Ela é a continuidade de um sonho! Luyara Franco caminha pela memória, afeto e resistência

A noite do 25 de julho estava linda, mulheres negras brasileiras e colombianas comemoravam o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha ocupando com seus corpos vivos e dançantes o espaço do MUHCAB (Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira). No palco, as falas curtas e diretas, apontaram “no papo reto” o afeto, acolhimento e luta que precisamos promover entre nós.

Mas nesse dia, o que mais me tocou foi a pausa silenciosa durante a fala de Luyara Franco, filha de Marielle Franco e atualmente Diretora de Legado e Memória do Instituto que leva o nome de sua mãe. Emocionada, ela parou um pouco sua fala e imediatamente foi aplaudida por quem estava presente. O recado era: estamos com você!

A menina-mulher Luyara, ou Luy para os mais íntimos, tal qual sua mãe, possui um sorriso largo e contagiante, uma energia de vida e carisma inigualável. Como ela mesma diz, não foi e não é fácil seguir após o 14 de março de 2018. No verso da música de BK repetido por ela em alguns de seus discursos: “Eu sou a continuidade de um sonho”, é possível perceber a delicadeza do lugar por ela ocupado.

Honrando as que vieram antes dela: a bisavó Filó, a avó Marinete, a mãe Marielle e a tia Anielle, Luyara segue a passos firmes construído sua própria forma de ser e fazer legado. Ela caminha pela memória, afeto e resistência.
No entardecer do 27 de julho Luyara adentrou a cerimônia de casamento de sua tia, a atual Ministra da Igualdade Racial Anielle Franco, e carregando uma placa com o nome de sua mãe cruzou o espaço afirmando que o amor vence o ódio.

Ainda durante a cerimônia leu um breve texto em homenagem aos noivos com quem celebrou ao longo da noite na pista de dança. Luyara é ritmo, festa e alegria. Quando eu a conheci ela tinha uns 8 anos, sempre sapeca, esportista, divertida e carinhosa. O tempo foi passando e vi crescer a Luy funkeira que junto com sua mãe fez muitos corpos cariocas dançarem como forma de resistência enquanto tocavam na bateria da APAFUNK (Associação dos Profissionais e amigos do Funk).

Hoje com seus 26 anos Luyara é e produz legado, enquanto semente inspira e semeia futuros. Inova e renova as nossas formas de lutar e de lidar com a dor. Para falar dessa menina-mulher continuidade de um sonho, retomo a canção de BK que por ela me foi apresentada:

Eu não herdei o trono, eu recuperei e pronto
Perdi noites e noites de sono
Entre foices da corte e sangue derramado de quem veio antes
E o resultado tu não quer que eu cante? Eu canto

Cante Luyara Franco! Dirija, a seu modo, o legado, memória, justiça e reparação de sua mãe. Por ela, por você, por nós e pelas que virão! Nós, mulheres negras, estamos contigo e você nos brindou com momentos históricos nesse julho das pretas de 2024.


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