O Brasil já foi considerado uma segunda África. Fala-se em genocídio em nosso continente com a mortandade de negros na Guerra do Paraguai. Fala-se em processo de “branqueamento”.

A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul. Foi travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta pelo Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra estendeu-se de dezembro de 1864 a março de 1870.
Mas, como foi possível ser o Brasil considerado nos idos de 1864 uma segunda África? Tudo ocorreu com a Diáspora africana — também chamada de Diáspora Negra. Ou ainda com o fenômeno sociocultural e histórico que ocorreu em países além do continente africano devido à imigração forçada, por fins escravagistas mercantis que perduraram da Idade Moderna ao final do século XIX, de africanos.
Hoje, cerca de cinco séculos após o início da chegada de povos escravizados da África às Américas, as rotas, as influências culturais, a miscigenação e as histórias da diáspora negra são tema de uma das maiores exposições de arte realizadas pelo Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, o Masp, nos últimos anos.
Muitas obras de arte. São mais de 400 obras e mais 210 artistas do Brasil e do mundo, selecionados para contar essas várias histórias. São desenhos, pinturas, esculturas, filmes, vídeos, instalações, fotografias e documentos que dizem respeito às relações históricas e de fluxos entre os três continentes banhados pelo Oceano Atlântico.
As curadoras do evento ingenuamente narram um encontro de culturas e, não a violência desmedida dos negros. Dizem: “Nos navios negreiros, vieram não só pessoas escravizadas, mas símbolos, culturas, religiões e filosofias”, explica uma das curadoras da exposição, a historiadora Lilia Moritz Schwarcz, que montou a grande mostra com mais quatro nomes, Adriano Pedrosa, Ayrson Heráclito, Hélio Menezes e Tomás Toledo.
Informam ainda que apesar de não ter sido pensada com esse propósito, a mostra ocorre nos 130 anos da abolição da escravidão no Brasil, entende que “A data precisa ser politizada. Temos que nos perguntar se há motivo para comemorar o fato de o Brasil ter sido o último país a libertar os escravos”, questiona Lilia Schwarcz.
Contudo, nenhuma forma de arte pode ser reprimida ou mesmo suprimida. Trotsky constata que o pensamento livre e independente, que ele considera a condição incontornável da criação artística, houvera sido sacrificado no altar do “realismo socialista” de seu tempo. A marginalização da poeta Anna Akhmátova, o “desaparecimento” num campo de concentração do poeta Iossip Mandelstan e, de outra maneira, o suicídio de Maiakovsky foram marcas indeléveis do sufocamento da criação artística e intelectual que se processava no país.
As obras expostas no MASP devem ser recebidas com muitos aplausos sem que os laivos ingênuos dos curadores nos anestesiem a consciência.