Escola em SP registra segundo caso de preconceito em poucos dias: ‘Retardado’

Menino de 11 anos, portador de deficiência intelectual leve, sofre agressões físicas e ofensas de colegas no litoral paulista. Menina de 12 já havia sofrido com racismo na mesma unidade.

Por Mariana Nadaleto, do G1 

Escola Municipal Joaquim Augusto Ferreira Mourão registrou dois casos de preconceito (Foto: Reprodução/G1)

Mais um caso de preconceito foi registrado na Escola Municipal Joaquim Augusto Ferreira Mourão, em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Desta vez, a vítima é um menino de 11 anos, portador de uma deficiência intelectual leve. Por diversas vezes, ele já foi chamado de ‘retardado’, e também sofreu agressões físicas.

Esse é o segundo episódio desse tipo registrado na mesma unidade de ensino. Na última sexta-feira (24), o G1 denunciou o caso de uma menina de 12 anos, que foi vítima de ameaças de morte e ofensas racistas por parte de uma colega. O desabafo da mãe nas redes socias teve grande repercussão, principalmente por expor uma carta recebida pela filha, na qual é chamada de ‘macaca’.

Já os ataques contra Kauê acontecem desde o ano passado, quando a mesma turma estudava em outra escola municipal. Porém, a situação piorou neste ano, chegando a um ponto insustentável neste mês, segundo a mãe do menino, Cintia Sena, de 31 anos. Ela conta que a diretora da escola chamou Kauê e pediu que ele não contasse nada aos pais, caso os colegas de classe mexessem com ele.

“Eu fui conversar com a direção da escola, e me explicaram que fizeram isso para evitar mais confusão. Assim, nós [Cíntia e o marido] não iríamos à escola procurar saber o que estava acontecendo. Me disseram, ainda, que tratam a inclusão com o maior respeito, mas não foi isso o que aconteceu. Acredito que meu filho está sofrendo preconceito na escola”.

Cíntia ainda relata o tipo de ofensas e agressões cometidas contra o filho. Ela explica que, dentro da sala de aula, os colegas o xingam de ‘retardado’ e ‘bebê chorão’. Também já empurraram o menino, colocaram o pé na frente para ele cair, deram tapas em sua cabeça e jogaram borracha e papel em sua direção.

“Ele entende tudo o que está acontecendo, mas não tem malícia para se defender, então, sempre começa a chorar. É muito difícil buscá-lo na escola e vê-lo sempre com o olho inchado de tanto chorar. Temo pela integridade física e emocional dele. Tenho medo que o empurrem a ponto de machucar de verdade, ou que isso atrapalhe seu desenvolvimento”.

Apesar de acontecer há meses, o caso de Kauê só veio à tona após a mãe do menino comentar em uma postagem nas redes sociais sobre o que aconteceu com Adriele. Ela disse que esse não era o primeiro caso na escola e, provavelmente, não seria o último. Em seguida, foi procurada por uma vereadora da cidade.

“A direção não me parece preparada para enfrentar esse tipo de preconceito contra os alunos. É preciso impor regras, e que a escola se prepare, para acabar com isso. Chegaram até a falar que ele estava fantasiando e se jogando no chão. Na última semana, trocaram meu filho de sala. Eu aceitei, porque não aguentava mais, mas isso é errado, a culpa não é dele”, conclui.

Caso Adriele

A situação começou uma semana antes das férias escolares, em junho, mas se repetiu há alguns dias. Adriele é aluna da Escola Municipal Joaquim Augusto Ferreira Mourão, no bairro Melvi. Ao G1, a mãe, a vendedora Adelaide Alves, de 31 anos, contou que as primeiras ofensas surgiram na saída da escola. Mães de colegas da filha a alertaram, na tentativa de protegê-la.

“Minha filha recebeu uma carta, que dizia que ela fedia, que parecia uma macaca, que queriam matá-la. Na escola, ela foi orientada a entregar para a diretora, e depois, para não me contar. Descobri por uma amiga minha, que já sabia, e me questionou. Fui a última a saber”, conta. Indignada, decidiu publicar a situação nas redes sociais.

No dia da publicação da reportagem sobre Adriele, a Secretaria de Educação (Seduc) de Praia Grande ressaltou que repudia qualquer tipo de ato que afete a moral e a dignidade dos alunos, e que assim que a unidade escolar soube dos fatos, adotou providências, assim como a mãe recebeu o devido atendimento, e ações foram tomadas para assegurar a segurança física da menor. Sobre os episódios envolvendo Kauê, a pasta informou que não foi procurada e, desta forma, não tomou ciência desse caso. Profissionais da Seduc vão averiguar a denúncia.

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