Homem feminista: ser ou não ser?

No último texto, expliquei as razões que me fazem acreditar porque homens podem, sim, ser feministas. Agora, pretendo explicar os motivos que me levam acreditar porque, além de poder, nós, homens, devemos ser feministas.

A opressão machista não recai apenas sobre as mulheres, mas entendo que recaia de uma outra forma e, provavelmente, de forma mais violenta. Não só quanto à violência simbólica, mas também a violência física. Deve ser mais difícil um homem apanhar de suas companheiras, pelo menos não vemos isso na mídia o tempo todo. Contudo, não podemos negar que o machismo também oprime os homens.

Todo aquele estereótipo sobre o que os homens devem ser ou não, o que eles podem fazer ou não, está estabelecido na nossa sociedade justamente porque ela é machista. Um homem que chora, e não tem vergonha disso, é um alvo fácil para piadas, que partem dos mais diferentes lugares. E qual é o problema de chorar? Somos mais ou menos alguma coisa porque nossos olhos derramam lágrimas? Nossa virilidade é atingida porque somos capazes de nos sensibilizar com uma cena de amor ou um filme triste? No meu entendimento, não poder chorar quando sentimos vontade de fazê-lo é uma forma de opressão das mais fortes, uma vez que o choro é uma das maiores formas de expressão.

E esses padrões acabam por recair especialmente naqueles homens que fogem da heteronormatividade. Você nem precisa ser gay, mas caso se comporte como um (seja lá o que isso signifique), sua ‘masculindade’ já será contestada. Ser gay não significa não ser homem, é só porque a ideia do senso comum diz como um homem deve se comportar e, aparentemente, a homossexualidade contraria tudo que essa ideia prega.

Homens que lutam contra o machismo não lutam apenas contra a violência que é colocada sobre a mulher; lutam também contra a violência que eles mesmos sofrem. E, aqui, não se trata de dizer quem é mais ou menos violentado. Creio que isso seja difícil de medir, pois só quem é o sujeito do sofrimento é capaz de dizer quanto aquilo lhe dói. As estatísticas apontam que as mulheres são as maiores vítimas, claro, mas também há de se perceber o tipo de violência que está sendo considerada. E, sim, elas são o alvo primeiro, mas não é preciso ignorar as experiências vividas pelos homens.

Não poder ser aquilo que realmente somos porque há estruturas que nos limitam e regulam pode ser extremamente cruel. Não faz sentido que os homens, pelo menos aqueles que percebem isso, não reajam para acabar com essas regras. Todo e qualquer homem que seja capaz de ver tudo aquilo que ele não pode fazer ou teve que fazer de outro jeito porque nossa sociedade machista esperava algo diferente dele é um bom candidato a se juntar a nós nessa luta.

Somos todos vítimas, em maior ou menor grau, talvez, e por isso devemos lutar todos a mesma luta.

Fonte: Blogueiras Feministas

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