Maria Rita Kehl: projeto de Cunha expressa repulsa à sexualidade feminina.

“Vamos falar sério: o que subjaz a esta pauta retrógrada é a repulsa inconsciente à sexualidade feminina. A liberdade recém-conquistada do desejo feminino assusta os homens. Seis meses a dois anos de prisão para aquelas que abortarem os fetos que eles fizeram ‘sem querer’. Eis a versão masculina da repulsa ao sexo”, diz a psicanalista Maria Rita Kehl, em artigo sobre o projeto do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ)

Do Brasil 247

Em artigo publicado nesta quinta-feira, a psicanalista Maria Rita Kehl confronta o projeto de lei 5069/13, do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), denunciado no Conselho de Ética da Câmara por suas contas secretas, que dificulta o aborto legal.

“Para começar, aborto não é política de controle de natalidade. É um recurso extremo e doloroso utilizado por mulheres sem condições materiais ou psicológicas de ter um (ou mais um) filho. A pauta dos direitos da mulher não começa pela defesa do aborto. Este só se justifica em último caso”, diz ela.

Maria Rita Kehl alerta ainda para a crueldade masculina no trato da questão. “A expressão ‘gravidez indesejada’ é cruel: o que falta a grande parte das mulheres, sobretudo adolescentes, para manter a gravidez não é desejo. São condições: materiais, emocionais, familiares. E sobram condições de abandono: quantos homens, ou garotos, continuam ao lado das mulheres e meninas que engravidaram ‘sem querer’, como se o problema não fosse com eles? Só algumas, com muita sorte, conseguem dividir a responsabilidade pela decisão com o parceiro.”

Por fim, ela atribui o projeto de Cunha à repulsa pela sexualidade feminina. “Vamos falar sério: o que subjaz a esta pauta retrógrada é a repulsa inconsciente à sexualidade feminina. A liberdade recém-conquistada do desejo feminino assusta os homens. Seis meses a dois anos de prisão para aquelas que abortarem os fetos que eles fizeram ‘sem querer’. Eis a versão masculina da repulsa ao sexo.”

+ sobre o tema

Observatório da OAB se mobiliza por candidaturas femininas

Entidades da sociedade civil têm atuado para acompanhar o...

Reinaldo Azevedo, Veja e Rádio Jovem Pan são condenadas a indenizar a cartunista Laerte em R$ 100 mil

Valor será revertido para as Mães pela Diversidade   POR PAULO...

O que acontece após a vítima de violência doméstica fazer um B.O. online?

Mulheres vítimas de violência doméstica podem, desde o começo...

para lembrar

Reparações e compilações – Sueli Carneiro

O jornal O Tempo, de Belo Horizonte, procurou-me, esta...

Baiana recebe prêmio que estimula mulher negra contar sua história

A ativista da luta pela garantia dos direitos das...

“Que currículo ótimo, pena que é mulher”

A A. me mandou este relato sobre a mais...

Governo quer suspender comercial de lingerie com Gisele Bündchen

Secretaria diz que recebeu seis reclamações contra a campanha...
spot_imgspot_img

Nenhum país eliminou desigualdade entre homens e mulheres, diz ONU

Trinta anos após Declaração de Pequim, nenhum país conseguiu eliminar completamente as desigualdades entre homens e mulheres e cumprir todas as medidas estabelecidas no compromisso internacional, diz a...

Brasil avançou, mas ainda há desigualdade entre homens e mulheres

As mulheres são a maioria da população brasileira, mas ainda enfrentam uma série de desigualdades e violências em diversos âmbitos. O relatório Revisão de Políticas...

A representatividade de mulheres negras na área de tecnologia e inovação

As mulheres negras estão entre os piores índices no que diz respeito a tecnologia e inovação no Brasil, atualmente. A PretaLab — plataforma de...
-+=