Em Salvador, mulheres vão às ruas contra o racismo e o genocídio

Da Piedade à Praça da Sé, o 8 de março em Salvador foi marcado por gritos de luta e tons diversos. Por toda parte, bandeiras, rostos pintados, cartazes, megafones e carros de som compunham um cenário assumidamente feminista. Cerca de 1.500 pessoas fizeram o movimento de reivindicação por equidade e contra a violência de gênero. Entre os organizações e entidades presentes, estiveram a Federação de Mulheres Comunitárias, Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Movimento das Mulheres do Alto das Pombas (Grumap), Coletivo Regueiras Empoderadas Filhas de Jah, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), União  Brasileira de Mulheres (UBM) e Programa Corra Para o Abraço.

Por Portal Catarinas

Por Íris Leandro e Andréa Huna

As palavras de ordem soaram pelas ruas da cidade em alusão ao impedimento da primeira mulher eleita presidenta da república. Várias intervenções relembraram Dilma e o caráter machista da campanha que terminou no impeachment, em agosto de 2016.  Olívia Santana, atual secretária do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Estado da Bahia, destacou a importância da manifestação como “marco histórico na  busca por oportunidades iguais dentro da perspectiva da interseccionalidade”.

As mulheres soteropolitanas levaram para as ruas suas reivindicações. Foto: Portal Catarinas | Íris Leandro
Rita de Cássia (60), manteve o tom de voz forte ao contar do seu coletivo. Ela é integrante do Grumap que, há 37 anos, trabalha com educação popular no bairro Alto das Pombas, enfrentando a falta de recursos e a violência. “Nós nos articulamos na década de 80 na perspectiva de viver o processo verdadeiramente democrático, nos erguemos durante a ditadura militar e sempre enfrentamos o capitalismo, o poder branco, racista e machista que implementa o genocídio”, diz. Maria Lucia, (39) assistente social, trouxe para o 8M a energia de fogo de Iansã, seu orixá de frente. Ela é faz parte da Federação de Mulheres Comunitárias da Bahia, entidade que atua no diálogo direto com as comunidades. “Sou mãe de família do gueto e a importância de estar aqui é de lutar pela igualdade, por isso criamos o movimento”.
Cíntia Araujo (35), mestranda do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher, acredita que é essencial combater o sistema capitalista. “Para combater o caráter mercadológico que a luta do 8 de março ganhou devemos demarcar o espaço nas ruas, através da reivindicação política”. Ela também integra o Programa Corra Para o Abraço, desenvolvido pela  Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia. “Foi um dia marcante para a luta contra a violência física, verbal e institucional”, completa.
Outro eixo central da manifestação a defesa do aborto legal e do direito das mulheres a decidirem sobre o próprio corpo. O assunto rendeu música, ritmada pelos tambores da Marcha Mundial das Mulheres. Uma de suas integrantes, Lidiane Samara, diz que “para a mulher sair da condição de superexploração deve haver unidade entre nós”. A opressão que determina lugares sociais também foi pauta dos manifestos. “Imagina quantos grandes talentos femininos devem existir por aí oprimidos pelo sexismo?”, que questiona Gabí Santana (46), analista de seguros, que tem no reggae sua principal paixão e é porta-voz do Coletivo Regueiras Empoderadas Filhas de Jah. Ela relatou o sexismo no cenário musical baiano e que perdeu muitas oportunidades de crescimento artístico pelo fato de ser mulher. “Por isso estamos aqui para lutar, exigir respeito e justiça em todos os âmbitos da vida!”, afirma.

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