Feminismo negro e votar em negros é mais urgente para pobres do que ricos, diz pesquisa

No topo da lista de prioridade para pretos e pardos está a inclusão no mercado de trabalho

Por Thaiza Pauluze, da Folha de São Paulo

Arte: @designativista

Em uma hipotética lista de prioridades, votar em candidatos negros, discutir o feminismo negro e exaltar o dia da Consciência Negra, neste 20 de novembro, têm mais força entre as classes pobres do que entre os abastados e escolarizados.

É o que mostra uma pesquisa do Google, realizada pela consultoria Mindset e pelo Instituto Datafolha, que ouviu 1.200 pessoas negras ao longo do último mês de outubro —uma amostra representativa de 58% da população que se autodeclarada preta ou parda.

No caso da representatividade na eleição, 26 pontos percentuais separam os que têm menos e mais renda. Votar em candidatos negros foi considerado importante por 73% das pessoas das classes D e E, e por 47% das classes A e B.

O feminismo negro é visto como importante por 33% da classe mais pobre e por 18% dos mais ricos. Quanto maior a escolaridade, menor é a urgência atribuída ao movimento de mulheres antirracista: ensino superior (18%), médio (29%) e fundamental (30%).

Já o Dia da Consciência Negra foi considerado uma data importante para 91% dos entrevistados, mas o número é puxado principalmente pelos mais pobres: 85% dos entrevistados de classes D e E concordam que a data é um momento de luta. O percentual é maior do que entre entrevistados das classes A e B (72%).

A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Além do recorte de classe social, o estudo mapeou quais são consideradas as pautas mais urgentes para os negros. No topo, apareceu a inclusão no mercado de trabalho, prioritária na opinião de 46% dos entrevistados.

Essa parcela dos brasileiros têm um salário médio de 58% do salário dos brancos e juntos representam 65% dos desempregados do Brasil, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em seguida, foi apontado o racismo estrutural (44%), tema que permeia, por exemplo, a representatividade na política e o apagamento da história dos negros nos currículos escolares e universitários. Sete entre dez dizem não se sentir representados pelos governantes e consideram que as marcas comerciais tratam de forma superficial ou oportunista temas relacionados à negritude.

O feminismo negro foi apontado como tema urgente por 27% dos entrevistados, seguido pela matança de negros (24%). O alto número de mortes violentas é uma preocupação maior para os maios jovens, mais ricos e mais escolarizados.

De acordo com Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada 23 minutos um jovem negro é morto no país. E enquanto a taxa de assassinatos de mulheres brancas teve crescimento de 4,5% entre 2007 e 2017, a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 29,9%, segundo o Atlas da Violência de 2019.

Em quinto lugar ficaram as políticas afirmativas, como cotas raciais, vistas como prioritárias para 19%. O sentimento de urgência para esse tipo de política é maior para os homens do que entre as mulheres e é igual quando comparadas as classes sociais.

A pesquisa mostrou também que metade da população negra se considera ativista pelos direitos dessa parcela da sociedade e que a maioria concorda que o ativismo negro prioriza causas que são importantes para todos os brasileiros. Esse sentimento, contudo, é duas vezes maior entre os mais pobres, atingindo o patamar de 63% nas classes D e E, e ficando em 31% nas classes A e B.

A maioria dos entrevistados também é a favor de os brancos participarem da luta contra o racismo, que, ao seu ver, não deve ser exclusivamente dos negros e entendem que brancos devem se envolver porque fazem parte do problema.​

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