Greve assombra Copa na África

Perueiros protestam contra obra para melhorar o transporte de Johannesburgo, a principal sedeAumento de 25% na tarifa de energia elétrica faz maior central de trabalhadores do país ameaçar paralisação geral durante o Mundial

 

Uma onda de greves se transformou em mais uma ameaça para o sucesso da Copa do Mundo da África do Sul.

Ontem, motoristas de vans em greve entraram em confronto com a polícia em Johannesburgo, em protesto contra a inauguração de um novo ramal de um sistema de corredores de ônibus que é a principal aposta da organização da Copa para desafogar o trânsito na cidade. Dez perueiros foram presos após tentar atacar os ônibus.

Eles estão irritados com a possibilidade de perder passageiros. “Nossa atividade dá emprego a motoristas, mecânicos, frentistas e outros. Devido à Copa, o governo quer acabar com tudo. Por isso, não queremos estrangeiros aqui”, declarou o motorista Mphempheni.

“O governo só pensa nos turistas, não em quem precisa ganhar a vida”, declarou ontem outro motorista, no bairro do Soweto, o maior da cidade.

A seu lado, um colega que se identificou como Nkuziyaba, com bafo de álcool e um pedaço de madeira na mão, foi mais explícito.

“Vamos ferrar o Soccer City [principal estádio da Copa, também localizado no Soweto]! Ninguém vai jogar lá!”
Os motoristas de vans têm poder e sabem disso. Ontem, em razão da greve, trabalhadores de regiões periféricas de Johannesburgo faltaram ao serviço na área central da cidade, que abrigará os dois primeiros jogos do Brasil no Mundial. Algumas lojas e bancos, sem funcionários, ficaram fechados.

Até serviços de emergência foram afetados. “Arrumei carona, mas muita gente não apareceu”, disse Darlington Mootara, que trabalha no hospital Chris Hani, o maior do país.

O principal ponto de vans do Soweto ficou deserto à tarde, num horário em que centenas de veículos disputam cada centímetro de espaço para levar e trazer passageiros. “Só vendi algumas balas hoje”, contou o ambulante Boyi Nxumalo, que tem uma barraquinha no local.

Para aumentar a preocupação da organização da Copa, a Cosatu, maior central sindical do país, ameaça com paralisações devido ao aumento de 25% na tarifa de energia elétrica anunciado pelo governo.

“Não estamos em greve em razão da Copa, mas não vamos deixar de entrar em greve por causa dela. Se o governo não reajustar a energia em níveis adequados, a greve e a Copa podem coincidir”, disse o porta- -voz da central, Patrick Craven.

Com 2 milhões de filiados, a Cosatu é uma gigantesca máquina que controla os trabalhadores dos principais setores da economia do país. Alguns diretamente envolvidos com a realização da Copa, como os de telecomunicações, energia e polícia, além de profissionais de saúde e até atletas de futebol.

A central diz que ainda negocia com o governo a redução do reajuste para algo em torno de 6%. “O prazo para negociar está acabando”, avisou Craven.

Fonte: Folha de S.Paulo

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