Comparando o primeiro semestre de 2017 e o mesmo período de 2018 no Distrito Federal, pessoas negras tiveram redução de 2,8% nos ganhos do trabalho, enquanto para não negros houve aumento de 0,6%.
Em termos absolutos, a remuneração média dos negros com ocupação reduziu de R$ 2.831 para R$ 2.753, e a de não negros foi ampliada de R$ 5.030 para R$ 5.061.
As informações são do boletim especial da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) no DF, divulgado em alusão ao Dia da Consciência Negra. O documento foi apresentado nesta terça-feira (20), no auditório da Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do DF.
Com base nos resultados, a pesquisa identifica que os negros tendem a compor com maior frequência ocupações na construção e no comércio, segmentos em que as remunerações são menores.
No setor público é onde há a maior diferença de participação. Os negros ocupam 18,4% dos cargos, enquanto os não negros, 30,9%.
No Distrito Federal, autodeclaram-se pretas ou pardas 67,3% da população economicamente ativa. Com acentuada presença no mercado, pessoas negras correspondem a 73,8% do contingente total de desempregados no DF.
No grupo dos que têm ocupação, negros e pardos representam 65,8%.
De 2017 para 2018, a taxa de desemprego diminuiu de forma geral no DF. Foi de 20,3% para 19%. Para a população negra, o declínio foi equilibrado — de 22,2%, em 2017, para os atuais 20,9%. A comparação considera o primeiro semestre de cada ano.
De acordo com o estudo, a população negra se insere no mercado de trabalho de maneira mais precária do que a população não negra. Exemplo disso é o fato de negros terem maior presença no mercado de trabalho, mas também representarem as taxas mais elevadas de desemprego.
Além disso, o documento pontua que é perceptível a maior presença de negros em postos de trabalho menos protegidos, “nos quais o acesso a direitos trabalhistas e previdenciários é mais difícil, e os rendimentos são sempre inferiores aos da população não negra”.
Segundo a coordenadora da PED pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Adalgiza Amaral, os negros conseguem ocupação em tempo menor (47 semanas) do que os não negros (51 semanas). “Isso, no entanto, ocorre porque eles não querem ficar muito tempo desempregados e aceitam salários mais baixos.”
Mulheres estão em maior número na estatística de desemprego
Em 2018, constatou-se uma diferença de nove pontos porcentuais entre o número de mulheres negras desempregadas (22,6%) em relação aos homens não negros (13,6%).
Na comparação com mulheres não negras, que compõem 17% do contingente, a diferença é de 5,6 pontos porcentuais.
A pesquisa destaca ainda a importância do emprego doméstico na estrutura ocupacional de mulheres negras do DF, com 16,2% delas na profissão.
O subsecretário de Igualdade Racial, Victor Nunes Gonçalves, ressalta a importância da pesquisa e mostra a continuidade de um problema antigo que impede melhores avanços. “É o racismo que continua na sociedade. Tanto que observamos que a qualificação [profissional] de negros não garante melhores empregos e salários.”
Para combater a discriminação, ele sugere a criação de mais políticas públicas para esse grupo. “Assim como foi criada a cota racial para concurso público, são necessárias outras políticas transformadoras para que haja inserção mais igualitária do negro no mercado de trabalho”, resume.
A Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal é feita pela Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do Distrito Federal, pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) e pelo Dieese.