Fabrício Boliveira vive Simonal em cinebiografia: “Ele pagou muito caro por uma mentira”

Com direção de Leonardo Domingues, filme estreia no dia 8 de agosto

Por ISABELA PACILIO, do Quem 

Fabrício Boliveira (Foto: Ricardo Konká/Divulgação)

Após o sucesso como Roberval em Segundo SolFabrício Boliveirapoderá ser visto em breve nas telonas como Wilson Simonal na cinebiografia do cantor. O filme, Simonal, que estreia no dia 8 de agosto, conta também com Isis Valverde no elenco. A produção traz o sucesso do carioca nos anos 1960 e 1970 e aborda a polêmica de ter sido acusado de ser um informante do Dops durante a ditadura militar.

Em bate-papo com a QUEM, o ator ressalta a atualidade da história, que inclui debates sobre racismo, fake news, delação e o contexto da época. “Acho que é um avanço para o Brasil a discussão da história do Simonal. Um filme com um protagonista negro, essa temática de miscigenação e como isso aconteceu. Casou com esse momento histórico do país [que estamos vivendo]. Além de impor algum tipo de verdade, mas para abrir a discussão e alimentar isso. A partir daí a gente ir pensando, refletindo que lugares a gente quer ocupar. É essa a função da arte.”

Na preparação do personagem, Boliveira fez aulas de canto, leu biografias e conversou com a família de Simonal. “Eu já conhecia uma música ou outra. Foi um processo longo”, diz o ator. “Eu até chamo esse episódio de um racismo nacional. Simonal foi colocado de escanteio por conta de uma mentira, de ser colocado como delatador na ditadura. Mas até com a ditadura ele conseguiu resolver a história dele, porque ele foi preso. Teve uma outra persona construída, teve uma mentira. Esse cara pagou muito caro por conta disso.”

O ator afirma que o filme traz o ponto de vista negro e uma história brasileira real. Para ele, o lançamento de diversas séries e produções com essa temática ajuda no debate do racismo no Brasil. “É um assunto que não estou falando sozinho e não estou batendo nessa tecla como desbravador, a gente já sabe a história inteira, mas para a sociedade lidar com isso como uma questão a ser resolvida é recente. Algumas políticas do governo anterior fez com que isso fosse colocado em debate. A presença dos negros dentro da univerisade, por causa das cotas, a carteira de trabalho das empregadas domésticas, a presença no avião. A discussão ficou latente. Antes era [um debate] por cima de uma miscigenação amorosa, mas a gente sabe que não foi assim. A gente se juntou por causa da violência. Hoje está mais fácil de debatar as pessoas estão mais instruídas.”

Fabrício fez faculdade de Artes Cênicas em Salvador, onde mora até hoje, e se divide entre Rio e São Paulo para outros trabalhos. “Eu pensava que não ia conseguir viver disso. Já trabalhava dando aula de dança e tinha trabalhado no IBGE. Já tinha um respaldo financeiro, uma autonomia de vida. Foi um risco, mas fui muito incisivo”, diz o ator, que contracena com Isis Valverde em Simonal. Os dois trabalharam juntos na primeira novela de ambos na Globo, Sinhá Moça (2006), e viveram um casal no longa Faroeste Caboclo (2013).

O filme já foi exibido em alguns festivais de cinema e a cantora Rosa Marya Colin, que foi apadrinhada por Wilson Simonal, assistiu a uma das sessões com Fabrício. “Ela saiu tremendo [da sala] e falou: ‘Onde eu estava quando meu amigo passou por isso?’. Está batendo para muitas gerações que o que aconteceu naquela época e que está sendo reproduzido hoje. Será que estamos em um ciclo ou em uma espiral em que a gente tem uma evolução? O filme traz esse legado e para entender o que está rolando.”

O ator não canta no filme, mas fez aulas para a performance ainda ser mais assertiva. “Virar um cantor foi um grande desafio. Como eu tinha entender que nota ele estava tocando e que nota estava tocando no meu corpo para eu fazer certo. Até nas primeiras matérias gostei de ouvir, porque virou uma questão. Estou cantando? Deixa virar lenda (risos)”, brinca Fabrício. “Acho que a história do Simonal me deixou uma coisa muito forte em pensar em não estar sozinho. O que aconteceu com ele foi porque ele estava sozinho. Se a gente se junta nas possíveis questões que a gente se afina, nos deixa juntos.”

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