Menina vítima de pedrada após sair de festa do Candomblé é alvo de ofensas ao ir fazer exame de corpo de delito

Três dias após levar uma pedrada na cabeça desferida por dois homens que a chamaram de “macumbeira” e dizer que ela deveria “queimar no inferno”, na Zona Norte do Rio, a candomblecista de 11 anos voltou a ser vítima de ofensas, na manhã desta quarta-feira. Ela estava com a avó, Kátia Marinho, de 53 anos, no Instituto Médico-Legal (IML) para fazer exame de corpo de delito quando um homem passou e gritou: “A imprensa só dá ibope para macumbeiro e gay!”. Kátia dava uma entrevista pelo telefone ao EXTRA quando as ofensas aconteceram.

Por Ana Carolina Torres, do Extra

– É impressionante. A gente veio para cá de metrô e recebeu muito apoio na rua. No metrô, duas pessoas que disseram ser evangélicas se aproximaram da gente e falaram que não devemos nos abater. Falaram que vão usar branco, para mostrar que não são a favor da intolerância. E agora acontece uma coisa dessas. Mas isso não vai fazer com que eu desista de lutar por justiça. Vamos continuar até o fim -afirmou Kátia.

Leia Também:Menina é apedrejada na saída de culto de candomblé no Rio

A avó e a neta foram alvo de novas ofensas nesta quarta Foto: Fabiano Rocha / Extra
A avó e a neta foram alvo de novas ofensas nesta quarta Foto: Fabiano Rocha / Extra

Para ela, algumas pessoas ainda não conseguiram separar fanatismo de religião:

– Apesar disso que acabou de acontecer, estamos com esperança de que esse preconceito diminua. Acabar, sabemos que não vai. Mas temos que acreditar que as pessoas vão ver que somos gente do mesmo jeito que elas. Somos todos a mesma coisa, independente do credo.

Kátia contou ainda que a neta, que havia desistido de usar branco na rua por temer ser alvo de novos episódios de intolerância religiosa, voltou atrás. Nesta quarta, a menina usou as roupas de sua religião para ir ao IML.

– Conversamos muito com ela. Ela entendeu que não pode ceder. A fé tem que ser maior que tudo – disse a avó.

A garota, momentos após a pedrada Foto: Arquivo pessoal Leia mais: http://extra.globo.com/casos-de-policia/menina-vitima-de-pedrada-apos-sair-de-festa-do-candomble-alvo-de-ofensas-ao-ir-fazer-exame-de-corpo-de-delito-16468930.html#ixzz3dc4MuJ1G
A garota, momentos após a pedrada Foto: Arquivo pessoal

Nesta terça, em entrevista ao EXTRA, a garota chegou a dizer que temia morrer se fosse alvo de novas agressões por causa da religião.

A 38ª DP (Brás de Pina) investiga a agressão sofrida pela menina e tenta identificar os dois homens responsáveis por ela: seriam morenos e jovens, na casa dos 20 anos. O caso foi registrado como lesão corporal e no artigo 20, da Lei 7716 (praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional).

A agressão ocorreu no domingo, na Avenida Meriti, na Vila da Penha. Segundo testemunhas, pessoas que estavam num ponto de ônibus começaram a xingar os candomblecistas que, na ocasião, vestiam com as roupas típicas de sua religião – como pano de cabeça e saia de ração branca.

intolerancia-religiosa2

Um evento criado no Facebook convida as pessoas para uma manifestação contra a intolerância religiosa. A ideia é que todos vistam branco no próximo dia 8 de julho. Mais de quatro mil pessoas já confirmaram participação no evento.

+ sobre o tema

Racismo – Quatro em cada 10 discotecas espanholas discriminam clientes

Uma organização contra o racismo decidiu testar a forma...

‘Enterrei dois filhos, ainda tenho esperança de enterrar meu caçula’

velho, Carlos, ela enterrou ainda bebê, morto em decorrência...

Tortura: PM arrasta homem negro algemado em moto por rua de SP; veja vídeo

Vídeo que circula nas redes sociais nesta terça-feira (30)...

para lembrar

Cotas raciais no Brasil ganham apelo Internacional

Por: Marcos Romão, MamaPress o Julgamento das cotas no STF...

O horror na PM paulista não são casos isolados

É preciso ir além do horror estomacal que qualquer...

Entidades protestam contra ordem racista da PM em Campinas

  Reginaldo Cruz, Campinas (SP) Com a palavra de ordem “sou negro,...
spot_imgspot_img

Luciana Barreto denuncia ataques racistas em delegacia especializada

A jornalista Luciana Barreto, apresentadora do telejornal Repórter Brasil Tarde, da TV Brasil, denunciou à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi)...

Arquiteto negro 1º colocado geral no BNDES defende cota em concursos

O arquiteto Tiago Coutinho da Silva foi surpreendido no último dia 21 de março enquanto assistia à cerimônia de lançamento do edital do Banco Nacional de Desenvolvimento...

Democracia é incompatível com o racismo

O fortalecimento do sistema democrático implica necessariamente na representação e na defesa dos interesses do povo. Com base nessa premissa, a conclusão de que democracia e racismo são...
-+=