As ideias feministas fazem toda a diferença nas eleições – Por: Fátima Oliveira

Sou e estou feminista desde adolescente. É como feminista que participo da luta de ideias nas eleições, convicta de que, mesmo o feminismo não sendo detentor de votos – e jamais oferecerá a qualquer candidatura “tantos votos” de cabresto –, faz toda a diferença no debate eleitoral como ideologia libertária, conferindo a qualquer candidatura um verniz mudancista.

O feminismo não é um balcão de negociação de votos, a exemplo de algumas denominações e seitas religiosas cristãs! Uma candidatura que agrega um polo feminista contará com pessoas alertas aos retrocessos e dispostas ao enfrentamento do fundamentalismo religioso, em defesa do Estado laico.

Cabe pontuar que “o feminismo é movimento de mulheres, mas nem todo movimento de mulheres é feminismo”. O feminismo é uma concepção geral de luta contra a opressão de gênero e o patriarcado, que urge ser superado nas sociedades democráticas, atualmente expresso com mais vigor no fundamentalismo religioso centrado nos corpos das mulheres, daí porque é crucial a defesa dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos para a consolidação da República e contra visões teocráticas de Estado!

Movimento de mulheres é toda mobilização de mulheres que aborda problemas referentes à situação da mulher na sociedade, tanto com caráter e perspectiva feministas quanto privilegiando as “lutas comunitárias” (contra a carestia, por equipamentos sociais públicos, saneamento básico, transporte, habitação etc.).

A parcela do movimento de mulheres que trata de problemas materiais em si joga um papel essencial na luta pelas “necessidades imediatas de gênero” – as condições materiais de existência (moradia, saneamento, transporte, equipamentos sociais etc.) – e é um caldo de cultura perfeito para o entendimento de que a cidadania feminina exige luta específica.

A parcela feminista luta por condições materiais de existência dignas e tem no horizonte as “necessidades estratégicas de gênero” – as perspectivas de um futuro sem opressão, de equidade entre os gêneros numa nova sociedade. No Brasil, os veios mais dinâmicos do feminismo contemporâneo são as mulheres negras, que tencionam o feminismo a incorporar a luta antirracista; e as trabalhadoras, que forçam o feminismo a não esquecer o antagonismo que há entre os interesses das mulheres da burguesia e das classes populares, como disse a feminista e bolchevique russa Alexandra Kollontai (1872-1952).

Uma campanha eleitoral é um espaço privilegiado de conscientização de amplas massas, capaz de sensibilizar pessoas em luta dos diferentes movimentos sociais e até aquelas solitariamente indignadas. Mas não só! É um espaço valioso para a conscientização das candidaturas, sejam femininas ou masculinas. Com o recrudescimento do fundamentalismo no mundo, não é simples para uma candidatura assumir, ainda que difusamente, a bandeira dos direitos da mulher. Logo, precisam de instigação, posto que vivemos num país que nunca concedeu direitos às mulheres: nós os conquistamos, todos, com muita luta!

Recordemos a campanha à Presidência da República em 2010, que foi a mais difícil que vivenciei, pois envolveu exponencialmente os corpos das mulheres e exigiu do feminismo um ativismo monumental, como relatei em artigo especial para o site Viomundo, em 7.10.2010, “Eleições presidenciais 2010: em leilão, os ovários das mulheres!” Iniciei dizendo: “Isso aqui, o Brasil, não é uma colônia religiosa, não é um Reino nem um Império, é uma República!”

 

 

Fonte: O Tempo

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