Hoje, eu também estou lá

FONTENatália Carneiro, Geledés
Posse de Sonia Guajajara como ministra dos Povos Indígenas e de Anielle Franco como ministra da Igualdade Racial (Foto: @imatheusalves)

Durante minha adolescência, acompanhei de longe a presença de Luiza Bairros como Ministra da Igualdade Racial. Entre os sorrisos e as comemorações das minhas mais velhas, assisti toda a simbologia da presença de uma liderança do movimento de mulheres negras  ocupando aquele posto. Existia, naquele momento, uma falta de compreensão da minha parte sobre o real papel de Luiza, mas sabia que era um momento importante e que em algum momento gostaria de me sentir como as mulheres negras à minha volta. Doze anos depois, entendi o sentimento que vi, chamava-se pertencimento.

Ao acompanhar a posse de Anielle Franco como Ministra da Igualdade Racial do governo Lula, me emocionei com cada palavra, pois aquelas palavras também eram minhas. Me emocionei com sua presença porque me vi naquele lugar.  Me emocionei com as promessas de ministério, pois essas promessas me representam. Me emocionei com as tranças que corriam sua cabeça pois no meu cabelo correm as mesmas. Me emocionei por ter expectativas após quatro anos de deslocamentos, incertezas e opressão contra a população negra. Me emocionei por poder sentir o mesmo sentimento de minhas mais velhas ao ver Luiza Bairros ocupando o mesmo cargo.

Me emociona também ver a presença de uma mulher negra, mãe, cria da Maré, estar ali com qualificação técnica para exercer seu cargo, fruto de políticas públicas, ações afirmativas, pelas quais  o movimento negro tanto lutou nas ultimas decadas.

Me ver representada em toda a posse de Anielle não diz apenas sobre o meu sentimento ou apenas sobre seu posto. Mostra que ao longo de um governo antidemocrático, o movimento negro trabalhou diariamente para que políticas públicas de promoção da igualdade racial se fortalecesseem e que este movimento tem um projeto politico que dialoga com todas a estrutura desse país.

A posse me faz ter esperança em ver minha mais novas, ter o mesmo sentimento de pertencimento que tive com mulheres negras ocupando cada vez mais espaços públicos.  


Natália Carneiro é Coordenadora de Comunicação Institucional em Geledés Instituto da Mulher Negra e Coordenadora de comunicação, na Casa Sueli Carneiro

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