Enquanto processos se arrastam, PMs réus por mortes seguem trabalhando, são promovidos e até condecorados

Enviado por / FonteEXTRA, por Rafael Soares

O dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, foi assassinado, aos 26 anos, por um tiro disparado por um policial militar no Pavão-Pavãozinho, na Zona Sul do Rio, em abril de 2014. DG foi baleado pelo PM Walter Saldanha Corrêa Júnior, lotado à época na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela, quando estava pendurado no parapeito de uma casa, tentando fugir de um tiroteio, sem chance de defesa. O rapaz, que integrava o elenco do programa “Esquenta!”, comandado por Regina Casé, na Globo, não portava arma alguma.

Saldanha foi apontado como o atirador por um colega de farda, a quem teria dito, após o disparo fatal, a frase: “Acho que acertei aquele ganso” — o termo é usado por PMs para se referir a traficantes. Até hoje, entretanto, o crime está impune: o caso tramita na Justiça há mais de cinco anos sem sentença. Nesse período, o réu seguiu trabalhando na PM, onde foi promovido de soldado a cabo e até condecorado: em 2019, a corporação concedeu a Saldanha o distintivo “Lealdade e Constância”, criado para premiar PMs que não sofreram punições em dez anos. Atualmente, ele bate ponto no 26º BPM (Petrópolis).

A situação de Saldanha não é exceção. O EXTRA localizou 20 processos no Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) em que policiais respondem por homicídios há mais de cinco anos, sem sentença na primeira instância até hoje. As ações têm como réus 44 agentes, que respondem pelos assassinatos de 43 pessoas. Mais da metade desses policiais, 26 ao todo, segue trabalhando normalmente em suas corporações. Cinco estão presos por outros crimes, dois se aposentaram e 11 foram expulsos.

— Parei de ter TV em casa porque não aguentava mais ver caso de outros meninos que foram mortos pela polícia depois do Douglas. Não tem um dia em que eu não pense nele — conta Maria de Fátima Silva, mãe de DG.

Procurado, o TJ-RJ não se manifestou sobre a demora nos julgamentos.

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