Jovens não acreditam que superação do racismo e do machismo partirá da classe política

Os jovens brasileiros não acreditam que a superação dos preconceitos e do sexismo será resolvida pela classe política. É o que mostra o resultado de uma enquete conduzida pela Unicef, e divulgada com exclusividade pelo GLOBO, junto a 22.078 jovens, entre 12 e 24 anos, de todas as regiões do país. Apenas 5% deles acreditam que as mudanças para tornar o país mais igual vão partir das autoridades políticas, enquanto que 88% acreditam que o enfrentamento de demandas como machismoe racismo é essencial para o desenvolvimento do país.

por Luciano do Amaral e Paulo Assad no O Globo

Plenário da Câmara dos Deputados não consegue abrir sessão por falta de quórum | Aílton de Freitas / Agência O Globo

O questionário da Unicef, divulgado pela ferramenta U-Report no Facebook, pesquisou a percepção de jovens sobre temas sensíveis que envolvem a situação de minorias no país. Os resultados do levantamento são apresentados à sociedade e políticos, a fim de dar voz à juventude, para que essas opiniões sejam levadas em consideração pelos responsáveis por políticas públicas no Brasil.

— A política deve refletir a composição social mas, infelizmente, o cenário no Brasil é o inverso. Em 2019, apenas 15% da Câmara será composta por mulheres. Essa falta de representatividade afeta diretamente a elaboração de políticas públicas consistentes voltadas ao combate às desigualdades. Ainda assim, a política é, em um país de democracia representativa, uma importante ferramenta de transformação — conta a servidora pública paulista Gabriela Beira, de 24 anos, co-criadora da revista online Capitolina, voltada para garotas adolescentes, com intuito de fomentar o debate entre essas leitoras, com um conteúdo acessível e inclusivo.

Segundo ela, a promoção de igualdade entre gêneros é fundamental para a superação do atual cenário, e a abordagem do questionário ter trazido a perspectiva do desenvolvimento sob a ótica do combate às desigualdades é fundamental nesse sentido. Para Gabriela, ambientes com mais diversidade, inclusive, contribuem para o aumento da produtividade e incrementa o setor de inovação.

— A revista é formada por jovens mulheres espalhadas pelo Brasil, com pluralidade racial, de orientação sexual e de idades, de crenças e trajetórias. Pra gente, essa é justamente a chave para transformar a realidade desigual do nosso país: a diversidade — afirma Gabriela.

Assim como Gabriela, Letícia Barros, de 21 anos, também tenta ajudar outras mulheres e promover a igualdade de gêneros. Estudante de ciências da natureza na USP, ela e outras três colegas preparam  um site onde mulheres de todo o país poderão buscar instituições que prestam ajudam a vítimas de violência de gênero.

— Não adianta eu falar que deve partir da ação do Legislativo, do Executivo. Acredito que essas mudanças vão depender muito do ensino. É a partir dali que vamos formar novos cidadãos conscientes desses problemas — conta Letícia, que também administra a página Todas Fridas, no Facebook.

Para o jovem jornalista Leonne Gabriel, também com 21 anos, a mobilização pelo fim do racismo precisa englobar a sociedade como um todo. Na Pontíficia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), onde estuda, ele passou a fazer parte do coletivo negro (chamado “Nuvem Negra”) e participou da criação de uma campanha para que a instituição contratasse mais professores negros. Ao mesmo tempo, o estudante trabalha no Instituto Identidades do Brasil, na busca de paridade racial no mercado de trabalho.

— A luta pela igualdade é uma causa de todos independentemente da raça. O racismo é resultado de uma estrutura que é mantida coletivamente, inclusive pelas instituições e empresas. Como bem colocado pela Constituição, os desiguais devem ser tratados na medida da sua desigualdade para conseguirmos ter uma sociedade mais igualitária — defende o jovem.

+ sobre o tema

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o...

para lembrar

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o...
spot_imgspot_img

Feira do Livro Periférico 2025 acontece no Sesc Consolação com programação gratuita e diversa

A literatura das bordas e favelas toma o centro da cidade. De 03 a 07 de setembro de 2025, o Sesc Consolação recebe a Feira do Livro Periférico,...

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros ou que tenham protagonistas negros é a proposta da OJU-Roda Sesc de Cinemas Negros, que chega...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o Brasil teria abolido a escravidão oito anos antes da Lei Áurea, de 13 de maio de...