Jorge Ben Jor revela como será o show de seu cultuado disco ‘A Tábua de Esmeralda’

POR KAMILLE VIOLA

 

Rio – ‘Salve. Não, não, senta. Senta. Não, não,senta. Não, não, pra sair legal. Senta. Então tem que dançar dançando. Dançando’. Com essa introdução começa o mítico disco ‘A Tábua de Esmeralda’, lançado por Jorge Ben (hoje Ben Jor) em 1974, cultuado mundo afora. Em 11 de fevereiro, no Morro da Urca, durante um show, o cantor e compositor anunciou que iria atender aos apelos dos fãs pela Internet e finalmente realizar um show com o repertório inteirinho do LP. Em uma longa conversa, o artista, pouco afeito a entrevistas, contou com exclusividade a O DIA detalhes sobre a apresentação, que já nasce histórica.

Jorge ficou sabendo da campanha criada na rede através de seus filhos. “Mas nos shows, o pessoal sempre pede músicas do disco”, conta ele, que, desde o ‘Acústico MTV’ (2002) voltou a incluir no repertório de seus shows canções de seus álbuns antigos, a maior parte delas do ‘Tábua’, como ‘Zumbi’ e ‘O Namorado da Viúva’, entre outras, todas com novos arranjos. “Fico muito feliz dos fãs conhecerem e gostarem das minhas músicas antigas. Muitos nem eram nascidos quando lancei esse disco”, diz.

O aguardadíssimo show estava previsto para julho, mas esbarrou em diversos empecilhos que o adiaram, como a atribulada agenda do artista, a busca por patrocínio e a necessidade de reunir novamente a banda que gravou o disco. “Ainda estou contactando os músicos. Já falei com o Dadi (Carvalho, baixista que era da banda de Ben Jor na época e saiu para formar A Cor do Som). Paulinho Tapajós, produtor, está vendo isso. Mas o show sai ainda este ano”, garante. Sobre o local, ele sonha: “Theatro Municipal ou Sala Cecília Meireles seria demais”.

Nesse meio tempo, Jorge ainda viu aprovarem no Ministério da Cultura um projeto em seu nome para captação e realização do show, com custo improvável de R$ 8.613. “Imagina, com esse valor não dá nem para começar”, analisa ele. “Não sei como aceitaram um projeto em meu nome sem autorização minha, mas meus advogados estão vendo isso”.

Outra ótima notícia é que ele vai tocar as músicas no violão, com os arranjos originais. “Não toco mais violão porque não combina muito com certas músicas, preciso de um som mais alto”, minimiza ele, sobre o fato de ter trocado o instrumento com que se celebrizou, com uma incrível levada criada por ele — o tal “samba esquema novo”. “Tenho escutado o ‘Tábua’ todos os dias. Tem música ali que eu nem lembrava mais como era”, confessa, ao eleger o álbum seu preferido, ao lado de, justamente, ‘Samba Esquema Novo’ (1963), que o lançou.

Com energia impressionante aos 69 anos, ele, que faz dois shows por semana (“antes eram mais de 200 shows por ano, este ano pedi para diminuir, porque às vezes tinha que viajar para cidades muito distantes uma da outra”), vai rodar o Brasil com o repertório do ‘Tábua’.

RACISMO

Além da turnê, ele ainda se divide entre Rio, São Paulo e Estados Unidos, onde vivem sua mulher e dois filhos. “Outro dia, dei uma entrevista nos Estados Unidos contando como algumas coisas são diferentes. Lá, aqueles negões cheios de trancinha no cabelo entram numa loja cara e são tratados como todo mundo, ‘Hey, mister'”.

Ben Jor revela que ainda é vítima de racismo. “Muito!”, diz ele, pioneiro no Brasil ao tratar da raça negra e exaltar sua cultura e suas músicas. “Quando estou de carro com meu motorista e o produtor, sempre somos parados em blitz. Eles já chegam mandando sair, mexendo em tudo. Não dá para andar de BMW, é melhor andar com um carro velho. Ou então andar com um branco junto”, ironiza Jorge. Mas não o reconhecem? “Não. Uma vez eu disse quem era e o cara falou: ‘Não conheço você, nunca ouvi falar. Conheço outros cantores'”. O artista pioneiro em falar da raça negra no Brasil ainda é vítima do preconceito que cantou.

DISCO TRAZ SÓ SUCESSOS

Amor pela alquimia rendeu clássicos

‘A Tábua de Esmeralda’ reflete a paixão de Jorge Ben Jor pela alquimia, pela qual ele se interessou na juventude, quando foi seminarista por dois anos, e que continuou estudando quando morou em Paris (no luxuoso hotel Georges V), nos anos 70. Jorge se encantou com os estudos de São Tomás de Aquino (a quem ele chama de Santo Tomaso de Aquino, em italiano, e que homenageou batizando seu filho mais velho de Tomaso) sobre o assunto e aí nasceu seu interesse. “A igreja não era contra a alquimia. Quem não gostava dos alquimistas eram os médicos, que curavam doenças que eles não curavam. Naquela época eles já deviam conhecer coisas modernas como a penicilina”, teoriza ele.

A capa do disco foi feita com figuras de Nicolas Flamel, notório alquimista francês. A faixa que abre o disco, ‘Os Alquimistas Estão Chegando’, é explícita na homenagem. A seguinte, ‘O Homem da Gravata Florida’, é um tributo ao alquimista Paracelso. ‘O Namorado da Viúva’ é sobre Flamel, que se casou com uma mulher, Madame Perrenelle, que já tinha sido viúva três vezes. “Por isso todos tinham medo dela, como na música”, diverte-se Jorge.

‘Hermes Trismegisto e sua Celeste Tábua de Esmeralda’ fala sobre o documento, contendo os fundamentos da alquimia, que Trismegisto teria gravado em uma esmeralda.

Ele garante que em Paris ainda há alguns alquimistas. “Eu vivia perto do Quartier Latin, ali perto havia alguns pontos de encontro deles”, conta. Em 2008, levou Gilberto Gil para conhecer a casa de um alquimista. “Foi no ano do Brasil na França. Ele viu uma coisa lá, eu também”, diz. O quê? Ele ri. Insisto. “Não vou contar. Parece que aquelas paredes estão impregnadas do alquimista que viveu lá”, deixa no ar.

 

Fonte: ODia

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