Binyavanga entrelaça suas memórias de infância, adolescência e vida adulta à história contemporânea do continente africano
Por Jorge Ialanji Filholini para o Portal Geledés
Divulgação
A Kapulana publica no final de novembro um dos livros mais aguardados do ano, a obra Um dia vou escrever sobre este lugar, do queniano Binyavanga Wainaina. Em uma narrativa deslumbrante, o autor entrelaça suas memórias de infância, adolescência e vida adulta à história contemporânea do continente africano. Utilizando referências políticas, da cultura africana e da cultura popular mundial, o autor nos apresenta as constantes transformações acontecidas em países como Quênia, África do Sul, Uganda, Gana e Togo, a partir de seu próprio crescimento e amadurecimento como pessoa e, principalmente, escritor e constante observador do mundo ao seu redor.
Fascinado pelas diversas linguagens humanas, de palavras ao corpo, Binyavanga descreve, na obra, as diversas nuances e facetas de uma África gigante, complexa, mal compreendida, presenteando os leitores com histórias, acontecimentos e anedotas contadas com um olhar de dentro que não se pauta pelo externo, que não quer acomodar visões e conceitos restritos sobre África, mas, sim, explodi-los, para dar lugar a uma rica constelação de pessoas, impressões, línguas, costumes e situações, utilizando a própria vida, seus percalços, sua história para afogar ideias pré-concebidas e constantemente disseminadas sobre o continente africano.
A edição da Kapulana, traduzida por Carolina Kuhn Facchin, contém, ainda, o que o autor considera como um “capítulo perdido” de suas memórias, chamado “Mãe, eu sou homossexual”, publicado em 2014, três anos após o livro original. No texto, Binyavanga reinventa como teriam sido os últimos momentos de vida de sua mãe se ele tivesse viajado até o Quênia para estar com ela, e lhe contado que é um homem gay. Com muita sensibilidade, ele nos apresenta uma vida de autoconsciência mas, também, de restrição, devido ao medo, à vergonha e a profundas amarras culturais.
Em depoimento sobre o livro, o premiado escritor queniano Ngũgĩ wa Thiong’o destacou: “Wainaina é um cantor e pintor de palavras. Ele faz você cheirar, escutar, tocar, ver e, acima de tudo, sentir o drama e as vibrações da vida abaixo da superfície capturada de forma brilhante e concreta do Quênia e da África”. Para a cantora e compositora Ellen Oléria, que assina o texto de orelha da versão brasileira da obra: “em um dia vou escrever sobre este lugar pregamos e liberamos cada passo numa teia diversa de povos, costumes, idiomas de uma áfrica múltipla em visões e memórias que falam com a verdade da autonomia, da conexão ancestral, da força de laços e rompimentos”.
Um dia vou escrever sobre este lugar é uma admirável leitura sobre o retrato reflexivo de um momento recente da história da África, pela perspectiva criativa de Binyavanga, onde a linguagem é o mote fundamental para a composição destas memórias afetivas e atenciosas, dialogando com cultura pop e tradições africanas. Uma obra mais que necessária para acompanhar a profunda jornada das sensações marcantes da escrita de um dos autores mais geniais da literatura deste começo de século.
FICHA TÉCNICA
Título: Um dia vou escrever sobre este lugar
Autor: Binyavanga Wainaina
Gênero: Memórias
País de origem: Quênia
Idioma: Português (traduzido do inglês)
Tradução: Carolina Kuhn Facchin
ISBN: 978-85-68846-45-2
Nº de páginas: 308 p.
Formato: brochura 14cm x21cm
Preço: R$ 54,90
Ano / ed.: 2018 – 1ª
Editora: Editora Kapulana