Meu sonho é ver uma mulher negra presidente do STF

Depois de 78 anos da sua fundação, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) anunciou a primeira mulher negra ministra do órgão: Edilene Lôbo, natural de Taiobeiras, cidadezinha do norte de Minas Gerais.

A advogada foi escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ser ministra substituta do tribunal. Doutora em direito processual pela PUC-Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) e mestra em direito pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Edilene é uma pesquisadora renomada, com estudos abrangendo temas como inclusão e direitos humanos, entre outros.

A notícia da nomeação de Edilene precisa ser comemorada. Ainda que muito tímida, a presença de uma mulher negra no Tribunal Supremo Eleitoral no exato momento em que a casa decidia pela inegibilidade de Jair Bolsonaro representou uma virada num jogo de cartas marcadas, do qual pessoas negras nunca puderam participar.

O racismo é o principal motivo pela ausência de mulheres negras nas cadeiras de poder pelo país. Duvida? Faça o exercício de pensar o cenário contrário: por 78 anos, só mulheres negras ocuparam as cadeiras do TSE. Em 2023, o primeiro homem branco é nomeado como ministro. Não parece ter algo errado?

Enfrentamos uma série de barreiras históricas, sociais e estruturais que dificultam a participação ativa na política. A discriminação racial e de gênero, aliada à falta de acesso à educação de qualidade, recursos financeiros e apoio político, contribuem para essa sub-representação.

Sonho alto: quero ver uma mulher negra presidente do Supremo Tribunal Federal. Também quero ver uma mulher negra presidente do Brasil. Pois sem a participação delas, não é possível a construção de uma sociedade justa, igualitária e democrática.

Será que meu sonho vai se realizar?

É necessário que haja um compromisso real por parte dos partidos políticos e da sociedade em geral para promover a inclusão e valorizar a presença das mulheres negras nos espaços de poder. Isso implica em criar mecanismos de apoio, incentivar a participação política desde a base, investir em formação e capacitação política e garantir que as vozes das mulheres negras sejam ouvidas e respeitadas.

É necessária a nossa luta pela ampliação desses espaços, para que as decisões políticas reflitam a diversidade e a realidade de todas as brasileiras, independentemente de sua cor de pele e para que possamos comemorar semanalmente a ascensão de Anieles, Beneditas, Margaretes, Marinas, Vilmas e Edilenes.

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