Karol Conka lança novo disco sobre negritude, empoderamento e sexualidade

Conhecida no cenário rap, Karol Conka resolveu explorar mais ritmos no álbum ‘Ambulante’

Por Adriana Izel, no Diário de Pernambuco

Rapper Karol Conka reassume protagonismo na música com o lançamento de ‘Ambulante’. Foto: Divulgação

“Quer falar de superação? Muito prazer, sou a própria. Uma em um milhão, original, sem cópia”. É assim que a curitibana Karol Conka se define na faixa Kaça, música que abre o novo álbum da rapper, o disco Ambulante, lançado na sexta-feira (9) nas plataformas digitais, e que já havia sido cantada pela artista em participação especial em show de Emicida em outubro no Festival Melanina, no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, no Eixo Monumental.

Começar o material com Kaça mostra um pouco da atmosfera do disco, que passeia por temas atuais e fazem parte do discurso constante da artista como sexualidade, gueto, negritude e empoderamento feminino. “Além de passar informação, tento passar minhas experiências e meu aprendizado pra frente em forma de música. Eu produzo minhas músicas na intenção de levar conforto, força e experiência para as pessoas. Acho legal quando alguém se identifica com as minhas músicas e vem me dizer isso”, revela Karol Conka em entrevista.
Essa fala de Karol Conka está bem explícita na faixa Vida que vale, a terceira do disco, quando a rapper rima: “Minhas frases mudam vidas/ Porque eu pus minha vida em casa frase/ Eu escrevo para cicatrizar feridas/ E te mostrar que é a vida que vale”.
A volta por cima e superação também são outros discursos que Karol Conka faz questão de valorizar neste álbum. Os temas estão em faixas, como Kaça, Bem sucedida, Vida que vale e Desapego, em que ela canta: “Tudo que ficou pra trás/ Não se faz presente/ Não me serve mais/ O que me move, me satisfaz/ O que não me derruba,/ Me dá forças”. E ela explica o motivo dessa escolha: “Acho que esse é um disco que tem tudo a ver com o momento em que estamos vivendo no Brasil. Eu fiz o álbum imaginando que pudéssemos passar por uma necessidade de fugir do caos. Esse álbum representa isso pra mim e quero que represente isso para o público, que é uma válvula de escape. E, mesmo fugindo do caos, a consciência é algo permanente”.
Por ser uma artista que se tornou uma figura e uma referência na luta e no empoderamento feminino e negro no Brasil, a rapper diz que faz questão de se manter frequentemente em contato com novos pensamentos. “Procuro sempre me cercar de pessoas admiráveis, de me nutrir de cultura, porque acho para ser referência é preciso ter uma bagagem. Eu procuro sempre me reinventar, desde sempre, independentemente de ser artista. Vivo em constante movimento de evolução. Não teria graça se não fosse assim, se a gente não evoluísse a cada dia. Tenho essa força de vontade de evoluir”, classifica.
Novos ritmos
Conhecida no cenário rap, Karol Conka resolveu explorar mais ritmos em Ambulante. Além do gênero que a apresentou para o país, a artista rima e canta ao som do trap, do samba, do pop e até do pagode baiano, que é lembrado na faixa Bem sucedida, quando a cantora lembra o refrão da faixa “piripompom piripompom” sucesso no início dos anos 2000.
“Esse álbum foi produzido de maneira bem natural. Eu escuto muito a diversos ritmos. Junto com o Boss in Drama, que é o produtor do álbum, foi muito fácil transitar por esses lugares. Ele tem essa sensibilidade de captar minha essência. Mas não foi algo premeditado”, completa.
Além da produção de Boss in Drama, parceiro antigo de Karol Conka, com quem ela já fez uma turnê pelo Brasil e gravou faixas como Toda doida, Farofei e Lista VIP, Ambulante tem coprodução da própria rapper. “É comum eu sempre palpitar nos trabalhos, participo de tudo que rola. Mas nesse álbum mergulhei mais intensamente, eu o coproduzi. Assim como no meu primeiro e no segundo, eu escolhi os temas e foi tudo de maneira bem natural. Era de acordo com o meu humor do dia, por isso é tão diverso”, afirma.
Por ser um disco mais dançante, Karol Conka deve mudar a forma de fazer o show para as próximas apresentações com o repertório de Ambulante. “Acrescentei uma banda e a dinâmica do show está bem interessante”, adianta. Sobre um retorno à capital federal, ela diz estar ansiosa. “Acho Brasília um dos lugares mais descolados. As pessoas, além de livres, são muito interessadas na arte. Acho muito legal o movimento da cultura que rola aí. Gosto de estar presente em Brasília, me sinto conectada e atualizada. Amo que o público participa comigo do começo ao fim”, conta.
No ar desde o ano passado à frente do Superbonita, do canal GNT, Karol Conka afirma que adora a oportunidade de estar na televisão ao mesmo tempo em que se dedica à carreira musical. “É uma experiência muito legal. É o tipo de experiência que me nutre, me faz explorar outros lados meus. Acho bacana quando o público reconhece esse lado plural”, revela.

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