Estive pensando de onde é que vem o ditado popular que diz que homens não choram. Porque todos os homens que eu já vi na minha vida choram! Eles costumam ter um par de olhos, a maioria não tem nenhum problema de desidratação nessa região e, não menos importante, possuem um nariz, que serve para assoar quando entope durante o choro. Então esse ditado, na verdade, é uma baita enganação.
por Graziely dos Reis Lemes enviado para o Portal Geledés
A minha questão é: por que fazemos isto? Para que eles neguem uma parte importante do que os faz humanos? O que esperamos de nossos homens? Quando confiamos na ideia de que homens não devem chorar, também confiamos na ideia de que eles devem ser sempre fortes, protetores e meio enigmáticos? Isso parece um filme de terror com comédia que fracassa em ambas as categorias.
Desconfio que essa ideia limitada tenha a ver com outra ideia limitada: a de que as mulheres são seres excessivamente emotivos e frágeis. Isto sem considerar aquela falação de que mulheres precisam se sentar de forma diferente, ser graciosas e se trancar na torre enquanto gentilmente esperam ser salvas pelo príncipe encantado. Aqueles que acreditam nisso nunca realmente olharam para uma mulher sem a fantasia daquilo que esperavam ver nela.
Homens não são sujeitos mágicos descendentes de Hércules. São seres humanos, muito normais, cujas células são 70% preenchidas por água, que sentem um monte de coisas, que choram e que morrem também. Posso usar as mesmas características para descrever qualquer mulher (e qualquer representante de outros gêneros também). Mas continuamos achando que mulheres, porque choram, são mais fracas que homens, que na verdade também choram, não é?
Quando homens não podem chorar ou falar sobre suas emoções e frustrações, de qual forma eles se expressam? Não me lembro de nenhum homem frustrado e que não sabe lidar com as próprias emoções conseguir agir com docilidade, porque homens, além de não chorar, também não podem ser doces. Ao contrário, as memórias e as manchetes demonstram as diferenças que tentamos construir entre homens e mulheres, entre os fortes e as fracas, entre os que batem e as que apanham, os que matam e as que morrem. Se isso, tão corriqueiro, não nos indigna, por que nos incomodamos com a demonstração de sentimentos de um homem? O que queremos que eles sejam? O que eles achamos que são?
Obviamente não acredito que o fato de os homens não chorarem seja o responsável cabal para tantas manifestações de descontrole e agressividade, não apenas para com mulheres, mas também entre si. O que estou dizendo é que, enquanto continuarmos a educar nossas crianças, seja na família, na escola, na igreja, com a ideia de que homens são fortes e, por isso, não choram, também continuaremos a não lhes ensinar a lidar com a dor, com o medo, com a frustração. Com isso, continuarão a agir como verdadeiros trogloditas que, quando não sabem o que fazer, lançam mão da força em forma de violência. Violência essa que se debruça não apenas sobre as mulheres mas também sobre seus próprios corpos impedidos de viver a delícia de se entregar às emoções, partilhar conhecimento e afeto para além da força que tenta transformar-lhes em algo que não são e que vez ou outra se revela das maneiras mais limitadas e animalescas possíveis.
graziely dos reis lemes
Bacharel em Psicologia
Mestranda em Educação-UFMT
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