Filme: Bróder impressiona com retrato complexo da periferia

A câmera persegue desesperadamente três garotos que correm por entre as vielas e corredores estreitos do Capão Redondo. No entanto, aqui, eles não estão fugindo da polícia ou de traficantes. Trata-se de uma brincadeira, uma disputa para ver quem chega primeiro ao local combinado. É com essa visão lúdica da periferia que Jeferson De faz sua ótima estreia com Bróder. O longa se diferencia dos demais filmes de favela do cinema brasileiro.

Após premiação da crítica no festival de Paulínia e de ganhar quase tudo em Gramado, a produção chegou ao circuito comercial neste 21 de abril e dá novo fôlego ao cinema nacional, fugindo um pouco do óbvio e dos temas batidos que foram se acumulando nos últimos anos.

Na história, três amigos de infância se reencontram depois de um período de distanciamento: Pibe (Sílvio Guindane) decidiu sair do Capão Redondo e se tornou corretor de imóveis, mas passa por problemas financeiros; Jaiminho (Jonathan Haagensen) virou jogador de futebol na Espanha e promessa de futuro craque da seleção brasileira; Macu (Caio Blat) continuou no bairro e está prestes a entrar no mundo do crime ao aceitar que sua casa seja o cativeiro de uma criança que será sequestrada.

Os três decidem aproveitar a festa de aniversário de Macu para reforçar a amizade e passar o dia juntos, passeando pelo bairro no qual cresceram. Mas a coisa complica quando os traficantes da área decidem aproveitar a passagem de Jaiminho para sequestrá-lo. É nessa hora que Macu precisará decidir qual atitude tomar: proteger o amigo ao custo de comprar uma dívida com os criminosos ou usar a situação como prova de sua coragem para entrar no grupo dos traficantes.

Capão Redondo em cena

Bróder é cheio de acertos, a começar pela escolha do Capão Redondo como locação. O bairro da Zona Sul da capital paulista não é apenas um ambiente para a história, mas um personagem do filme, além de servir como microuniverso do Brasil das contradições e das facetas multiculturais.

As situações mostram que Jeferson De tem muito mais dor de cabeça do que Spike Lee na hora de fazer críticas sociais e raciais. E a família de Macu mais uma vez mostra o homem da casa como um elemento fraco, simbolizando a ausência do Estado – uma metáfora frequente no cinema nacional.

Mas a interessante história (elaborada por Jeferson De em parceria com Newton Cannito), o olhar diferenciado e os belos planos e enquadramentos não seriam suficientes para sustentar o filme se não houvesse uma perfeita química entre os atores, e o elenco não decepciona.

Além da sempre competente Cássia Kiss, que interpreta a sofrida Dona Sônia, mãe de Macu, e Ailton Graça, no papel do padrasto inseguro e alcoólatra, Bróder funciona por conta de sua trinca de protagonistas.

Como o próprio diretor brinca, Bróder é sobre a família do Zé Pequeno (personagem do filme Cidade de Deus), é sobre como esses garotos se tornam “Zé Pequenos” diariamente. Aliás, há outro paralelo entre o filme de Jeferson De e de Fernando Meirelles: é em Bróder que conhecemos o verdadeiro “Trio Ternura”.

Fonte: Pipoca Moderna

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