Aluna do quinto semestre do curso de Psicologia da Universidade Federal da Bahia, a estudante Aniele Berenguer, 22 anos, foi selecionada entre alguns milhares de colegas para representar o Brasil em dois importantes eventos internacionais: o Brazil Conference at Harvard & MIT, em abril, nos Estados Unidos, e o Girls 20, em maio, no Japão.
A Brazil Conference at Harvard & MIT é uma conferência realizada pela comunidade brasileira de estudantes na Universidade Harvard e no Massachusetts Institute of Technology, em Boston. Ela integra um grupo de 10 estudantes do país, dois de cada região, selecionados para participar do evento, que acontece de 5 a 7 de abril, nos Estados Unidos.
Em seu retorno, a estudante deverá organizar conferência no Brasil para replicar os conhecimentos adquiridos com a sua participação no evento. Ela planeja realizar essa atividade na Ufba para compartilhar a sua experiência com os colegas. “Ao retornar, cada embaixador tem a responsabilidade de replicar a conferência em menor escala em sua comunidade, a partir dos debates que foram observados na Brazil Conference. O tema central fica a critério de cada embaixador. Quero fazer algo na Ufba que incentive a atuação dos estudantes fora da Universidade”, afirmou Aniele.
Aniele é também uma das 20 jovens escolhidas para participar do Girls 20 Summit, um importante evento de liderança para mulheres lançado em 2009 pela Iniciativa Global Clinton, que desta vez será realizado de 24 a 31 de maio, em Tóquio, Japão, onde se debaterá questões de gênero e as condições de vida das mulheres no mundo atual .
Para participar do processo seletivo, as candidatas compartilharam suas trajetórias pessoais, vivências em projetos sociais e expectativas de transformação da realidade de suas comunidades. Aniele conta que se inscreveu sem muita expectativa, em razão da grande concorrência, e ficou completamente surpresa com o resultado final. O evento mundial oferece bolsa para cobrir todos os custos das participantes selecionadas.
As relações raciais, de gênero e saúde e as áreas de psicologia social e comunitária são temas de interesse de suas pesquisas na iniciação científica na universidade. Quando criança, ela era bolsista e uma das poucas estudantes negras em uma escola particular, e lá percebeu o racismo, percepção e experiência que iriam se repetir também no ensino médio.
“Sou filha de uma professora de ensino Infantil e neta de uma lavadeira. Minha família sempre priorizou minha educação. Sou negra, nasci numa família de negros, que também sempre foram presentes no meu bairro, a Boca do Rio, em Salvador, mas, ao entrar numa escola particular, isso mudou. Eu era uma das únicas negras na escola, usava trancinhas no cabelo e pegava ônibus para ir e voltar do colégio. A partir daí passei por experiências de racismo, quanto mais ocupava espaços antes nunca acessados por ninguém da minha família”, relata.
Tudo isso fez com que a estudante se interessasse por entender a questão racial no país. Na universidade, pode se aprofundar no debate sobre esse tema que marca a sociedade brasileira, inclusive integrando-se ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em raça, gênero e saúde (NEGRAS), coordenado pela professora Liliane Bittencourt, que promove uma série de ações para dar visibilidade às demandas e conhecimentos relativos à população negra.