Feminismo pode começar na infância

Uma experiência como instrutora de guitarra no Girls Rock Camp Estados Unidos em 2005 acendeu em Flavia Biggs a vontade de trazer o projeto para Sorocaba. “Me apaixonei logo de cara e repeti minhas idas para o camp americano, nos anos seguintes”, lembra. Ela conta que por conta da complexidade do projeto, começou aos poucos e o primeiro passo foi a Oficina de Guitarra para Meninas, que acabou crescendo a abrindo as portas para o Girls Camp Rock Brasil, cuja primeira edição ocorreu em 2013. “Hoje nós contamos com uma equipe de mulheres maravilhosas que fazem desse sonho realidade.”

Do Jornal Cruzeiro do Sul

Com idade entre sete e 17 anos, nas três edições realizadas do evento, cerca de 180 meninas foram beneficiadas e ao todo 30 bandas já surgiram através do projeto, todas com músicas autorais. Durante o acampamento, que tem duração de uma semana, com oito horas por dia, as meninas participam de aulas com os instrumentos que escolherem. Entre as opções há guitarra, baixo, bateria, teclado e também voz. “Temos os ensaios do conjunto musical formado, e várias Oficinas de Formação como composição musical, serigrafia, defesa pessoal, palco e performance, entre outras.”

O Girls Rock Camp acontece anualmente, sempre nas férias de verão, em janeiro. Flávia conta, com muita satisfação, que recebe diversos depoimentos de mães e pais que dizem que participar do projeto fez muito bem as suas filhas, melhorando sua socialização no ambiente escolar assim como em casa. “Acreditamos na força de espaços exclusivos, pois permite desenvolvimento livre, sem amarras, inseguranças ou expectativas.” Segundo ela, é visível a mudança no comportamento das meninas, que chegam, em sua maioria, muito tímidas e vão se fortalecendo durante a semana. “Somos todas mulheres, juntas, compartilhando saberes e promovendo a autoconfiança e a confiança no trabalho em grupo.”

A idealizadora do projeto no Brasil afirma que fomentar o empoderamento feminino desde cedo é essencial, pois a infancia e adolescência são momentos essenciais na formação das pessoas e as experiências vividas neste momento podem ser determinantes no tipo de pessoa que irá se tornar. Para Flávia, fortalecer a autoestima, a confiança, promover o liberdade feminina, a consciência do “poder fazer” nessa fase da vida tem um valor inestimável para formar cidadãs ativas e conscientes de suas potencialidades. “Desde muito cedo somos bombardeadas pela mídia com padrões de beleza e comportamento que nos oprimem, causando uma busca, muitas vezes insana para se encaixar nestes padrões.” Atividades de empoderamento de meninas e de mulheres, segundo Flávia, caminham por fora destes modelos, promovendo e valorizando o “ser”, a identidade, e não a imagem.

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Mesmo com o aumento de projetos voltados para o fortalecimento do feminismo, Flávia afirma que “infelizmente ainda vivemos numa sociedade machista”. Machismo esse que afeta tanto mulheres quanto homens. Segundo ela, exigências diárias de masculinidades e feminilidades oprimem ambos; “Isso é coisa de mulher, isso é coisa de homem.” Para a feminista, as mulheres são as mais prejudicadas com essa distinção de gêneros que está impregnada na sociedade, pois são expostas diariamente a situações machistas em todos os níveis. “Desde o feminicídio, a violência doméstica, até os assédios constantes nas ruas”, aponta.

 

 

Para Flávia, a melhor maneira de barrar atitudes machistas está na educação dos meninos e meninas, que em casa e na escola, deveria ser pautada pela equidade. “Meninos não nascem machistas e meninas também não, ambos aprendem e reproduzem, ou seja, somos reflexos da nossa cultura, e a cultura é construída histórica e socialmente, aprendemos os costumes e modos de vida da sociedade em que vivemos, somos seres sociais.” Sendo assim, ela afirma que a desconstrução desses modelos é difícil por terem raízes profundas, mas cabe a “todos e a cada um”, a abolição desse ciclo de dominação/subordinação que limita a existência de uma sociedade mais justa.

 

 

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