No dia 8 de junho de 2021, Kathelen Romeu, 24 anos e grávida de 3 meses, foi assassinada com um tiro de fuzil quando estava saindo de uma visita à casa da avó, numa favela do Rio de Janeiro. Um ano depois da vida da jovem ter sido tirada por um Estado que segue negligenciando as populações negras, seguimos sem respostas e justiça por Kathelen e seu bebê. O julgamento dos cinco policiais militares réus por falso testemunho, teve início apenas onze meses após o seu assassinato. Os relatos da avó e mãe da jovem me partem o coração. A negação de ajuda por parte dos políciais, a deslegitimação dos seus testemunhos por parte da defesa dos réus, a dor que elas precisam reviver todos os dias daquele momento que tirou Kathelen delas.
Em uma narrativa já conhecida e usada de forma recorrente pelos agentes de segurança pública, de que era uma troca de tiros, uma operação para barrar o tráfico na região, nós, mães negras, seguimos enterrando nossas filhas e filhos, chorando nossos mortos e seguindo com nossas vidas como se essas dores não nos assolaram dia após dia. Ser mulher, negra, favelada e mãe no Brasil significa que podemos acordar, sair e não saber se iremos voltar, ou ter nossos filhos e filhas conosco. Uma lástima pensar que assim como Kathleen, tivemos tantas outras mães, mulheres negras e gestantes que perderam suas vidas e seu direito a maternar.
Nada aqui é um caso isolado, é tudo recorrente. Mudam os nomes, as favelas, as mães que irão chorar. E não precisamos pensar muito para lembrarmos que depois de tirarem essa jovem da sua família de forma fria e desumana, nada mudou na política de segurança do Rio de Janeiro. Tivemos chacina na Vila Cruzeiro, no Complexo do Salgueiro, assassinato em câmara de gás dentro de viatura da PRF. Ser negra e negro nesse país é uma dor que vem e nunca passa porque sabemos que nossos corpos e do nosso povo são os alvos