Enfrentamento à violência contra a mulher

A Câmara aprovou nesta terça-feira, 03/03, o projeto de lei do Senado que classifica o feminicídio como crime hediondo. O texto modifica o Código Penal para incluir o crime – assassinato de mulher por razões de gênero – entre os tipos de homicídio qualificado. O projeto vai agora à sanção presidencial. A proposta estabelece que existem razões de gênero quando o crime envolver violência doméstica e familiar, ou menosprezo e discriminação contra a condição de mulher. Prevê ainda o aumento da pena em um terço se o crime acontecer durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto; se for contra adolescente menor de 14 anos ou adulto acima de 60 anos ou ainda pessoa com deficiência.

Do Correio Nagô

E é sobre a violência contra a mulher o tema principal da primeira entrevista de uma série que o Correio Nagô vai apresentar com as gestoras de políticas públicas, no mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher.

Com uma importante trajetória nos movimentos sociais, especialmente na luta contra o racismo, a nova titular da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) do Governo da Bahia, a pedagoga Olívia Santana, fala com exclusividade ao Correio Nagô sobre os desafios à frente da pasta e revela preocupação com a violência contra as mulheres, especialmente, a mulher negra. “O enfrentamento à violência não será vitorioso se não conseguimos sensibilizar os homens mais comprometidos contra o enfrentamento à violência contra a mulher, para conseguir suplantar esse estado de iniquidade de coisas que já deveriam ter sido superadas. A violência contra a mulher é uma chaga que nos entristece. É preciso defender o respeito, a segurança das mulheres e a vida de todos nós”.

Correio Nagô – Quais serão as ações prioritárias da SPM nesta gestão, sobretudo, no que diz respeito às políticas específicas para a mulher negra?
Olívia Santana – A secretaria é das mulheres, mas a mulher negra é o elo mais fragilizado, que se encontra em situação mais vulnerável. Vamos desenvolver políticas para as mulheres, em especial, para as mulheres negras. Queremos trabalhar com a qualificação das mulheres para o mercado do trabalho, porque é no mercado que conquistamos o nosso trabalho e a nossa autonomia. Esse é o principal eixo.

CN – Como tem analisado a questão da violência contra a mulher negra? Houve alguma mudança significativa?
OS – A mulher negra sofre com a violência que é fruto do machismo, assim como a mulher branca, mas tem um agravante: sua condição de mulher e negra faz com que ela sofra por ser mulher e por ser negra, o racismo é muito pesado e é uma carreira que nos marca e sempre impediu a nossa caminhada nessa estrutura social. Não podemos tratar as mulheres como se todas fossem uma só. A mulher negra, a mulher lésbica, por exemplo, enfrentam situações que são diferentes da situação de uma mulher branca de classe média.

CN – Quais são os grandes desafios encontrados pela SPM?
OS – O principal desafio é reduzir o poço que separa homens e mulheres nessa estrutura social. É um desafio gigante e que merece de nós toda atenção e doação, pois queremos concluir essa gestão deixando um legado de avanço no cenário baiano, no que diz respeito à igualdade de oportunidade entre homens e mulheres.

+ sobre o tema

O que aproxima os estupros coloniais dos estupros coletivos?

Compartilho trechos do didático artigo de Carolina Cunha “Cultura...

Menina de 14 anos, vítima de estupro, é humilhada por promotor durante audiência

O promotor de Justiça Theodoro Alexandre, do Rio Grande...

‘Vidas partidas’ mostra violência contra mulher; assista a bastidores

Domingos Montagner e Naura Schneider estrelam drama sobre abuso. Longa...

Libertadores e Copa Sul-Americana dão passo histórico na valorização do futebol feminino

Agora, os times que pretendem disputar a Copa Libertadores...

para lembrar

Como a mobilização de duas jovens levou o metrô de SP a agir contra abuso sexual

No último ano, chamaram a atenção casos de tentativa...

Eleonora Menicucci: Respeito às mulheres que sofrem violência sexual

Eleonora Menicucci: "Estima-se que, a cada 12 segundos, uma...

Violência contra a mulher: a verdade por trás da visão social

O presente estudo visa apresentar, através de pesquisas bibliográficas,...

Geledés participa da Conferência de População e Desenvolvimento para America Latina e Caribe

Sociedade Civil da América Latina e Caribe levanta sua...
spot_imgspot_img

Coisa de mulherzinha

Uma sensação crescente de indignação sobre o significado de ser mulher num país como o nosso tomou conta de mim ao longo de março. No chamado "mês...

A Justiça tem nome de mulher?

Dez anos. Uma década. Esse foi o tempo que Ana Paula Oliveira esperou para testemunhar o julgamento sobre o assassinato de seu filho, o jovem Johnatha...

Dois terços das mulheres assassinadas com armas de fogo são negras

São negras 68,3% das mulheres assassinadas com armas de fogo no Brasil, segundo a pesquisa O Papel da Arma de Fogo na Violência Contra...
-+=