Mídia e o Estado: o jovem negro não é troféu para expor à sociedade!

A escolha das nomenclaturas, das manchetes e a abordagem das informações transmitidas transformam, aos olhos dos leitores, os jovens das comunidades em um grupo perigoso

Por JEFFERSON LIMA no Brasil 247

A forma como a mídia brasileira, os jornais e revistas, as emissoras de rádio e TV retratam o jovem no Brasil, em especial o jovem pobre e negro, é escandaloso e desumano. É fato que a mídia provoca comportamentos, influencia atitudes e cria ideologias.

Para piorar o atual cenário, a grande mídia hoje no Brasil costuma auxiliar diariamente na criminalização dos jovens negros de periferia. Podemos perceber que em cada estado do país há programas sangrentos nas grades das emissoras de rádio e TV, que têm como cenário único a periferia e apresentam sempre os mesmos vilões: os jovens negros. A situação piora quando há uma falta de aparelhos que permitam a manifestação cultural dos grupos que existem dentro das cidades, a exemplo de centro de cultura, anfiteatro, quadra poliesportiva e um centro de mídia. Apesar da péssima infraestrutura dessas comunidades, uma grande parcela dos jovens desses locais têm acesso a aparelhos eletrônicos, como tablets, smartphone, pages, notebooks etc. Além de utilizarem as redes sociais, a utilização desses meios para outros fins poderia ser o contraponto para combater essa mídia racista e sangrenta, que marginaliza as comunidades.

A escolha das nomenclaturas, das manchetes e a abordagem das informações transmitidas transformam, aos olhos dos leitores, os jovens das comunidades em um grupo perigoso. Assim caem sobre eles, com a ajuda e o olhar complacente da mídia empresarial, os batalhões de choque e os caveirões aplaudidos pela influência da criminalização midiática.

Hoje falta o empoderamento dos jovens das comunidades para que possam mobilizar e contar suas histórias, noticiar seus locais a partir de sua ótica, de sua vivência real. Para isso acontecer, é preciso que o governo deixe de investir exclusivamente nas mídias tradicionais, sensacionalistas e comece a olhar para um outro horizonte. O horizonte das mídias livres e alternativas do país. Existem hoje diversos exemplos de grupos de jovens que vem fazendo trabalho com mídia alternativa em suas comunidades, como a Mídia Periférica, Favela Potente, Nordeste Eu Sou e Voz das Comunidades, entre outros, que atuam e tem redes pelo Brasil inteiro. São jovens com grande potencial em diversas áreas e que estão descontentes com a maneira que a mídia os retrata, em grande parte, como marginais e delinquentes, reforçando a ideia de que todo jovem negro é suspeito.

O jovem negro quer viver, não quer ser mais exposto como mercadoria da grande mídia e do estado brasileiro como troféu, ou prestação de conta para a sociedade. Precisamos escancarar os debates e desmistificar os preconceitos e os preconceituosos. No Brasil ainda se criminaliza um ser humano pelo simples fato dele nascer pobre, negro e na periferia, como se a responsabilidade do fruto da desigualdade não fosse do Estado.

É necessário e urgente avançar na regulamentação imediata da mídia. Os canais de cidadania devem ser efetivados e que os centros de mídia popular também entrem na pauta federal. É preciso empoderar os jovens de periferia, os levando a usar os seus instrumentos tecnológicos em prol da defesa de sua comunidade e combate a mídia hegemônica. Combater as ideias falsas veiculadas diariamente pelos jornais da classe dominante é um imperativo para todos os cidadãos que acreditam no papel social da comunicação, que valoriza os seres humanos e não aceita o preconceito e discriminação.

Acreditamos que o novo Ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, será um grande aliado das mídias alternativas-independentes e irá valorizar o diálogo com a diversidade da juventude. Defendemos que o ministério das comunicações e todo governo federal estabeleça uma maior aproximação junto aos núcleos de comunicação independente. É bom deixar claro uma coisa: os jovens têm muitos padrinhos que querem falam por eles, porém querem falar por eles mesmos. Querem estar nos espaços de diálogo, querem falar o que pensam. Os jovens de periferia querem contribuir na democratização da comunicação de maneira prática, ajudando no debate e na construção desse avanço no Brasil.

Uma sociedade democrática, justa e humanitária pressupõe o respeito a todas as pessoas e a garantia de direitos, independente de sexo, cor, idade, condições físicas, socioeconômica e orientação sexual. Esta é uma disposição da nossa Constituição Brasileira.

Com Enderson Araújo, diretor executivo do Mídia Periférica

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