Maria Stewart: primeira mulher a discursar nos EUA era uma feminista e abolicionista negra no século 19

FONTEPor Vitor Paiva, do Hypeness
A jovem Maria W. Stewart, à época em que se tornou viúva e começou seu ativismo (Foto: Wikimedia Commons)

Numa época em que não era permitido a nenhuma mulher discursar ou mesmo expor opiniões políticas, Maria W. Stewart fez história nos EUA do século 19 ao se tornar a primeira mulher a falar para plateias e realizar palestras públicas.

Falando em favor dos direitos das mulheres e contra o racismo e a escravidão no país, Stewart tornou-se conhecida por discursos que realizou em Boston no início da década de 1830, para plateias misturadas entre homens, mulheres, brancos e negros.

Pelos direitos das mulheres 

Filha de pessoas escravizadas, mas nascida liberta em 1803, Maria perdeu os pais com três anos, cresceu sem educação formal e só começou a estudar com 15 anos.

Com 23 anos viria a se casar, mas, apenas três anos depois, tornou-se viúva – e, ao descobrir que não receberia a pensão que era sua por direito, foi que começou a pensar sobre os direitos das mulheres, especialmente das mulheres negras, e a atuar como ativista da causa.

No mesmo período em que começou a discursar e atuar em favor dos direitos das mulheres negras, o movimento pelo fim da escravidão nos EUA crescia e ganhava voz em Boston, onde ela vivia.

Quando o editor William Lloyd Garrison, responsável pelo jornal abolicionista The Liberator, convocou mulheres negras a contribuírem com a publicação, Maria apareceu na redação do jornal com diversos ensaios manuscritos, que Garrison decidiu publicar.

O jornalista William Lloyd Garrison, editor do jornal Liberator (Foto: Getty Images)

O primeiro dos ensaios, publicados em panfletos, Religion and the Pure Principles of Morality (Religião e os princípios puros da moralidade, em tradução livre), convocava as mulheres afro-americanas a se organizarem contra a escravidão no sul.

“Até quando as justas filhas da África serão compelidas a enterrar suas mentes e talentos sobre o peso das panelas de ferro e chaleiras?”, ela escreve. Em seguida, Maria publicaria The Sure Foundation on Which We Must Build (A fundação firme sobre a qual precisamos construir, em tradução livre), ensaio no qual advoga pelo fim da escravidão e a autonomia negra.

Ela ainda publicaria outros dois ensaios sobre religião, enquanto começava a realizar suas palestras públicas – e as falas de Maria W. Stewart começaram a causar furor e intensas reações entre os públicos miscigenados que a assistiam na cidade.

“Vejam a algumas das pessoas mais interessantes e valiosas entre nós, fadadas a perder suas vidas nas cozinhas dos senhores. Vejam nossos jovens, espertos, ativos e cheios de energia, com a alma cheia do fogo da ambição: quais são suas prospecções? Eles não podem ser nada além de trabalhadores humildes, por conta de sua tez escura”, discursou.

Ilustração no jornal: “Eu não sou uma mulher e uma irmã?” (Foto: Liberator/reprodução)

Maria Stewart foi a primeira mulher negra a realizar uma palestra sobre direitos femininos e sobre liberdade das mulheres negras, assim como a primeira mulher a falar para homens e mulheres ao mesmo tempo, a falar sobre política em um espaço público, e a discursar contra a escravidão.

Ela abandonaria os discursos para se dedicar ao trabalho de professora e enfermagem em Washington D.C., capital do país. Hoje seu nome se inscreve como uma das matriarcas do feminismo negro e pela libertação da população negra no país, especialmente durante a chamada Era Jim Crow, quando as leis dos EUA segregavam o país.

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