aptos apenas a apartar brigas,
bater em suspeitos, expulsar indesejáveis e receber um comprovante de quitação
de consumo, ou seja, habilitados para garantir a ordem de funcionamento (não de
esvaziamento) do local e a lucratividade dos donos.

Os homens e mulheres de Rio dos
Macacos e de centenas de outros quilombos, das favelas incendiadas em São Paulo
e noutras cidades do país, das periferias do Brasil onde se matam jovens negros
como se esmagam baratas, são todos alvo! Alvo do racismo institucional e também
do difuso, da irresponsabilidade governamental com os destinos dos que não têm
valor social, da especulação imobiliária, da incúria radioativa dos que
inventam um deus irascível que só aceita uma expressão de humanidade.

Essa gente miúda, alvo da
cartilha do desleixo, não tem valor quando viva e os seus que conseguem driblar
a morte, ganham alguma sobrevida no areal do abandono, mas não mobilizam compaixão
pública ou solidariedade. Que Oxalá seja por nós! —

 

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