A situação dos direitos humanos no Brasil hoje, a busca por um país mais consciente, mais respeitoso e menos desigual, abriu as discussões no primeiro dia do Power Trip Summit, realizado por Marie Claire, neste domingo (22), no hotel Fairmont, no Rio de Janeiro.
Médica, escritora e ativista pela causa antirracista, Jurema Werneck detalhou sua história de luta. Pessoas negras, conta, sabem o que é ter a experiência de ter que sobreviver constantemente ao genocídio. “Esse país foi construído pela violência todos os dias. Não é que existe falta de empatia. Essa nação foi fundada na crueldade e se mantém nela”, opina Jurema, co-fundadora da Criola e diretora-executiva da Anistia Internacional.
Em conversa conduzida pela editora sênior de beleza de Marie Claire, Paola Deodoro, Jurema disse ser uma ativista que reconhece a potência da luta social. Para ela, apesar de termos muito o que avançar, estamos caminhando porque as pessoas “não desistiram de fazer esse país diferente”. “A utopia da minha bisavó está mais perto. A gente não pode parar, senão o outro lado que quer a violência domina. A gente não pode deixar. Tenho fé que a vida vai melhorar”, disse Jurema, sendo aplaudida pelo público – formado pelas principais lideranças femininas do país. “O ativismo parte da indignação”.
Ela também falou sobre o avanço da tecnologia – com telefones com câmeras – que ajudam a tornar público e real situações que antes não tinham nenhum tipo de testeminho. “A pessoa querendo ou não, é interpelada e tem que, imediatamente, escolher um lado. Quando a imagem chega você está dentro. Isso é muito potente”, diz. Jurema citou o caso de racismo que aconteceu recentemente em um metrô em São Paulo, quando os demais passageiros se uniram para que o crime não ficasse impune. “Nossa voz, do ativismo negro, chegou na casa de todo mundo. As pessoas já sabiam e fizeram a coisa certa”, opina. “O próximo George Floyd pode ter a vida salva. Essa é a conquista da luta”, comemora.
Genocídio de povos indígenas
Jurema, que é ainda parte da direção do Fundo Global para Mulheres, falou ainda sobre a atuação da Anistia junto ao movimento indígena. Segundo ela, os povos originários estão sempre contando suas urgências – sobretudo na defesa de territórios invadidos por garimpeiros. “Os povos indígenas têm vivência milenar de enfrentar genocídios. Ouçam a voz deles”, pediu.
A luta do movimento LGBTQIA+ também entrou em pauta na primeira mesa do Power Trip Sumitt. Jurema lembrou que em 2018, 27 vagas parlamentares em todo Brasil foram preenchidas por mulheres trans e travestis, uma grande conquista já que, por muitos anos a sociedade naturalizou ver mulheres trans e travestis ocuparem lugares na prostituição.
“A sociedade tinha delimitado até onde você pode ir. Essas mulheres romperam barreiras. O Brasil é o campeão de assassinatos de mulheres trans no mundo. Tem alguma coisa muito errada. Isso dá noção do tamanho da barreira que esse movimento enfrenta”, disse a ativista. “Para fazer a diferença precisamos reconhecer que existe uma potência ali que tem voz”, completa.
A violência, aliás, é um medo constante para quem faz da luta pelos direitos humanos sua missão de vida. Jurema lembrou, por exemplo, o assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018. “O Brasil é um dos que mais mata gente que luta”, lamentou. “Está muito arriscado viver na luta. As organizações têm sido perseguidas, criminalizadas”.
A 7ª edição do Power Trip Summit é uma realização da Marie Claire, com patrocínio de Vichy Laboratoires e Animale, apoio de Magalu, Alexa, Claro e Unico, parceria de Merz Aesthetics e Women@, o grupo de afinidade de mulheres da Meta. O Hotel Fairmont Rio é quem hospeda o evento.