Idealizado e produzido por Geledés – Instituto da Mulher Negra, o livro “Pedagogias Hip-Hop e as culturas juvenis nas escolas” foi lançado na quarta-feira (19), durante o evento Trampos do Futuro, iniciativa da Fundação Itaú sobre carreira e mercado de trabalho, em São Paulo (SP).
A obra, apoiada pelo Itaú Educação e Trabalho, tem como ponto de partida a experiência vivida no âmbito do Projeto Rappers, iniciativa que reuniu jovens negros e periféricos que sofriam violência policial por se expressarem por meio do movimento Hip-Hop. Durante os anos 90, esses grupos receberam formações sobre agendas de raça e gênero em Geledés. Tal experiência se tornou um marco na pedagogia hip-hop, que dá protagonismo aos jovens e suas práticas culturais.
Nesse sentido, o livro busca entender o papel da juventude e suas expressões culturais no ambiente escolar atualmente, bem como os anseios dos estudantes neste ambiente. Para isso, foi realizada uma pesquisa em nove escolas públicas localizadas em áreas de alta vulnerabilidade da cidade de São Paulo. Ao todo, foram ouvidos 70 estudantes e 18 profissionais de educação.
A partir dos relatos dos participantes, as e os pesquisadores propõem o uso das culturas juvenis identificadas no estudo como parte da construção do currículo escolar, aliadas às pedagogias Hip-Hop e às competências e habilidades da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Entre as culturas mapeadas estão, por exemplo, o slam, jogos interescolares e o breaking.
O painel de lançamento do livro contou com a presença de membros da equipe técnica de pesquisa da obra: Cristiane Dias, bgirl e pesquisadora; Marcus Vinicius, rapper e orientador socioeducativo; Ingrid Silva, professora e pesquisadora; Clodoaldo Arruda, rapper e filósofo; e Sharylaine, rapper e pesquisadora.





Cristiane Dias destacou que “Pedagogias Hip-Hop e as culturas juvenis nas escolas” é um marco importante por envolver os estudantes e valorizar suas vozes.“É a partir dessas vozes que conseguimos construir projetos de pesquisa e criar novas políticas públicas para uma educação antirracista, plural, que contemple as pedagogias hip-hop e culturas juvenis”, afirmou.
Segundo a pesquisadora, entre as conclusões da pesquisa está a necessidade da construção de um currículo escolar engajado. Algo que dialogue com as necessidades do território e das juventude, e que, de fato, implemente a Lei 10.639/2003, que
tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira no currículo escolar brasileiro.
Para Marcus Vinicius, o livro deve se tornar uma referência na área de educação. “Compor esse grupo, participar desse processo é de grande valia não só pra gente, mas para essa geração que vai se apropriar desse material. Isso não é para agora, é algo que vai avançar gerações e gerações. De alguma forma, estamos participando de maneira histórica desse momento”, afirmou.
Clodoaldo Arruda contou ter sido um desafio e um prazer participar da pesquisa e lidar com a espontaneidade da juventude. “O recado que fica, assim como o nosso projeto nos anos 90 [Projeto Rappers], é: ouçam os jovens, eles têm algo a dizer, e esse algo precisa ser dito, isso não pode ser represado”, disse.
Cinco das escolas contempladas pela pesquisa foram convidadas para o lançamento do livro: Escola Municipal de Educação Fundamental Professor Levy de Azevedo Sodré, Escola Municipal de Educação Fundamental Professor Mailson Delane, Escola Municipal de Educação Fundamental Enzo Antonio Silvestrin, Escola Estadual Professor Ronaldo Garibaldi Peretti e Escola Municipal de Educação Fundamental Saturnino Pereira.
“As escolas com as quais Geledés dialoga estão localizadas nos extremos da cidade de São Paulo, são escolas de territórios ocupados por população negra. É fundamental que as e os estudantes conheçam esse espaço, esse tipo de atividade para que possam incluir novos sonhos e novos projetos em seus planos de vida”, afirmou Suelaine Carneiro, coordenadora de Educação e Pesquisa de Geledés, se referindo ao evento Trampos do Futuro.
Entre as estudantes presentes, estava Nicole Kimberly, que relatou sua experiência como participante do estudo. “Conversamos bastante sobre a cultura Hip-Hop. Escrevemos textos sobre a cultura negra e também aprendemos muito sobre o nosso próprio idioma. Não tínhamos nem noção de que países da África influenciaram muito no português. [A experiência] influenciou bastante no meu desejo de fazer Relações Internacionais e entender um pouco mais sobre como a política influencia nossas vidas”.
Para Sharylaine, o lançamento com a presença das escolas foi a oportunidade de dar uma devolutiva sobre a pesquisa aos estudantes e professores. “Saber que o livro retorna para os jovens que nos ajudaram a fazer esse trabalho é fundamental. Estou muito feliz de ter visto esse espaço cheio de jovens interessados e interessadas ouvindo a gente”, relata.
Ingrid Silva também expressou sua felicidade em divulgar um projeto que contribui para uma educação pública de qualidade, pautada em parâmetros antirracistas. “Com o apoio e parceria de Geledés, conseguimos sistematizar e trazer essas culturas juvenis nas escolas através do movimento Hip-Hop”, destacou.