‘Luta por Justiça’ questiona a desigualdade racial na prisão

Baseado em história real, longa conta a história de jovem advogado que defende pessoas que não tiveram representação legal apropriada

Por Larissa Godoy e Matheus Alleoni, Do Terra

Cena do filme 'Luta por Justiça', onde o advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) e o acusado Walter (Jamie Foxx) estão sentados no tribunal
Michael B. Jordan vive o advogado Bryan Stevenson e Jamie Foxx, o acusado, Walter McMillian (Foto: JAKE GILES NETTER/DIVULGAÇÃO/JC)

Luta por Justiça é um dos melhores e mais tristes que você verá em sua vida. Baseado na autobiografia Just Mercy: A Story of Justice and Redemption, de Bryan Stevenson, o filme do cineasta Destin Daniel Cretton conta a história de um jovem advogado que compromete a sua vida a defender condenados que não tiveram representação legal apropriada.

Recém-formado em Harvard, Bryan — vivido por Michael B. Jordan, muda-se para o Alabama, Estado norte-americano conhecido por ser altamente segregado e racista, e com o apoio da advogada local Eva Ansley, papel de Brie Larson, cria o Equal Justice Iniciative, uma organização privada sem fins lucrativos que combate a punição excessiva e presta assistência à reentrada de pessoas na sociedade.

Já em um de seus primeiros casos, Bryan conhece Walter “Johnny D.” McMillian, personagem de Jamie Foxx, um madeireiro negro condenado à morte pelo assassinato de uma jovem branca de 18 anos, em um crime que chocou a marcou a cidade. Ao conhecer os detalhes do caso, Bryan percebe que poucas evidências corroboravam o veredito de Johnny D. e, além disso, a única testemunha contra ele era de um criminoso que tinha motivos para mentir. O advogado decide então defender o madeireiro e tentar reabrir o caso para provar a sua inocência. E é então que encontra alguns empecilhos.

‘A desesperança é a inimiga da justiça’

Não só a advocacia mal exercida é um dos inimigos no caso de Johnny D., e de muitos outros condenados no longa. A medida que Bryan usa dos recursos legais para comprovar a inocência do seu cliente, outro grande obstáculo aparece: o racismo.

O racismo aparece em cena fora dos tribunais, quando, por exemplo, um policial questiona a profissão de Bryan e exige que ele passe por uma revista, procedimento dispensável aos advogados, para poder liberar sua entrada na prisão. E também dentro deles. Quando mesmo após a testemunha principal retirar o depoimento que incrimina Johnny D., a corte decide manter a sentença de morte do acusado.

Com uma narrativa envolvente, que mescla fatos reais e excelentes atuações de Jamie Foxx e Michael B. Jordan, o filme te prende do começo ao fim com cenas emocionantes que põem em xeque a nossa esperança na humanidade. Jaz aqui, porém, a grande mensagem do filme.

Os casos mal sucedidos nos lembram que, por mais que a justiça seja almejada, nem sempre ela é alcançada, principalmente quando o racismo é ainda uma questão na equação. E Luta por Justiça é um filme que escancara as injustiças da desigualdade racial. Para alguns, a solução é a desistência, a fuga. Mas, como bem frisou Bryan Stevenson, a “desesperança, ela também é inimiga da justiça”.

Luta por Justiça estreia no dia 20 de fevereiro.

O que aconteceu com os personagens do filme?

Após passar seis anos no corredor da morte e conseguir, em sua sexta apelação, reverter a condenação por homicídio, Walter McMillian, o “Johnny D.” deixou o cárcere em março de 1993. Após retornar para sua cidade natal, Monroeville, ele entrou com um processo civil contra o estado do Alabama, o xerife Tom Tate e os investigadores Larry Ikner e Simon Benson. Contra Tate, McMillian perdeu na Justiça. Já os outros dois oficiais entraram em acordo com Johnny D. antes do processo terminar. O valor recebido por ele não foi divulgado. Nenhum dos membros da investigação foi punido penalmente pela condenação de McMillian.

Logo após sua libertação, o madeireiro também se dedicou ao ativismo e a apontar práticas abusivas do sistema de Justiça norte-americano. “Estou profundamente preocupado com a maneira como o sistema criminal me tratou e com a dificuldade que tive em provar minha inocência. Também estou preocupado com os outros. Acredito que há outras pessoas sob sentença de morte que, como eu, não são culpadas”, disse em uma palestra.

Dois anos após sua soltura, em 1995, McMillian teve uma lesão séria no pescoço e acabou sendo afastado do trabalho. Alguns anos depois, ele desenvolveu demência e morreu por conta de complicações da doença em 2013. De acordo com o advogado Bryan Stevenson, o trauma sofrido por Johnny D. enquanto estava no corredor da morte foi responsável pelos problemas de saúde.

Stevenson, por sua vez, seguiu ganhando prestígio pelo seu trabalho na Equal Justice Initiative, da qual é diretor até hoje. A entidade segue com a missão de ajudar prisioneiros que podem ter sido condenados sem ter culpa. A instituição também inaugurou o National Memorial for Peace and Justice que rememora as vítimas da escravidão, racismo e encarceramento em massa.

Além disso, Stevenson também é professor de direito na Universidade de Nova Iorque (NYU), uma das mais conhecidas dos Estados Unidos, e autor do best-seller Just Mercy: A Story of Justice and Redemption, que deu origem ao filme. O advogado ganhou uma série de prêmios pelo seus trabalhos sociais, entre eles o de Avanço Social do museu Smithsonian e a Medalha Benjamin Franklin da Sociedade Filosófica Americana. Ele também roda os Estados Unidos e o mundo dando palestras sobre as falhas no sistema judiciário.

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