Empregadores domésticos rejeitam morador de favela

A doméstica Versiani Azevedo afirma que uma boa referência vale muito na hora de conseguir trabalho – Foto:   Carlo Wrede / Agência O Dia

Pesquisa revela que 47% dos brasileiros não contratariam quem vive em comunidade

por Luisa Brasil no O Dia

Uma pesquisa do Instituto Data Popular colocou em números o preconceito existente contra os moradores das favelas brasileiras. Segundo a sondagem, 47% dos entrevistados afirmaram que não contratariam um habitante de comunidade para trabalhar em sua casa. Apesar do número alarmante, a situação do Rio é peculiar no que diz respeito à rejeição da contratação de mão de obra proveniente da favela, que costuma ser menor que em outras cidades do Sudeste.

“O Rio tem separação menor entre periferia e centro. Um terço da mão de obra feminina do Rio que vive na favela é empregada doméstica”, afirma Renato Meirelles, presidente do Data Popular.

O levantamento foi feito com 3.050 entrevistados em 150 cidades brasileiras e também avaliou a percepção que as pessoas têm da vida nas comunidades. Do total, 69% disseram que sentem medo quando passam em frente a uma favela. Além disso, 51% associaram a palavra favela a drogas e à violência. “A favela é fruto de ocupações com uma total ausência do poder público. Esse espaço foi ocupado pelo tráfico de drogas e isso faz existir na opinião pública uma associação com coisas ruins”, afirma Renato Meirelles.

Ele também ressalta que a forma como a comunidade é retratada na mídia contribui para reafirmar os estereótipos. Segundo Meirelles, a rejeição também se aplica a outros tipos de contratação, principalmente em áreas que lidam com o atendimento ao público. Dados mais detalhados serão revelados quando a pesquisa completa for apresentada, no 2º Fórum Nova Favela Brasileira, que acontecerá no dia 3 de março.

Na experiência da doméstica Versiani Azevedo dos Santos, 37 anos, moradora da favela da Tijuquinha, as referências de empregadores anteriores são o fator determinante na hora de conseguir um emprego. “Já trabalhei como babá e doméstica e nunca tive problema por morar em favela. O que conta mais é a referência”, afirma. Ela reconhece, entretanto, a percepção negativa que a favela tem em bairros de classes média e alta.

A boa notícia é que os patrões já não estão podendo mais impor tantas condições na hora de contratar. Devido à escassez de mão de obra, o mercado está virando a favor das domésticas. “As filhas das empregadas estão conseguindo mais acesso a estudo e querem uma perspectiva diferente. Na prática, isso faz com que as domésticas possam escolher mais”, afirma. A pesquisa também revelou que 87% dos entrevistados acreditam que quem nasce na favela tem menos oportunidades do que quem nasce no asfalto.
Trabalhadora distorce informações

A preocupação com a rejeição do empregador na hora de procurar um emprego faz com que muitas domésticas omitam ou distorçam as informações sobre local onde vivem. “As pessoas usam esse artifício como autodefesa. Elas precisam trabalhar e buscam formas de se defender do preconceito. Mas isso é ruim para uma sociedade que quer ser democrática e igualitária”, avalia Jorge Barbosa, diretor do Observatório de Favelas. Para ele, o preconceito contra os moradores de favelas esconde outros juízos de valor negativos. “A grande maioria das empregadas é negra. Estamos falando de carga embutida de preconceito racial”, diz.

+ sobre o tema

Torcedor joga banana em campo e Roberto Carlos abandona jogo

O lateral esquerdo Roberto Carlos sofreu novamente um...

Cinco jovens são espancados por seguranças e dono de bar na Pedra do Sal

Uma das vítimas, membro do coletivo Slam das Minas,...

Ator mineiro é vítima de racismo em Blumenau, Santa Catarina

  Ator, DJ e Designer, Alexandre de Sena, que faz...

Caso Rodrigo Branco. Até quando nós, brancos, vamos deixar racismo para lá?

Na segunda-feira à noite, um guia turístico "amigo" de...

para lembrar

Deputada se veste de doméstica para homenagear categoria

EM sessão desta terça-feira na Câmara que homenageou o...

Seja feminista, oras! – Divisão do trabalho doméstico já

Como todo mundo sabe, a profissão de empregada doméstica...

Domésticas serão indenizadas em caso de prática de assédio moral e agressão física

Domésticas podem aplicar justa causa nos patrões   Empregadas domésticas amparadas...
spot_imgspot_img

Líder de luta das domésticas receberá título de doutora honoris causa

Uma das pioneiras da luta das trabalhadoras domésticas no Brasil, a sindicalista e ativista Creuza Oliveira vai receber o título de doutora honoris causa concedido pela...

Acúmulo de funções e falta de registro: domésticas relatam dificuldades para conseguir direitos básicos

Dez anos depois da PEC das Domésticas, trabalhadoras do setor em todo o país ainda lutam por direitos básicos. Em Salvador, a equipe conversou várias...

Diarista é proibida de esquentar marmita no RJ: ‘Só pra moradores’

A faxina programada para segunda-feira (27) não durou nem até a metade do dia. A diarista Marcelle Oliveira, 34, tinha ido fazer seu trabalho...
-+=