Maioria de mortes maternas no país ocorre entre mulheres negras jovens

A morte maternas entre negras foi destacada pela doutora em saúde pública, Fernanda Lopes, durante as discussões da 4ª Conferência Nacional da Promoção da Igualdade Racial

Por Débora Brito no  Agência Brasil

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Mais da metade (54,1%) das mortes maternas no Brasil ocorrem entre as mulheres negras de 15 a 29 anos. A população negra feminina também tem duas vezes mais chance de morrer por causas relacionadas à gravidez, ao parto e ao pós-parto do que as mulheres brancas.

A informação foi destacada pela doutora em saúde pública, Fernanda Lopes, durante as discussões da 4ª Conferência Nacional da Promoção da Igualdade Racial (Conapir). O evento está sendo realizado em Brasília com a presença de especialistas, pesquisadores e ativistas da causa racial de vários estados para levantar propostas de enfrentamento ao racismo.

Com base em estatísticas do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS), a especialista, que também integra o grupo de racismo e saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), apresentou algumas variáveis que mostram a desigualdade racial no âmbito da saúde pública.

“Estas mulheres morrem com uma frequência maior, prioritariamente por hipertensão, um problema que poderia ser identificado lá no pré-natal. Mas, estas mulheres são as que menos têm informações sobre sinais de parto, que com mais frequência têm o pré-natal considerado inadequado e são aquelas que mais peregrinam até conseguirem vaga na maternidade para dar à luz”, destacou Fernanda.

Apesar de o Brasil ter reduzido consideravelmente os números de mortalidade materna nos últimos anos, ainda não conseguiu atingir a meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas de reduzir em 75% o índice de mortes até 2015. A cada 100 mil nascidos vivos, ainda morrem no país uma média de 60 mulheres em idade fértil.

Racismo institucional

A pesquisadora disse ainda que as mulheres negras recebem com menos frequência recursos para alívio para a dor durante o parto, como tomar água, andar, tomar banho, ganhar massagem ou mesmo ter a opção de ser anestesiada. Além disso, de acordo com o levantamento apresentado por Fernanda, as mulheres negras têm menos chance de ter um acompanhante durante o parto e na maternidade e estão mais sujeitas a ouvir expressões discriminatórias. Ela cita entre os dados coletados na pesquisa frases ouvidas pelas pacientes por agentes de saúde como “na hora de fazer não reclamou”.

“Isso é racismo institucional, é violência obstétrica e é violência de gênero. É um tipo de violência que só as mulheres vivem”, ressaltou Fernanda. A pesquisadora explicou que o racismo institucional na saúde se expressa pela desigualdade no atendimento dos profissionais da saúde à mulher negra e na negação a ela de acesso a proteção e direitos. Este tipo de discriminação também tem impacto na organização e no funcionamento dos serviços de saúde.

“A violência obstétrica começa no pré-natal. Então, quando a gente está falando lá na atenção básica que estas mulheres têm menos acesso à informação, isso é expressão de violência institucional. Se estas mulheres peregrinaram mais até conseguirem vaga no hospital, é expressão do racismo institucionalizado”, detalhou.

No atendimento pós-parto, os índices também apontam para uma desvantagem das mulheres negras, principalmente as mais jovens, em relação às brancas. “Em uma avaliação da estratégia da família e da Rede Cegonha se observou que eram as mulheres mais jovens e negras que recebiam com menos frequência a visita da equipe de saúde da família durante o período de puerpério”, completou.

Entre as propostas para enfrentar o problema, a pesquisadora sugere que o país melhore as pesquisas sobre percepções das pacientes sobre atitudes discriminatórias nos serviços de saúde.

Conapir
No segundo dia da 4ª Conferência de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), os conselheiros e delegados se dividiram em grupos temáticos para discutir diferentes propostas de combate à discriminação étnica e racial nas áreas de educação, violência, religião, entre outros. O conjunto final das propostas e resultados das discussões serão apresentados nesta quinta-feira (30), último dia da conferência.

+ sobre o tema

Campanha marca Dia Mundial de Conscientização dos Transtornos Alimentares

Criadores de conteúdo e especialistas de saúde brasileiros unem-se...

Festival de Cannes 2018 terá protesto organizado por mulheres negras

"Negra não é a minha profissão". Por Bruno Carmelo , do Adoro...

Papanicolau não precisa ser feito todo ano; saiba mais sobre o exame

O papanicolau é o exame utilizado para avaliar precocemente alterações pré-malignas...

Imortais da ABL não estão gostando da mobilização em nome de Conceição Evaristo

A reação entre os imortais da ABL à candidatura...

para lembrar

Mortes por coronavírus crescem quase 150% em uma semana, na Paraíba

Casos confirmados aumentaram 120% no mesmo período. João Pessoa...

Oprah Winfrey faz justiça para Henrietta Lacks

HBO estreia filme que presta homenagem à mulher que...

Projetos de lei querem impedir que marido tenha que consentir em colocação de DIU

Deputados federais e estaduais propuseram projetos de lei para proibir...

Salgueiro vem com enredo afro em 2018 e falará da história das matriarcas negras

Durante a feijoada deste domingo, na edição mensal de...
spot_imgspot_img

Peres Jepchirchir quebra recorde mundial de maratona

A queniana Peres Jepchirchir quebrou, neste domingo, o recorde mundial feminino da maratona ao vencer a prova em Londres com o tempo de 2h16m16s....

O futuro de Brasília: ministra Vera Lúcia luta por uma capital mais inclusiva

Segunda mulher negra a ser empossada como ministra na história do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a advogada Vera Lúcia Santana Araújo, 64 anos, é...

Ela me largou

Dia de feira. Feita a pesquisa simbólica de preços, compraria nas bancas costumeiras. Escolhi as raríssimas que tinham mulheres negras trabalhando, depois as de...
-+=