Histórias de vida

Maurício Pestana (Foto: Rafael Cusato)

Morando há mais de 10 anos nas ruas de Patos de Minas, Valter Fonseca foi aprovado em primeiro lugar em um concurso público na cidade mineira. Depois de diversas tentativas frustradas em busca de um emprego, Valter contou com a ajuda de uma assistente social, que viu no concurso uma oportunidade para ele finalmente conseguir uma ocupação. Então, imprimiu provas, simulados, notícias e cadernos de provas antigas para que ele pudesse estudar nas ruas.

Enviado por Maurício Pestana via Guest Post para o Portal Geledés 

No mesmo período, Joaquim Corsino dos Santos realizou o sonho de se graduar em direito aos 63 anos, após pedalar cerca de 42 quilômetros diariamente de sua casa, em Cariacica, até a faculdade em Vitória (ES), durante o período que permaneceu no curso. Nascido em Itapemirim (MG), Joaquim chegou ao Espírito Santo aos 18 anos. Logo começou a trabalhar como pedreiro.

Sem desistir do sonho de estudar, foi juntando dinheiro ao longo dos anos até conseguir entrar em uma faculdade privada, feito realizado muitas décadas depois. Os dois casos acima têm um ponto em comum. Ambos os personagens são negros, ambos nunca deram bola para a idade, para o preconceito e para outros fatores que infelizmente reprovam grande parte dos brasileiros.

Vivemos em um país onde mais de 50% da população é negra sem que isso se reflita em igualdade de oportunidades. Pessoas acostumadas a ouvir NÃO e viver em extrema dificuldade sabem, em geral, valorizar as raras chances de melhorar de situação. Valter e Joaquim são exemplos cada vez mais comuns em um país que nos últimos 15 anos tirou mais de 30 milhões da miséria e mudou o futuro de uma infinidade de seres humanos, esquecidos há mais de um século por uma abolição inacabada.

Pessoas que hoje podem estudar, trabalhar, chorar, questionar e até protestar contra tudo e contra todos, porém jamais vão poder ignorar as mudanças radicais que os poucos 15 anos deste início de século 21 fizeram em suas vidas no Brasil. Século este que trouxe as cotas, o Prouni (Programa Universidade para Todos), entre outras ações afirmativas, colocando mais negros e negras nas universidades do que em toda a história da educação em nosso país.

** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

 

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