Karol Conka e sua música que canta as mulheres e o feminismo

Quem é Karol Conka?

Texto de Katianny Estival.

Karoline dos Santos Oliveira, nascida em 1987, em Curitiba, escrevia desde pequena, não tendo em sua família ninguém ligado a música, somente sua mãe que escrevia poemas. Aos 16 anos participou de um concurso escolar de rap e ganhou o mesmo, e desde foi aos poucos apresentando a sua carreira.

Após disponibilizar no Myspace algumas músicas soltas, como “Me Garanto”“Marias” e “Boa Festa”, lançou seu primeiro single oficial: “Boa Noite”, em 12 de junho de 2011. Seu primeiro álbum, ‘Batuk Freak’ foi lançado em 2013.

Por que ela encanta?

“Deixa ele gemer, deixa ele gozar, deixa ele voar, é melhor/ do que ele sacar de uma arma pra nos matar”, cantou em 1985 a compositora carioca Leci Brandão. Referia-se, aparentemente, aos meninos das periferias brasileiras. O samba “Deixa, Deixa” havia sido recusado cinco anos antes por uma gravadora multinacional e ficara na gaveta até ser lançada, com discrição, pelo selo brasileiro Copacabana.

Devia ser duro, em especial para uma mulher negra, cantar “ela” em vez de “ele”, ou “eu” em vez de “ela”. Foram-se 28 anos desde “Deixa, Deixa”, até que outra mulher negra, a paranaense Karol Conka, publicasse um rap-reggae chamado “Sandália“, que soa como uma resposta-e-atualização, não sei se proposital, ao samba de Leci.

No mundo da música, gastamos milênios pensando e falando em artistas de 50 e 40 anos atrás, enquanto frequentemente os de hoje se apresentam para plateias-palanques às moscas. Aos artistas de hoje que fazem sucesso, muitos de nós devotamos solene desprezo, quando não repulsa.

Se esses artistas são negros, raramente devotamos a eles um olhar atento, menos ainda positivo, quase nunca generoso e/ou elogioso – o elogio é tabu numa sociedade pretensamente hipercrítica.

Se esses artistas negros são mulheres, ignoramos cruel e radicalmente sua existência. Referência: Lá vai a rapper toda, toda por Pedro Alexandre Sanches.

Essa é Karol Conká, mas por que eu gosto dela?

Por que canta, encanta os nossos sonhos e a nossa realidade, a contestação e o direito da mulher ser livre, viver sem se importar, vadiar, sair sozinha sem medo de andar na rua, andar a pé, ser gorda, magra, gostosa da forma que bem entender, amar e ser amada das maneiras que acreditar, ser mãezinha, mãe-pai, mulher que quer viver como mulher sem a obrigação de ser mãe ou ser amante incondicionalmente para ter valor e/ou viver o seu valor na sociedade em que vive.

Mulher que não deixa de viver o amor de todas as formas, mas que quer fazer valer os seus direitos, o NOSSO MAIS BÁSICO DIREITO DE IR E VIR COM SEGURANÇA, O DIREITO AO RESPEITO ÀS LEIS UNIVERSAIS DOS DIREITOS HUMANOS E DOS DIREITOS DAS MULHERES.

É a mulher que não aceita o rótulo de ser a Geni de Chico, nem a Trepadeira de Emicida, nem a periguete da Bahia, nem a cachorra do Funk… Aliás, por que a mulher livre na Bahia é periguete e o homem livre é o homem solto?… Karol Conka canta para a mulher solta, com o direito de ser livre… que quer ser livre e seguir sem se importar…

Canta também sobre nossas incertezas em “Marias”: a mocinha quer saber por que ainda ninguém lhe quer. Se é porque a pele é preta ou se ainda não virou mulher. Ela procura entender porque essa desilusão. Pois, quando alisa o seu cabelo não vê a solução… Ah.. .e eu sei como dói ouvir alguém dizer que você seria mais apresentável, passaria mais respeito se penteasse ou escovasse, alisasse seus cabelos…

Mas o que apaixona mesmo é “Me garanto”: se quer medir forças sei que me garanto, sem conversa froxa, sem olhar de canto, fecha a boca, ouça, eu não tô brincando, sua estratégia fraca já vou chegar te derrubando.

Karol Conka equaliza e explica as informações da Pesquisa: Percepções dos Homens Sobre a Violência Doméstica contra a Mulher (2013), realizada pelo Insitituto Avon e Data Popular:

– 89% dos homens acham absurdo que a mulher não mantenha a casa em ordem;

– quase metade dos homens entende que sexo é coisa de homem — mulher não sente necessidade disso!

– 69% dos homens acham inaceitável que uma mulher saia de casa sem o marido;

– se ficarmos bêbadas, então, 85% dos homens nos reprovam. Não é o comportamento de uma dama. Onde já se viu?

– 1 a cada 2 homens vigiam o que vestimos. Nada de sair por aí com roupas justas ou decotadas.

1920? Opa, me confundi. 2013, mesmo. Referência: Lugar de mulher ainda é na cozinhapor Nadia Lapa.

E ontem quando estava num show e ouvi a banda SCAMBO na Bahia cantando “Joga a pedra na Geni” de Chico Buarque e, no final questionando: Por que enquanto os homens exercem seus podres poderes…(Caetano Veloso); só conseguia pensar que Karol Conka é inovadora e merece o nosso MÁXIMO RESPEITO! E não é à toa que já tem parceiras musicais maravilhosas como em “Até o amanhecer” com Luiz Melodia.

[+] Facebook de Karol Conka.

[+] Para quem quer conhecer o álbum completo: http://rapnacionaldownload.com/artistas/karol-conka-batuk-freak/.

 

Katianny Estival é professora da Universidade Estadual de Santa Cruz em Ilhéus Bahia. Mãe, mulher e apaixonada pela vida apesar das incertezas do dia-dia.

 

 

 

Fonte: Blogueiras Feministas 

 

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