Convidado da Flip, autor fala sobre ‘Também os Brancos Sabem Dançar’, que conta a história do estilo musical a partir de narrativa sobre temas identitários
A prisão narrada em Também os Brancos Sabem Dançar aconteceu há dez anos. Mesmo assim, parece algo muito atual. Você sente que o tratamento mudou? Ou ainda estamos em um período de aversão ao expatriado? Acho que a situação piorou. Principalmente na Europa. Outros países que eram abertos estão se fechando, por razões políticas e sociais. As pessoas estão começando a copiar os piores exemplos, como o caso dos refugiados sírios. Isso está contaminando o mundo todo. É a questão do nosso século.
O título do livro surgiu de um ditado angolano. Qual é o ditado, e qual o seu significado? O ditado diz: “Também os brancos conhecem boas canções”. Traduz-se algo como: “Não podemos julgar ninguém pelas aparências”. O título do livro vem para alertar sobre essa questão. Eu achei que seria melhor mudar o ditado para deixar mais próximo à história do livro dedicado ao kuduro, que tem a tônica da dança. Esse ditado caiu como uma luva.
Não tem medo de que o título incomode pessoas que desconhecem o ditado?Eu sempre achei que a perversidade está mais no olhar de quem vê no de quem mostra. Nunca faria uma provocação tão barata. Embora eu saiba que pode causar esse tipo de interpretação, a última coisa que quero é provocar. Mas até em Angola fui atacado por esse título, o que é engraçado.
Em uma passagem do livro, você fala sobre o termo “world music” e cita Paul Simon como um exemplo de artista que age como explorador português. Como você enxerga essa busca pela cultura do outro, como feito por Simon, David Byrne e outros? Há lados positivos e negativos. A gente tende a celebrar quando um nova-iorquino vai para a África e descobre a música do Mali e do Congo. Porém, quando o maliano e o congolês fazem isso, não. No entanto, sei que muita gente começou a ouvir o grupo sul-africano Ladysmith Black Mambazo através do disco Graceland (do Paul Simon). Eu adoraria que eles tivessem conquistado a fama por conta própria. Mas eles chegaram, e é isso que importa.
Em seu livro, uma passagem diz: “Todos nós temos algo de valor para partilhar ao mundo”. O que você deseja partilhar? Eu adoraria que as histórias que eu conto sirvam de convite. Ou seja, para fazer alguém ir mais além. E que esse mais além seja pegar um avião e ir ouvir kuduro em Luanda (capital de Angola).
Como se sente por ter sido convidado para a Flip? É uma honra imensa. Eu sou novo no mundo da literatura, então receber esse convite é uma coisa incrível.