Muitos desafios estão no caminho deste novo governo Dilma Rousseff. Mas ainda acredito que o maior deles é vencer o machismo, o sexismo e a misoginia que ficaram explícitas nas atitudes de seu adversário e na dos eleitores, e mais recentemente, na dos parlamentares no episódio dos conselhos populares.
Por: Mônica Francisco
Todas as vezes em que a configuração do novo ministério era ou é aventado, coloca-se o adendo da singularidade da personalidade da presidente, tida como “difícil” ou pouco “flexível”. Mas, se fosse dócil, claro, esse seria seu pecado. Diriam alguns que, com afagos e gentilezas, seria pouco provável que se governasse um país da monta do Brasil.
O Brasil precisa de um “homem” competente e probo para governá-lo. Os homens pedem recontagem de votos, não acreditam que uma mulher possa ter sido reeleita com uma máquina masculina “agressiva” de campanha. Se foi tratada com rigor e até certo desrespeito, não é culpa deles, elas é que querem entrar na brincadeira, então, aguentem.
Por muitas vezes me peguei pensando se aquela senhora, sim uma senhora, que estava ali sendo chamada de leviana pelo seu opositor, que aparentava clara agressividade ao confrontá-la, não era vista como tal. Não estou falando da candidata, mas da mulher, da senhora, que ali estava. E percebi que ainda temos muito que avançar. Penso que as reações emitidas durante a campanha e após ela dizem muita coisa.
A uma mulher não se deve dar o luxo de ganhar sempre. Olhando para a câmera e para a foto feita após a derrubada do decreto que instituía os conselhos populares por parte dos deputados federais, percebe-se que era muito mais do que uma foto de unidade, era uma clara afirmação da supremacia masculina branca e dominante mandando um recado para ela, a presidente, e para nós que fomos às ruas.
O recado é claro: eles ainda mandam. Não é o mérito da lei ou o que equivalha que está em questão, mas as consequências de um machismo inconsequente, que gosta do poder pelo poder. Seja em domicílios, nas altas posições eclesiásticas ou no exercício de mandatos públicos. O mesmo vimos no episódio da relatora da ONU sobre o caso de São Paulo. A tentativa de desqualificação do relatório realizado pela funcionária das Nações Unidas teria um outro tom se fosse um alto funcionário à publicá-lo.
A foto emblemática dos ternos escuros e um parlamento quase monocromático é muito esclarecedora.
Esse desafio é de todas nós. Nos deparamos com a tarefa árdua, mas nada impossível, de mudar a história do parlamento brasileiro. Afinal, somos mais da metade da população.
“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”
*Mônica Francisco é membro da Rede de Instituições do Borel, coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)
Fonte: Jb