Marinalva Almeida – Atleta Paralímpica: “O Brasil não precisa de Photoshop para representar nossas deficiências.”

Marinalva de Almeida, faz 39 anos ( hoje é seu aniversário), mãe de 03, atleta paralímpica e sobretudo, uma mulher de garra, que luta a cada dia para vencer os obstáculos e inspirar outras pessoas que assim como ela, são deficientes físicas a saírem do anonimato e serem donos de sua própria história. Aos 14 […]

Por VIVIANE DUARTE, do Plano Feminino 

Marinalva de Almeida, faz 39 anos ( hoje é seu aniversário), mãe de 03, atleta paralímpica e sobretudo, uma mulher de garra, que luta a cada dia para vencer os obstáculos e inspirar outras pessoas que assim como ela, são deficientes físicas a saírem do anonimato e serem donos de sua própria história.

Aos 14 anos Mari perdeu sua perna esquerda num acidente de moto – ela conduzia o veículo sozinha. Superou a perda e aprendeu desde cedo a cair e levantar. Passou a frequentar o Centro de Educação Multidisciplinar ao Portador de Deficiência Física (Cemdef) e a aprender com os outros colegas a ter coragem para lutar e fazer acontecer. Ali começou sua história com o esporte. E entre o casamento na adolescência (17 anos), gestação dos 03 filhos, trabalho duro e superações, ela teve o convite para começar a correr – DE MULETAS! Aceitou e retomou com tudo sua vida no esporte. Logo vieram os resultados da dedicação: em 2012 foi a primeira mulher a concluir a São Silvestre de muletas – foram 15 KM em 2h19, entre outras conquistas.

Hoje, Mari é velejadora e treina na Ilha de Guanabara – Niterói – RJ. Local que receberá as provas de vela adaptada da paraolimpíadas.

Uma mulher de garra, que sempre lutou para que as pessoas não a vissem com ar de piedade, mas sim, como igual. Que treina todos os dias com toda a dedicação não apenas com foco na medalha olímpica, mas nas pessoas que poderão se inspirar em sua história e sua luta e vitória.

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Foto: João Augusto de Oliveira

 

“Sou vaidosa, amo salto, amo o que sou. Gosto da imagem da mulher que me tornei. Esta sou eu. Esta é minha história. Poder ter o direito de protagonizar um momento tão importante como o das Paralímpiadas no Brasil no meu lugar de fala é essencial para que as pessoas enxerguem e aprendem a lidar com a inclusão, diversidade e cidadania. Nossa imagem nos basta.”

Mari se refere à campanha criada pela agência África com os globais Cleo Pires e Paulo Vilhena, que aparecem amputados nas peças, “sentindo na pele” o lugar de fala dos atletas paraolímpicos  e convidando as pessoas a exercerem a empatia junto a eles. Será mesmo que os atletas não chamariam a atenção do público com suas próprias histórias? Tendo seus embaixadores globais endossando e dando protagonismo para eles, ao invés de endossarem mais uma vez a invisibilidade de pessoas tão inspiradoras como a Mari, a Bruna, a Camille e tantas outras atletas paraolímpicas?

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Foto: Amanda Paluzzi

Esta é a resposta da atleta Marinalva de Almeida:

“Nosso país está passando pelas mais variadas crises, financeira, de saúde, política, entre outras. Nosso povo é um povo guerreiro que tem que se superar a cada dia. Nossas mães acordam cedo, deixam seus filhos e vão à luta em ônibus lotados e isso sem falar na violência que nos assombra a cada esquina. Estamos buscando uma vida mais digna e todos sem exceção buscam uma vida melhor. Pessoas negras buscam a Igualdade racial, gays e lésbicas buscam a felicidade e simplesmente o direito de amar aqueles que lhes aprazem. Pessoas com deficiências, como também faz a grande maioria dos brasileiros, acordam cedo, pegam aquele mesmo ônibus lotado e sentem todas as dificuldades de um Brasil sem acessibilidade. Essas mesmas pessoas com deficiência são mães, pais, filhos e cidadãos que buscam realizar seus sonhos e serem protagonistas de sua própria história, como qualquer outra pessoa. O Brasil não precisa de Photoshop para representar nossas deficiências, pois já sabemos que elas estão em toda parte. O que precisamos nesse momento é de coragem para nos reerguermos, assumirmos nossas deficiências e fazermos delas um bom motivo para encarar todas as diversidades. Não somos todos paralímpicos, mas somos todos brasileiros, com necessidades, sonhos, decepções e grandes alegrias. A essência não se difere pelo corpo mas sim pela alma.”

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