Geledés – Instituto da Mulher Negra promoveu os painéis “Jovens e Multimídia” e “30 anos do Projeto Rappers: História e Legado” durante o segundo dia do evento Trampos do Futuro, realizado pela Fundação Itaú sobre carreira e mercado de trabalho. A iniciativa ocorreu nos dias 19 e 20 de março e reuniu estudantes de diferentes escolas na Bienal, em São Paulo
“Esse evento é voltado para as juventudes. A parceria que a gente tem com Geledés é antiga e se destina a olhar para a diminuição das desigualdades. Não há um parceiro melhor para representar isso”, afirmou Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, frente da Fundação Itaú.
A conversa sobre “Jovens e Multimídia” pautou a área de comunicação a partir da experiência da sexta e sétima temporadas do podcast Essa Geração, produzido pela Fundação Tide Setubal em parceria com jovens que se formaram no curso de Multimídia, de Geledés, destinado à profissionalizar pessoas entre 18 e 30 anos na área de comunicação, a partir de conteúdos com recortes de raça e gênero.
Os episódios produzidos pelos jovens abordam os temas decolonialidade e cultura. Segundo o relato dos participantes, aproximar temas complexos da realidade cotidiana foi uma vivência desafiadora.
Estavam presentes no painel Natália Carneiro, coordenadora de Comunicação Institucional de Geledés; Fernanda Nobre, gerente de Comunicação da Fundação Tide Setubal; Amauri Eugênio Jr, analista de comunicação da Fundação Tide Setubal; Ariely Tombo, historiadora; Lassalette Jorge, multiartista; e Frances Gonf, roteirista.






Fernanda Nobre pontuou que espaços de troca e compartilhamento de experiências como esse são importantes para a juventude. É uma forma de orientar sobre possibilidades de trajetórias profissionais. “Faz todo sentido para que se reconheçam e possam se inspirar em momentos de escolha”.
Ao mesmo tempo, a conversa buscou alertar a respeito da responsabilidade e o poder da comunicação, destacando sobre os cuidados necessários na hora de compartilhar conteúdos e opiniões. “É fundamental falar sobre o podcast Essa Geração e sobre projetos que tratam a comunicação como uma espaço mais ancorado na realidade”, pontuou Amauri Eugênio Jr.
Para Ariely Tombo, que se formou no curso de Multimídia, jovens têm uma potência grande e podem desenvolver diferentes percepções ao ter acesso à informação. “A mesa de hoje foi muito potente para mim também, para entender quais são as coisas que eu posso dizer e, principalmente, o que eu posso despertar no outro”.
Rap e juventude
Já o painel “30 anos do Projeto Rappers: História e Legado” foi composto por Jaqueline Santos, pesquisadora; Sharylaine, rapper; e Clodoaldo Arruda, filósofo e rapper. A mesa abordou a iniciativa voltada à juventude negra nos anos 90. A iniciativa surgiu a partir da demanda de jovens do movimento hip-hop que sofriam violência policial e encontraram em Geledés um espaço de formação sobre as agendas de gênero e raça.
Entre os desdobramentos da iniciativa está a revista Pode Crê, primeiro periódico de rap do país, que abordava temas latentes para o movimento hip-hop e para a população negra da época. A revista teve cinco edições e circulou entre 1992 e 1994. Após a realização do painel, foram distribuídos fac-símiles da publicação aos presentes.



Segundo Jaqueline Santos, a iniciativa representa o encontro entre o hip-hop e o feminismo negro. “O Projeto Rappers foi um grande exemplo de que as organizações da sociedade civil não devem fazer projetos para as juventudes, mas sim com as juventudes. Isso dá muito certo”, pontua.
Clodoaldo Arruda também participou do projeto e relatou o quanto a experiência foi fundamental para repensar questões de gênero. “Em Geledés, a gente [os homens] teve que enfrentar o nosso próprio machismo e misoginia. O hip-hop está cheio disso”. O filósofo destacou também que a revista Pode Crê teve reverberação em todo o país e ajudou a moldar o hip-hop brasileiro.
Além disso, Sharylaine contou sobre a criação do grupo Femini Rappers, que surgiu dentro do Projeto Rappers com o objetivo de trazer visibilidade à mulher no hip-hop. Os aprendizados relacionados a gênero e raça foram fundamentais para isso. “Foi dentro de Geledés que entendemos o que era o feminismo negro”, disse.
Para Suelaine Carneiro, coordenadora de Educação e Pesquisa de Geledés, a presença da organização no evento Trampos do Futuro ratifica seu compromisso em ressaltar a potência dos estudantes negros e ampliar suas oportunidades.
“Ninguém vê esses jovens como futuro. Essa juventude enfrenta um momento presente repleto de limitações e, por isso, há uma ausência de estudantes negros como agentes de futuro. Estar nesse evento é falar sobre racismo e sexismo. É trazer aquilo que Geledés tem produzido e discutido no campo da educação e da comunicação, destacou.